*Por Brunna Condini
O novo documentário da atriz, diretora, roteirista e produtora Ana Maria Magalhães exibido hoje na première Brasil, na mostra competitiva do Festival do Rio, no Estação NET Gávea, revisita o passado, dialoga com sonhos e dá voz ao presente. Em “Mangueira em 2 tempos”, a cineasta depois de quase 30 anos, revisita amigos de infância, moradores da comunidade, retratados em outro filme seu, “Mangueira do amanhã”, sobre a escola de samba mirim. “ É em dois tempos, porque tem o passado e o presente, e porque tem o funk e o samba. O samba que já é patrimônio cultural, e o funk, que como diz o Ivo Meirelles, que está no filme, um dia vai sofrer a mesma retratação”, diz a cineasta, sobre o projeto que começou a ser idealizado há 10 anos.
“Na primeira produção, há quase três décadas, filmei com eles ainda crianças e hoje encontrei adultos maravilhosos. É um filme de reencontros. As pessoas mostram o que estão fazendo, quais são as perspectivas. E é uma produção toda envolvida em música: o samba, o funk e o jazz. Na verdade, proponho um jazz brasileiro com percussão da Mangueira”, conta. “Ao mesmo tempo, é um filme sobre música e sobre a existência destas pessoas, que são vistas pela sociedade brasileira sem individualidade. Então, dou voz a elas e falam de suas vidas, dos seus destinos”, pontua.
No longa, que conta com depoimentos de Alcione (que participava da “Mangueira do amanhã’, quando os personagens eram crianças), Ivo Meirelles, Carlos Malta, entre outros, que fizeram e fazem parte da trajetória da escola, as histórias dos personagens da vida real, além de revelarem as circunstâncias brutais da vida dos moradores das favelas do Rio de Janeiro, também mostram como seus destinos podem ser surpreendentes. “Eles evidenciam o que é a nossa cultura, a nossa gente. É um filme de amor pela cultura brasileira e pelo seu povo”.
A diretora revela ainda, que, por pouco, não desistiu de viabilizar o projeto. “Foi quando consegui apoio da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, e o Wesley, protagonista do meu filme, foi escolhido mestre de bateria da Mangueira”, recorda. “Quando rodei o primeiro, ele tinha só 12 anos e tocava repique. Fui filmar sua posse como mestre de bateria e ele me disse que entraria na Marquês de Sapucaí em 2019 e “comeria aquele chão”. E foi o que ele fez: foram quatro as notas 10, que a Mangueira não tirava há 18 anos na bateria. Tive essa sorte, do meu protagonista ter sido escolhido mestre de bateria e a Mangueira ter sido campeã. Meu protagonista também é um protagonista do samba hoje”.
Antes do início da sessão, emocionada, Ana Maria falava da importância do projeto. “Darcy Ribeiro disse: a cultura é um pássaro de duas asas, uma erudita e outra popular. Sem as duas asas, o pássaro da cultura não levanta voo. Aqui, a cultura é representada pela Estação Primeira de Mangueira, que todos nós amamos tanto. Esse filme é fruto de uma continuação de outro que fiz quando este rapaz (Wesley) era criança e todo elenco tinha entre 6 e 10 anos. Eles tiveram muita confiança em mim e se entregaram. Cantamos, dançamos, trabalhamos e fizemos um filme que ganhou prêmio. Esse aqui, é uma continuação e como se fosse uma retribuição a toda essa confiança. É um filme de afetos. Essa turma é um pouco a minha turma. Acho mesmo que o amor germina a vida e nós estamos precisando disso. Viva a vida!”
Artigos relacionados