Manuela do Monte faz balanço de 20 anos de carreira, anuncia projetos e aponta novos caminhos após saída da Record


A atriz se despediu da emissora após sete anos em grande estilo, já que a trama saiu da grade com bom saldo de audiência para o horário. “O lado B do ofício, está muito em se reinventar após o término dos trabalhos, que exigem de nós mergulhos profundos. Então, na sequência é sempre um encontro com um certo vazio”, pontua. Ano que vem estreará na série ‘Condor’, em que fez uma participação especial, gravada em Belém do Pará e veiculada pela TV Cultura, TV Brasil e outros canais públicos da EBC, e no longa ‘Eu, Nirvana’, ambos do mesmo diretor, Roger Elarrat. Trabalhos com enredos distintos, mas que abordam dramas humanos e memórias afetivas, liberdade, sonhos, raízes, com delicadeza

*Por Brunna Condini

No ar até a última sexta-feira (17), na novela ‘Reis‘ da Record, Manuela do Monte se despediu da emissora após sete anos em grande estilo, já que a trama saiu da grade com bom saldo de audiência para o horário. “Meu contrato terminou no início do segundo semestre, quando terminamos as gravações. Finalizamos a relação com um clima de até logo. Pretendo me dedicar mais aos projetos independentes, que antes ficavam aguardando as brechas da minha agenda na TV, e também quero voltar aos palcos”, conta.

Para a atriz que estreou na Globo em ‘A casa das sete mulheres‘, aos 18 anos, e logo depois protagonizou ‘Malhação’ (2003), as novelas bíblicas não são folhetins de nicho, pois lidam com temas universais. Manuela atuou em três tramas do tipo na Record. “Nestas novelas representamos personagens que fazem parte da nossa cultura ocidental e ecoam no imaginário de todos. Encarnei mulheres que poderiam fazer parte de qualquer tempo, em diferentes contextos”. afirma.

Sem revelar ser adepta de uma religião específica, Manuela acrescenta: “A minha crença é que precisamos encontrar e dar sentido à vida. E que não somos nada sem o outro. Viver é compartilhar, colaborar. Acredito que a diversidade é o que temos de mais sagrado, saudável nessa existência. Também acredito em uma relação com a espiritualidade independente de qualquer religião”, completa ela, que continua priorizando a busca de significado nos projetos em que se envolve. Tanto, que ano que vem estreará na série ‘Condor’, em que fez uma participação especial, gravada em Belém do Pará e veiculada pela TV Cultura, TV Brasil e outros canais públicos da EBC, e no longa ‘Eu, Nirvana‘, ambos do mesmo diretor, Roger Elarrat. Trabalhos com enredos distintos, mas que abordam dramas humanos e memórias afetivas, liberdade, sonhos, raízes, com delicadeza.

Manuela do Monte fala de novos caminhos após saída da Record (Foto: Marcos Brozzo)

Manuela do Monte fala de novos caminhos após saída da Record (Foto: Marcos Brozzo)

Manuela vem buscando traçar seu caminho com passos firmes, mas com alguma leveza, sem se ocupar das pressões que circundam a competitiva carreira. Depois de começar sua trajetória na TV em duas produções de destaque da Globo, era natural que muitas expectativas fossem criadas sobre os rumos, sobre o que seria sucesso, no entanto a atriz analisa. “Sou de viver o presente, embora eu reflita bastante sobre o futuro. Mas tento sempre não criar expectativas. Aproveitei as oportunidades que chegavam, dando conta do trabalho. De começo, achei que ficaria só três meses no Rio por causa de ‘A casa das sete mulheres’, vivendo esse sonho, e voltaria para casa. Aí pintou ‘Malhação’. Depois, eu havia juntado uma grana que me possibilitou fazer a Casa das Artes de Laranjeiras (CAL) e fui estudar. Acabei interrompendo por causa dos trabalhos que foram surgindo. Foi nesta época que me dei conta que viver da profissão era uma realidade”, recorda.

"Sou de viver o presente, embora eu reflita bastante sobre o futuro. Mas tento sempre não criar expectativas" (Foto: Marcos Brozzo)

“Sou de viver o presente, embora eu reflita bastante sobre o futuro. Mas tento sempre não criar expectativas” (Foto: Marcos Brozzo)

“O melhor é ter a possibilidade de viver de algo que escolhi ainda na adolescência. Foi fruto de paixão, dedicação, inicialmente até sem uma pretensão profissional. Esse outro lado, o lado B do ofício, está muito em se reinventar após o término dos trabalhos, que exigem de nós mergulhos profundos. Então, na sequência é sempre um encontro com um certo vazio”

Essa também é a magia desse trabalho, tem que morrer para germinar – Manuela do Monte

Cirillo Luna e Manuela do Monte: Davi e Hagite em 'Reis" (Divulgação/Record)

Cirillo Luna e Manuela do Monte: Davi e Hagite em ‘Reis” (Divulgação/Record)

