*por Vítor Antunes
Perto de completar 31 anos do fim de sua exibição, “De Corpo e Alma” é uma novela de sensível lembrança. Marcada pelo assassinato da atriz Daniella Perez (1970-1992), que interpretava a personagem Yasmin – na qual a trama tinha quatro meses no ar -, a novela de Gloria Perez, mãe de Daniella nunca foi reprisada em nenhuma plataforma nacional, ainda que tenha tido algumas reexibições fora do país. No elenco constava não apenas a atriz falecida, mas o seu algoz, o ex-ator Guilherme de Pádua (1968-2022). Em razão da violência que atravessou a novela, uma dúvida persistiu na cabeça dos fãs: Será que a trama entrará no Globoplay? Segundo a plataforma, não procede a afirmativa de que a novela não fará parte do catálogo. Ou seja, ainda que não haja data definida, a novela entrará na plataforma. Será a chance do noveleiro mais assíduo conhecer a trama, que já tinha muito do universo gloriapereziano: samba, subúrbio, amores impossíveis e fortes temas centrais, como a doação de órgãos e a troca de bebês na maternidade. A novela também apresentou ao público geral o “Clube das Mulheres“, espaço onde elas podiam ver homens fazendo striptease, algo incomum até então.
“De Corpo e Alma” foi atravessada por um triste evento. No dia 28 de dezembro de 1992, Daniella Perez, filha da autora Gloria Perez, foi alvo de uma emboscada de seu colega de elenco Guilherme de Pádua, em cumplicidade com sua então esposa, Paula Thomaz. O caso emocionou o Brasil e até hoje ainda repercute. Em 2022 foi produzido o documentário “Pacto Brutal“, no qual o caso era revisitado 30 anos depois do ocorrido. Gloria Perez lutou em favor de transformar crimes dessa natureza como hediondos, e conseguiu, em 1996. E, segundo consta, escreveu a novela “O Clone“, como forma de homenagear a filha, como se pudesse trazê-la de volta, através dessa ferramenta. É Juca de Oliveira, que interpretou Albieri, quem conta este dado, em depoimento ao Memória Globo.
PROIBIDA?
Outras razões para as quais a novela costuma entrar no rol das vetadas diz respeito aos seus bastidores turbulentos – alguns numa referência direta ao ocorrido com Daniella. Tarcísio Meira (1935-2021) não queria continuar na novela. Segundo ele próprio chegou a declarar, a seu ver não fazia sentido que o folhetim continuasse sendo transmitido ante ao clima dolorido que a circundava. Fora isso, Betty Faria namorou com um dos atores da trama, Maurício Branco, o que também gerou grande discussão na época em razão de Betty ser muitos anos mais velha que ele e, na novela, ele viver seu filho. Outro assunto que também gerou controvérsia foi a abordagem acerca da questão gótica. Eri Johnson vivia Reginaldo e os góticos reais o problematizavam. Porém, Reginaldo fez tanto sucesso que acabou, inclusive, estampando a capa da trilha sonora internacional da novela. A Revista Manchete, para explicar sobre o que era a “tribo” de Reginaldo, trouxe o seguinte título em uma matéria: “A senhora gostaria de ter um filho gótico?”
Para Gloria Perez, por motivos óbvios, a novela também foi desafiadora. Além de perder a filha, na vida pessoal, na demanda profissional, ela acabou precisando lidar com a perda de dois personagens – Bira, vivido por Pádua, e Yasmin, de Daniella. Imediatamente após a morte da filha, coube a Gilberto Braga (1945-2021) e Leonor Bassères (1926-2004) escreverem a trama até que Glória pudesse voltar. A autora voltou à escrita e, com valentia, foi até o fim, em março de 1993. Tendo que lidar com a pressão do crime, da mídia e sua sede pela justiça para a prisão dos assassinos.
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