*Com Bell Magalhães
Para fechar o ciclo de conversas, o Teatro Claro Rio, em Copacabana, apresentou a segunda temporada do projeto ‘Novos Caminhos’, gravado no palco do teatro e transmitido ao público pelo canal no YouTube do teatro e para os assinantes da Claro TV no canal 500. No último encontro, Fabiana Karla e Marcelo Serrado conversaram sobre as ‘Conquistas de Felicidade’, tema do programa. Durante três dias, o apresentador Frederico Reder mediou conversas com artistas com o objetivo inspirar e realizar uma reflexão sobre novos caminhos. As doações feitas durante a live e a renda foram revertidas em prol do Retiro dos Artistas.
Marcelo Serrado e Fabiana Karla discutiram sobre as ‘Conquistas da Felicidade’ no programa ‘Novos Caminho’, do Teatro Claro Rio (Reprodução/Divulgação)
Fabiana Karla se apresentou cantando a famosa ‘O Amor e o Poder’, da cantora Rosana Fiengo. Ao entrar no palco, falou com Frederico sobre como aquele espaço evocava os sentimentos de estar em uma peça em tempos pré-pandemia e sobre as dificuldades que a cultura enfrenta ao longo de um ano e meio por conta da Covid-19. “Poder estar aqui após receber esse convite é lindo pois estamos em meio a um momento tão difícil para as artes. Enquanto estou aqui, no palco, lembro dos burburinhos da plateia e dos espetáculos. Me deu um afago muito grande estar aqui de novo”. Serrado, que apresentou ‘Garçom’, do saudoso Reginaldo Rossi, partilhou o saudosismo da amiga e contou da sua primeira experiência no Teatro Claro Rio, quando ainda levava o nome da atriz e produtora Tereza Rachel: “Estar com a Fabiana e voltar para esse teatro me dá uma emoção muito grande. Foi aqui que comecei a minha carreira enquanto ator. A minha primeira peça profissional foi dirigida pela própria Tereza e eu só tinha uma fala. Mesmo assim, ela me mandava refazer e mudar o tom repetidas vezes. Pensei, ‘o que posso errar em uma frase?’ (risos), mas foi a melhor experiência que eu pude ter”, contou o ator.
“Enquanto estou aqui, no palco, lembro dos burburinhos da plateia e dos espetáculos. Me deu um afago muito grande estar aqui de novo” (Reprodução Instagram)
No ano passado, enquanto as artes cênicas estavam se adaptando a um formato que permitisse que o espectador pudesse a presenciar de casa, Marcelo encenou a peça ‘Vilões de Shakespeare’, do inglês Steven Berkoff. O espetáculo foi apresentado pelo projeto Palco Instituto Unimed-BH em Casa, em parceria com o Teatro Claro Rio. “Para as pessoas que não têm a oportunidade de ir até o teatro, a possibilidade de ver uma peça virtualmente é maravilhoso. É muito bom poder nos conectar com o público, principalmente em um contexto de pandemia”, disse. Ao ser perguntado por Frederico sobre como lidava com o turbilhão de notícias que chegavam sobre o Covid-19 e outros assuntos trágicos, o ator compartilhou uma experiência pessoal traumática que viveu no início do isolamento social. Na ocasião, Marcelo diz ter ficado com psicológico abalado por conta da quantidade de informações que recebia: “Tive crises de ansiedade e pânico e sinto que foi por conta das notícias que estava acompanhando desde o começo da pandemia. Quase sucumbi”, disse, no que continuou: “Esse tipo de desordem mental não é algo que a gente escolhe, mas uma escolha que fiz foi a de feliz. Levantei da cama um dia e vi que tinham várias pessoas que estavam passando pelo mesmo que eu e fiz disso um incentivo mútuo”, desabafou.
“Tive crises de ansiedade e pânico e sinto que foi por conta das notícias que estava acompanhando desde o começo da pandemia. Quase sucumbi” (Divulgação)
Ainda em um papo íntimo sobre os caminhos da felicidade, a atriz de ‘Lucicreide Vai pra Marte’, no qual assinou a produção que foi dirigida por Rodrigo César, disse que tem usado a conversa consigo mesma como uma ferramenta para entender a si e as próprias prioridades durante o tempo afastada dos palcos. Além disso, Fabiana fez um alerta sobre doenças mentais: “Sempre me senti um fio desencapado e a arte era o meu plug. Quando saí do ambiente da televisão e do teatro e comecei a me gravar e me maquiar sozinha, comecei a buscar a meditação. As doenças mentais estão aí e as pessoas não sabem lidar com isso. Também recorri a terapeutas e fiquei com os meus bichos. Sinto que eles transmutam a minha energia e me afastam de pensamentos ruins e consigo voltar para a minha essência real”.
“Quando saí do ambiente da televisão e do teatro e comecei a me gravar e me maquiar sozinha, comecei a buscar a meditação” (Reprodução Instagram)
O apresentador lembrou sobre a conta de Fabiana no Tik Tok, rede social famosa entre os jovens, principalmente por suas dancinhas e desafios, comumente chamados pela sua tradução em inglês, os ‘challenges’. “Nós entramos nessas redes para poder arrumar novos jeitos de nos conectar com as pessoas. Somos de outras gerações e nós criticamos as novidades, mas acho que é uma nova linguagem e um novo caminho, e o melhor, estou me divertindo. Apesar do leilão de seguidores, tem um lado das pessoas que prezam pelo conteúdo do artista e temos sobrevivido por causa disso”. Contudo, a atriz disse que não entende a onda de ódio e cancelamento nas redes, e sente que fica acuada em alguns momentos quando vê colegas sofrendo ataques em massa na web: “Hoje, não sei para quem eu estou falando. As pessoas parecem que estão muito nervosas. Temos que tomar cuidado com as pessoas que estão adoecendo mentalmente. Parar de seguir as pessoas que não fazem bem e olhar para aquelas que vão somar alguma coisa”.
“As pessoas parecem que estão muito nervosas. Temos que tomar cuidado com as pessoas que estão adoecendo mentalmente” (Reprodução Instagram)
Ao final do encontro, dois grandes nomes do humor, assim como os convidados, foram lembrados saudosamente: Paulo Gustavo, que faleceu neste mês vítima das complicações causadas pelo coronavírus e contribuiu imensamente com seus personagens, criando uma nova era do humor nascido no teatro; e Domingos Montagner, falecido em 2016, e que, assim como Frederico, era um profissional da arte circense. Domingos iniciou o estudo no Circo Escola Picadeiro, em 1989, e de 2003 até o dia de seu falecimento, liderou com mais nove artistas o Circo Zanni, que buscava um resgate da cultura do circo itinerante. “Paulo foi um grito para mostrar a negligência que estamos vivendo”, disse Fabiana Karla, no que Frederico completou: “O Paulo conquistou o sucesso no teatro. Ele não precisou de emissora para tal. Sobre o Domingos, ele foi um grande ator e tinha um trabalho lindo enquanto palhaço. Quando você for xingar alguém de palhaço, saiba que é um elogio”, concluiu.
“Esse tipo de desordem mental não é algo que a gente escolhe, mas uma escolha que fiz foi a de feliz” (Reprodução Instagram)
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