Marcos Veras bate um papo exclusivo com o site HT e decreta: “Ofender e atacar o mais fraco não é humor”


Estreando em novelas no papel do chef Norberto, em “Babilônia”, o ator e comediante fala sobre seus mil e um projetos e aborda os limites da piada

O ator, comediante, autor e apresentador Marcos Veras é um daqueles caras que a gente quer ser amigo logo de cara. Divertido, leve e sem frescuras, ele só quer levar sua arte para o maior número de pessoas, fazer o povo se divertir e –  por que não? – pensar sobre as questões que ele aborda, seja na TV, nos palcos ou na internet. Além de participar do “Encontro com Fátima Bernardes” nas manhãs globais ao vivo, de rodar filme atrás de filme, de escrever o roteiro de um próximo longa e de viajar com a peça “Falando a Veras”, ele agora também é astro de novela.

E sua estreia não foi em qualquer horário, não. Marcos dá vida ao chef de cozinha Norberto na trama das 9, “Babilônia”, escrita por Gilberto Braga, João Ximenes Braga e Ricardo Linhares. No meio desse furacão que está a sua vida, Marcos ainda abriu, gentilmente, uma brecha na agenda para trocar uma ideia com o site HT sobre um monte de questões. Vem com a gente:

Marcos Veras: o nome da vez no mundo do humor conversa com a gente (Foto: Jorge Bispo)

Marcos Veras: o nome da vez no mundo do humor conversa com a gente (Foto: Jorge Bispo)

HT: Muitos devem perguntar: como é virar ator de novela depois de uma carreira de humor, certo? Mas por que você acha que ainda hoje as pessoas separam os atores que fazem comédia de atores dramáticos. Não é tudo a mesma arte?

MV: No Brasil ainda é difícil aceitar o artista que faz muitas atividades. Que apresenta programa, faz comédia, drama, tv, rádio, internet, quando, na verdade, o grande barato da profissão é esse. Ser muitos, ser múltiplo. Isso é o que me move na profissão. Ser versátil é o que busco todos os dias, a cada trabalho. Vejo muitos comentários na internet depois que comecei a fazer a novela de gente surpresa dizendo. “Ih, olha o Veras dando uma de ator”. É engraçado isso, mas entendo, porque o público me vê todo dia no Encontro como apresentador, como comediante, e quando me vê em uma novela pode achar diferente. Mas estou aí pra isso, para inverter a expectativa, surpreender. Antes de tudo sou ator e ponto. E como ator posso fazer drama, comédia, apresentar programa etc.

HT: Esse movimento dos autores de incluírem nomes da comédia na dramaturgia vem sendo recorrente. Aconteceu com Maria Clara Gueiros, Tatá Werneck, Mônica Iozzi e, agora, com você. É mais difícil para o profissional da comédia adentrar nesse espaço? Cria-se um certo preconceito? 

MV:Acho que o comediante acima de tudo é ator. Não vejo e não sinto preconceito por isso, nem da parte do público e nem dos colegas. O comediante tem um leque muito grande de opções para interpretar. Ele chega no drama muitas vezes com facilidade. E o humor é sempre bem-vindo nos folhetins. Serve como respiro para a trama principal.

HT: Como é interpretar um chef de cozinha? Você cozinha em casa, fez laboratório? 

MV: Eu não sou um expert em cozinha. Nunca fui. Por falta de tempo e interesse. Mas, a partir do personagem, me encantei com o universo e já olho para minha cozinha de maneira diferente. Já faço um bom churrasco, por exemplo. Já corto uma fruta, um limão da maneira correta. A gastronomia é muito charmosa. Eu fiz laboratório com o chef Ricardo Lapayere e Thiago Flores no restaurante Paris Bistrô da Casa Julieta de Serpa e também de confeitaria na Boulangerie Guerin, já que o Norberto tem como especialidade os doces.

Marcos Veras em cena de Babilônia ao lado de Gabriel Braga Nunes (Foto: Divulgação/Tv Globo)

Marcos Veras em cena de Babilônia ao lado de Gabriel Braga Nunes (Foto: Divulgação/Tv Globo)

HT: No “Encontro” você faz as vezes de apresentador, solta uma piada aqui e acolá, mas assume uma função nova. Qual o grande desafio para você nas manhãs? O ao vivo é um inimigo ou aliado?

MV: No “Encontro” faço de tudo. Já fiz link ao vivo na rua, matéria, dinâmica de palco, notícias, esquetes, tudo que você possa imaginar. Hoje estou somente no palco mesclando tudo que já fiz. É um programa difícil de fazer, porque é diário e ao vivo, mas, ao mesmo tempo, é fácil, porque contamos com uma equipe muito competente. O “Encontro” obriga a deixar a criatividade sempre aguçada, me deu muita experiência. Aprendo todos os dias com os anônimos, com os famosos que vão ao programa, com as boas histórias contadas. Fazer humor de manhã é desafiador, mas eu curto. Mesmo quando apresento o programa nas férias da Fátima e preciso tratar de algo sério tento sempre levar o humor comigo para dar leveza aos assuntos. E Fátima dá toda liberdade de criação.

Marcos Veras e Fátima Bernardes nos bastidores do Encontro (Foto: Divulgação/TV Globo)

Marcos Veras e Fátima Bernardes nos bastidores do Encontro (Foto: Divulgação/TV Globo)

HT: Você saiu do “Porta dos Fundos”, mas continua com o seu espetáculo “Falando a Veras”. Ele roda o Brasil há seis anos. Como se dá a atualização do texto, para continuar atraindo público?

MV: Costumo dizer que estou de licença do “Porta”. Dei um tempo e não estou gravando por conta da novela e porque eles agora estão na Fox, que é concorrente da Globo e, mesmo assim, minhas esquetes de dois anos anteriores são reprisadas na Fox. Vou fazer o filme do grupo que será rodado esse ano. O “Falando a Veras” é um divisor de águas na minha carreira. Me deu independência artística, já faço desde 2008, e sempre com uma receptividade incrível. Como o texto é meu, eu sempre atualizo uma coisa ou outra, mas a base é a mesma. Falo de carreira, casamento, TV, música. Foi por ele que fui parar na TV, por exemplo. É minha terapia.

HT: Diferentemente de outros humoristas, seu nome não está envolvido com piadas polêmicas, daquelas que nos fazem refletir “qual o limite do humor?” Seria por que você tem um filtro interno? Com o que não se faz graça?

MV: É uma característica minha não gostar de confusão, mas, ao mesmo tempo, como comediante é difícil você não falar de assuntos que muitos não vão gostar. O papel do humor é esse. Levantar questões, colocar o dedo na ferida. É pena que alguns caretas não entendem isso e querem processar, xingar. Para mim, humor não tem limite, mas o que é humor tem. Ofender e atacar o mais fraco não é humor. Você pode fazer humor com tudo, mas na TV é uma coisa, no teatro é outra e, na sua casa, é outra.

HT: Qual o próximo passo que quer dar na sua carreira? 

MV:Quero continuar fazendo vários trabalhos ao mesmo tempo até quando der. Claro que em algum momento é bom parar um pouco, descansar ou fazer algo de cada vez. Mas, por enquanto, estou administrando bem. Tenho planos para TV, teatro e cinema e quero cumpri-los nos próximos anos. Agora, em abril, estreio o longa “Entre Abelhas” e, em setembro, o filme “O Troco”. Em novembro filmo “Restô”, do André Pelenz. Ano que vem devo rodar meu filme, que estou escrevendo. Estou muito feliz com a novela e adorando fazer. Por que não continuar fazendo novela? Gostaria sim. Quem sabe um vilão na próxima?