Quando o caminho também nos escolhe

As oportunidades surgiam e ela soube ler os sinais, entendendo aos poucos que aqueles eram indícios de que poderia construir um caminho como atriz. “Me interessei pelo teatro desde cedo, com algumas experiências ainda na escola estadual em que estudei, no ensino fundamental em Santa Maria. Aos 13 anos encontrei um curso de iniciação teatral oferecido pela prefeitura da minha cidade e fui fazer. As oportunidades foram acontecendo e me mostrando o quanto eu escolhia esse caminho a cada passo. Depois, como primeiro trabalho, fui protagonizar um filme aos 16 anos, e essa produção, “Manhã transfigurada”, que me levou até a minissérie ‘A Casa das Sete Mulheres’ (quando foi escolhida diretamente pelo diretor Jayme Monjardim). Desde lá, não parei mais”.

Ela faz um balanço de 20 anos de trajetória: “O melhor é ter a possibilidade de viver de algo que escolhi ainda na adolescência. Foi fruto de paixão, dedicação, inicialmente até sem uma pretensão profissional" (Foto: Marcos Brozzo)

Ela faz um balanço de 20 anos de trajetória: “O melhor é ter a possibilidade de viver de algo que escolhi ainda na adolescência. Foi fruto de paixão, dedicação, inicialmente até sem uma pretensão profissional” (Foto: Marcos Brozzo)

E soma ao balanço de duas décadas atuando: “Comecei as gravações de ‘Malhação’ duas semanas após o fim de ‘A Casa das Sete Mulheres’. Eu tinha 18 anos e esses primeiros trabalhos mudaram completamente a dinâmica da minha vida. De lá para cá, passaram 20 anos. Trabalhei nas três maiores emissoras do pais (Globo, Record, SBT). Fiz faculdade de teatro e acabei indo em busca também de projetos mais autorais”.

O lado B do ofício, está muito em se reinventar após o término dos trabalhos, que exigem de nós mergulhos profundos. Então, na sequência é sempre um encontro com um certo vazio – Manuela do Monte

Prestes a completar 38 anos em 7 de dezembro, a gaúcha de Santa Maria (RS), mora em São Paulo, mas diz que a estrada tem sido seu lar ultimamente. “Tenho viajado muito. Esse tem sido um ano de trabalho, autoconhecimento e de expectativa por tudo que virá, dos trabalhos que já fiz, do que chegam no próximo ano. Foram seis temporadas da série ‘Reis’. Também estou em dois projetos no audiovisual. ‘A Moira’, em que divido uma personagem com mais três atrizes, Aline Campos, Juliana Knust e Laíze Camara. Tem também o ‘Ameaça invisível’, projeto que nasceu entre amigos, na pandemia, para tornar o momento menos difícil, e está sendo desenvolvido”.

Mergulhos cada vez mais profundos

No filme ‘Eu, Nirvana’, lançado nos festivais no momento e no qual a atriz faz uma paciente oncológica, ela fala sobre a humanidade à flor da pele da personagem. “Faço uma mulher em uma fase delicada de um tratamento oncológico. Fragilizada, vulnerável e irritada com a vida, com sua condição, com os procedimentos a que está sendo submetida e com o marido que cuida dela com todo amor. Ela era alguém que viveu muito em função do trabalho, da produtividade, e deixou os afetos em segundo plano. E com a doença, não está sabendo como lidar com tudo, com essa situação de dependência. Mas se fortalece em outras mulheres que passam por coisas parecidas, cada uma em uma batalha”, detalha, sobre a produção que promete emocionar.

Carol Oliveira e Manuela do Monte em "Eu, Nirvana" (Divulgação)

Carol Oliveira e Manuela do Monte em “Eu, Nirvana” (Divulgação)

A artista faz um paralelo ainda, com o fato do filme abordar a história de mulheres que passam por transformações após tragédias pessoais. “Nunca travei uma batalha com uma doença, mas sofri perdas irreparáveis. Pessoas amadas, que me constituem inclusive e que hoje vivem em mim. Me fortaleço em suas memórias e neste legado”, diz Manuela, sem querer falar mais sobre o tema por não se sentir preparada.

E observando as ‘tragédias’ nossas de cada dia, ela também pontua, propondo pensar sobre: “Toda a violência contra a mulher é algo que me dá pânico. A irresponsabilidade ambiental, a indústria contribuindo para a devastação, as catástrofes, que desabrigam, matam tanta gente. Essa guerra (entre Israel e o Hamas), com civis desarmados sendo mortos em nome de Deus. Não consigo entender. Para mim é um contrassenso, do que seria a ideia de Deus”.

"Esse tem sido um ano de trabalho, autoconhecimento e de expectativa por tudo que virá" (Foto: Marcos Brozzo)

“Esse tem sido um ano de trabalho, autoconhecimento e de expectativa por tudo que virá” (Foto: Marcos Brozzo)