Malvino Salvador critica o ativismo do cancelamento na web e desabafa sobre início da carreira: “Eu não era um bom ator”


O ator está fora das novelas desde 2019, quando viveu Agno em “A Dona do Pedaço”. Depois de fazer a série policial “O Negociador” do Prime Video, entrou num ano sabático a fim de tocar os projetos das suas empresas, uma academia e duas voltadas à estética. Malvino fala sobre o passado e, numa autocrítica, reconhece que era um ator limitado no início da carreira, especialmente após vir das passarelas. Hoje porém, é mais confortável com seu talento e comemora 20 anos como artista. Ele também critica o politicamente correto quando diz que acaba por silenciar pessoas da sua liberdade de expressão. Critica também a politica do cancelamento e a regulamentação das redes sociais. Crê que isso pode abrir um precedente perigoso

*por Vítor Antunes

Reconhecidamente um homem bonito, Malvino Salvador, quando surgiu na TV, teve, sob algum aspecto a beleza se sobrepondo ao talento. Tão logo deixou Manaus, sua cidade natal, começou a trabalhar como modelo, e logo depois fez sua primeira novela. A crítica, por vezes impiedosa, ressaltava o fato de ele ser bonito, diminuindo assim, sua habilidade cênica. Tal como exatamente fazia com os modelos que, como ele, saíam da passarela e iam para a TV. O mega ator aplaudido hoje, no entanto, reconhece: “As críticas foram pertinentes. Eu fui um ator que veio crescendo no trabalho, errei muitas vezes e, na maioria delas, percebia que a crítica estava correta. Eu não era um bom ator. Hoje sou mais bem criticado, tanto na TV como nas peças de teatro. Eu merecia [aquelas críticas]”, analisa hoje com o coração aberto. Neste ano, 2024, o ator comemora os 20 anos de sua estreia na TV.

Quando Malvino deixou sua cidade Natal ele era contador de uma agência bancária, virou modelo e depois entrou para o teatro. De lá, para as novelas. “Cabocla era a volta do Benedito Ruy Barbosa à roteirização das tramas e eu interpretava um dos personagens principais. Ainda sem muita experiência, fazia enquanto aprendia, mas buscava a verdade dos personagens. Creio que, nesses anos todos, hoje sou mais completo que era antes e meus erros hoje diminuíram muito. Sinto mais prazer em me ver e não sou mais tão crítico”.

Muito autêntico, o ator critica aquilo que chama de “ativismo do cancelamento”. Segundo relata, há pessoas que são, inclusive, injustamente canceladas. “Esta é uma coisa horrorosa, por vezes vinculada a empresas que ganham com isso e a movimentos políticos. Isso é muito ruim”, pondera.

Me preocupo com a proibição da liberdade de expressão que pode estar prestes a acontecer no Brasil, a partir da regulamentação das redes sociais. É preciso se ter cuidado com essa regulamentação, ela é perigosa. Pode haver um controle do que é feito [na Web]. Sou contra o preconceito e expressão de preconceitos em qualquer lugar, assim como nas midias sociais e isso tem que ser rechaçado  – Malvino Salvador

Malvino Salvador fala sobre a dificuldade do início de carreira e se sente melhor em seu talento hoje (Foto: Marcio Farias)

EMPREENDEDOR E ATOR

Num ano sabático, o ator está se dedicando à sua academia de jiu-jitsu que mantém junto à sua esposa – e à espera de convites a voltar à arte, ainda que tenha de concilia-la com as suas empresas de estética, a Mais Cabello, a Barbearia Vip e a academia Gracie Kore. Ele, que estreou em 2004 na novela “Cabocla”, fala sobre as saudades da sua terra: “Morando no Rio de Janeiro, sinto falta de um banho de rio, dos passeios nos quais me embrenho nas florestas…  Sinto falta da culinária amazonense, dos peixes como o tambaqui, o matrinxã, o pacu…”. Tanto é apaixonado por sua origem que fez questão de levar seus filhos para conhecer os hotéis de selva, as comunidades ribeirnhas, o Festival de Parintins. “Faço questão que todos estejam próximos. Prezo muito pela minha família”.

Malvino lamenta, contudo, que o Rio de Janeiro e os centros urbanos sejam tão mal informados sobre a Região Norte. “Manaus é a porta de entrada para a Amazônia, onde se pode conhecer a floresta à fundo. Muitos estrangeiros acabam indo para lá, e têm mais acesso e divulgação àquela área do que os brasileiros. Que se pese, também, o preço das passagens. Os voos são caros. Um voo Rio-Manaus direto leva cinco horas e o valor da passagem é alto, equivalente ao de uma viagem para Miami”, compara.

Malvino Salvador: “Ir para Manaus é equivalente ao preço de uma passagem para Miami” (Foto: Marcio Farias)

O mais recente trabalho de Malvino foi a série “O Negociador“, mais um protagonista. Como lidar com os desafios de (não) cair no estereótipo dos mocinhos românticos e especialmente numa série como aquela, de vigor e suspense policial: “Gosto do processo de construção vinculado ao processo de criação, do conjunto. De conversar com o autor e o diretor, também na forma de conduzir o personagem. Trabalho muito pela intuição e sou de entender o personagem e seus contornos. Numa novela, a aposta pode mudar no meio do caminho quando a coisa não dá certo. Num filme ou numa série isso tudo já vem fechado, dá para criar uma partitura completa em cima de um enredo. Meu último trabalho, ‘O Negociador‘ foi um ponto de inflexão na minha carreira. Foi uma coisa legal e um sucesso. Aguardo a segunda temporada”, aponta.

Eu sempre penso em como trazer a todos os personagens, a verdade, a sinceridade, e isso é a maior busca minha, como ator – Malvino Salvador

Malvino Salvador em Cabocla, 2004 (Foto: Renato Rocha Miranda/Globo)

“ESPERE POR MIM”

Próximo dos 50 anos, Malvino diz querer “chegar aos 100. Esta data, então, é simbólica. É a metade da minha vida. Reconheço que preciso me cuidar e pensar no longo prazo, agir agora. Quero ter uma longeva e saudável, chegar à maturidade sem recalques nem problemas psicológicos, equilibrado e com um corpo saudável. Vejo que preciso me dedicar agora com isso. Não me privo de nada, nem de comer o que gosto, nem do exercício físico. Treino muito e equilibro minha vida entre dedicar-me à familia e amigos, e à recreação. Acho que não há de se perder tempo com as redes sociais. Elas têm um aspecto pernicioso do qual não é possível sair. Me sinto feliz aos 48 anos”. Em nossa conversa, Malvino disse que seus planos para o futuro também constam do sucesso das suas empresas, das oportunidades profissionais e da chegada de uma de suas filhas que morava em Brasília. “Quero ver minhas filhas crescerem”. Talvez por isso, a música que o defina seja o clássico americano, “Stand by me“, que diz que “Quando a luz for a única luz possível que nós poderemos ver, não tenha medo. Espere por mim, por mais longe se esteja. Espere por mim”.

Malvino Salvador está próximo de completar 50 anos (Foto: Márcio Farias)

Fotos Marcio Farias
Styling Samantha Szczerb
Agradecimentos Winsdor Marapendi e OTT