* Por Carlos Lima Costa
Diante de todas as dificuldades que existem na carreira de ator é com profundo sentimento de realização e satisfação que Luka Ribeiro celebra seus 25 anos de carreira. “Sou um sobrevivente da minha geração. Muita gente ficou pelo caminho, foi trabalhar em outra profissão. Por isso, faço questão de comemorar essa data, afinal, continuo na ativa, estou sempre trabalhando. Não sou mais ou menos merecedor, acontece. Tive vocação, algum talento, resiliência, lutei e resisti”, pontua.
Ele não esmoreceu nem mesmo diante de situação curiosa que o acompanhou durante boa parte de sua jornada e que o impediu de interpretar alguns personagens. “Somos muito miscigenados no Brasil. Temos uma mistura de raças que dá uma cartela de cores. Eu sou negro com muito orgulho. Mas já ouvi me falarem muitas vezes assim: ‘Você não é negro, é moreno, no máximo mulato’. Isso me prejudicou na carreira. Tiveram personagens negros que eu não podia fazer, porque me diziam que eu não era negro, tipo ‘negro é o Lázaro Ramos, o Rafael Zulu’. Outras vezes, não consegui determinados papéis, porque me falavam que eu não era branco. Então, sou o quê? Mesmo assim, estou aí há 25 anos”, aponta.
Fora essa questão, Luka avalia e diante de tantos casos notórios no Brasil e no mundo, reconhece que o racismo não o atingiu de forma violenta. “Junto do racismo, existe um preconceito social forte no nosso país. Por sorte do destino fui abençoado. Eu morei mais da metade da vida na Ilha do Governador. Mas tive infância, adolescência e início de vida adulta muito confortável, acima da média. Então, as coisas eram veladas, subentendidas. No máximo, percebia um olhar ou outro tipo pensando como que eu estava em determinada escola. Devemos muito aos nossos artistas que abriram caminhos como Chica Xavier, Léa Garcia, Zezé Motta, Milton Gonçalves. Mais recentemente, Lázaro Ramos e Taís Araújo.
Ainda estamos engatinhando, mas pouco a pouco, vamos chegando aonde a gente merece estar com personagens de destaque. Mas realmente é um problema estrutural do país, enxergam o negro como ameaça a algo, isso está enraizado. Que as novas gerações cresçam com outros pensamentos”, espera o ator, filho de pai branco, delegado, que morreu quando ele tinha 12 anos, e de mãe negra, Lady Hilda, uma das mais importantes vedetes do Brasil, que morreu aos 75 anos, em 2014. Graças a um pedido dela feito a Maria Clara Machado (1921 – 2001), dona do Tablado, ele conseguiu entrar para o curso de teatro, cuja vaga era muito disputada na sua juventude.
Diante de tantas reflexões, Luka assegura que vive uma fase de total maturidade. Em abril de 2021, o ator vai completar 50 anos de vida. “Procuro tirar proveito desse envelhecimento. São muitos sonhos e desejos a realizar ainda. Tenho que pensar em estar o melhor possível dentro dessa idade, não criar expectativas, não me cobrar. Tento estar cada vez mais sereno e o melhor possível em cada momento”, explica.
E ressalta que iniciou uma nova fase na profissão, representada pelo personagem Shabaka, o ex-gladiador, que interpretou na novela Jesus, que estreou em 2018, na Record. “Este papel é um corte na carreira. Surgi com aquele lado do garotão. Tive fase de ter um corpo acima da média, gravava sem camisa, de sunga. E, agora, fico na interpretação, no texto, no arco dramático, já com a barba branca. O Shabaka foi um personagem meio sem glamour. E, na história, fiz o pai de uma adulta, a atriz Bárbara Reis”, explica.
Quando foi chamado para gravar Jesus, estava com uns 60% de cabelos brancos recém assumidos e aí decidiram que ele deveria ficar ainda mais grisalho. Luka gostou tanto deste trabalho, que vibra com a reprise da novela Jesus, cuja exibição original terminou em abril de 2019. “Ela é recente, acho que para reprisarem agora levaram em conta o sucesso, o ibope que teve e por estarmos neste momento de quarentena, afinal a trama de Jesus fala de fé, coragem, esperança, superação, enfim, todos os sentimentos de que precisamos neste momento”, acredita.
