Em setembro deste ano, quando foi alvo de injúrias raciais na internet, a garota do tempo do “Jornal Nacional” Maria Julia Coutinho chorou. E engana-se quem acha que foi por tristeza. “Eu fechei a porta do quarto e chorei abraçada com o meu marido (o publicitário Agostinho Paulo Moura). Um choro por me sentir também acariciada por milhares de pessoas que se solidarizaram”, contou ela à “Revista Claudia” de dezembro. A mãe de Maju, como é carinhosamente chamada pelo editor-chefe e apresentador do telejornal, William Bonner, “se abalou” e “ficou mal”. A própria injuriada, nem tanto. O motivo? Racismo não é novidade na vida de Maju. “Muita gente imaginou que eu estaria chorando pelos corredores (…) Eu já lido com essa questão do preconceito desde que me entendo por gente (…) Fico muito indignada, mas não esmoreço, não perco o ânimo (…) A militância que faço é o meu trabalho, com carinho, dedicação e competência”.
E as lembranças são bem antigas mesmo, por volta dos seis anos, ainda no primário. “Uma garota me encarou para dizer: ‘Você tem tudo preto na vida. Seu cabelo, seu carro, sua casa’. E, olhando para outras crianças, determinou: ‘Não brinquem com ela, porque tudo nela é preto’”, lembrou a jornalista que, também por anos, tentou esconder os traços característicos de sua raça. “Me submeti a um rito para ser aceita: esquentava no fogão um pente de metal e alisava o cabelo. Fora dos pequenos círculos, era difícil assumir a identidade. Precisa coragem para usar o crespo, símbolo de estar à margem”, contou ela que, em 1990, teve um insider: “Vi na capa da revista ‘Raça’ uma negra com ar decidido, de tranças afro, enormes e lindas, e falei: ‘Eu quero isso’. Funcionou como uma permissão para ser eu mesma”.
Maju se encontra neste momento em Paris, capital da França, apurando informações sobre a Conferência do Clima da ONU para o “Jornal Nacional”.
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