E prossegue sobre a produção da Record. “Ela também está fazendo um sucesso absurdo na América Latina. Estou com seguidores no mundo todo. Jesus internacionalizou a minha carreira. Tenho orgulho e gratidão por ter feito par romântico com Beth Goulart nessa trama”, frisa Luka, que nos últimos tempos tem feito contratos por obra. “Hoje, pra mim, é melhor assim, pois o mercado está bem efervescente. A Netflix, por exemplo, lança uma coisa atrás da outra”, aponta.
Atualmente, além da novela Jesus, ele também pode ser visto na segunda temporada da série A Divisão, da Globoplay, onde dá vida a um policial corrupto. E está com dois trabalhos inéditos para estrear. Uma série na Warner e outra na Amazon, onde curiosamente também interpreta policiais. “Mas nenhuma dessas três histórias tem a ver com a outra”, assegura.
Luka surgiu na televisão fazendo participações na novela História de Amor e na primeira temporada de Malhação, em 1995. A carreira começou a encorpar no ano seguinte, dando vida a um professor de capoeira, em Chiquititas, no SBT. “Mas o sucesso chegou pra mim, passei a ser conhecido com Meu Bem Querer. Foi um divisor de águas na carreira e na vida. Saí do anonimato do garoto do subúrbio e passei a ser um ator jovem conhecido no Brasil todo”, lembra o folhetim de 1998. Ao longo dos anos esteve em inúmeras novelas de sucesso como Suave Veneno, Cheias de Charme, Flor do Caribe, Sol Nascente e mais recentemente, uma participação no primeiro capítulo de Salve-se Quem Puder.
Em meio a tantos personagens, topou o desafio de estar no reality A Fazenda 8. “Fiquei 84 dias confinado. Uma das maiores loucuras foi ter participado e ter sido finalista em virtude de ter sido uma experiência forte, emocional, física e psicológica”, ressalta ele que foi para a roça uma única vez. No último dia, foi o primeiro a ser eliminado, restando Ana Paula Minerato e Douglas Sampaio, que foi o vitorioso. “Tive a impressão que o público me considerou um vilão light. Não quis prejudicar ninguém, nem busquei o mal das pessoas. Tive personalidade forte, fui estrategista e joguei bastante. Era determinado para eliminar as pessoas. Então, não podiam reclamar do jogo. Seria como reclamar com o Romário, porque ele marcou quatro gols no adversário. A grande essência é você eliminar as outras pessoas sem que pareça que você está fazendo algo para isso”, explica. “E tive postura tranquila, não fui barraqueiro, e durante todo o programa não tomei uma gota de álcool. Lá, a demanda e a oferta era grande, os caras solteiros se jogavam. Eu, com mais de 40 anos, casado, pra mim o mais difícil foi ficar longe da minha família, da minha filha, Valentina”, completa.
A família é outra realização. “Vai parecer clichê, mas é grande alegria estar com ela (a modelo fitness Ane Andrade) há 18 anos. Minha filha tem 12 anos e é uma alegria, então, o sentimento é de gratidão. Elas me trazem alegria e motivação para lutar por essa carreira tão difícil. Trabalhei nas três principais emissoras do país, fui mais longe do que eu imaginava, mas ainda não cheguei aonde quero estar. Realmente, me sinto feliz de ainda estar no mercado”, Ao mesmo tempo, atualmente, muito triste com a pandemia do Covid-19 que assola o mundo. “Este foi um ano de muita insegurança, desgaste e aprendizado. Mas também encaro com gratidão por conseguir chegar no fim do ano com saúde e vida. Isso já é uma grande vitória”, aponta.
Formado em jornalismo, Luka, há dez anos é sócio de agência de ativações digitais. “Eu ligo o mundo corporativo ao atores e influenciadores para que divulguem suas marcas. A agência é responsável também por fazer o Luka entrar no mundo corporativo”, finaliza.
Artigos relacionados