Ludmilla: Lançando doc-reality, cantora conta que quase desistiu por sofrer racismo: “Mas ninguém vai me parar”


A cantora protagoniza o documentário ‘Ludmilla – Rainha da Favela’, na Globoplay, que revisita sua trajetória, com dificuldades e glórias, e celebra suas conquistas. Na produção, Ludmilla comenta a estreia como atriz em ‘Arcanjo Renegado’ e o investimento na carreira internacional. Ela também fala de racismo, dos ataques que sofreu, do apoio familiar, da bissexualidade e da liberdade de amar Brunna Gonçalves. e comemora o seu primeiro Troféu Raça Negra: “Foi tudo muito difícil, como para todos nós e vocês sabem disso. Eu fui a primeira cantora negra da América Latina a bater 1 bilhão de streams, mas eu não quero ser a única. Esse lugar deve ser ocupado por todos nós. Estou muito honrada de receber esse prêmio, porque um dia olharam pra mim e disseram que essa neguinha não ia chegar a lugar nenhum e hoje essa neguinha está indo para casa com esse troféu”

*Por Brunna Condini

No mês da Consciência Negra exaltar a trajetória de talentos inspiradores é preciso. Ludmilla é um deles. Tanto que a cantora, compositora, multi-instrumentista e empresária foi uma das artistas que recebeu o Troféu Raça Negra deste ano. Com apenas 26 anos, ela é representatividade e sabe da importância disso. Ludmilla está com tudo e está prosa. Afinal, sonha com o reconhecimento e em viver da música desde os 16 anos, quando surgiu como MC Beyoncé. E é dentro deste espírito e registrando essa trajetória que os seis episódios do doc-reality Ludmilla – Rainha da Favela estão disponíveis no Globoplay. Na produção, ela compartilha um recorte da sua intimidade com o público e mergulha em sua história, partindo de onde veio, como chegou até aqui e o que pretende conquistar. “Todo dia vou regando meus sonhos e desejo ser uma cantora reconhecida no mundo. Quero crescer tanto que eu nem sei o limite pra mim”, afirma a artista em depoimento à série. “Me sinto orgulhosa por tudo que conquistei, mas minha cabeça está lá na frente. Quase desisti por conta do racismo, dos ataques, mas, do fundo do meu coração, ninguém vai me parar”.

Ludmilla na intimidade: docu-reality 'Ludmilla - Rainha da Favela' disponível no Globoplay, com episódios também sendo transmitidos no Multishow, após o TVZ (Reprodução Instagram)

Ludmilla na intimidade: docu-reality ‘Ludmilla – Rainha da Favela’ disponível no Globoplay, com episódios também sendo transmitidos no Multishow, após o TVZ (Reprodução Instagram)

“Foi tudo muito difícil, como para todos nós e vocês sabem disso. Eu fui a primeira cantora negra da América Latina a bater 1 bilhão de streams, mas eu não quero ser a única. Esse lugar deve ser ocupado por todos nós. Estou muito honrada de receber esse prêmio, porque um dia olharam pra mim e disseram que essa neguinha não ia chegar a lugar nenhum e hoje essa neguinha está indo para casa com o Troféu Raça Negra”, disse na premiação, no último domingo (21).

"Um dia olharam pra mim e disseram que essa neguinha não ia chegar a lugar nenhum e hoje essa neguinha está indo para casa com o Troféu Raça Negra” (Reprodução Instagram)

“Um dia olharam pra mim e disseram que essa neguinha não ia chegar a lugar nenhum e hoje essa neguinha está indo para casa com o Troféu Raça Negra” (Reprodução Instagram)

O funk venceu

A cantora sabe da sua relevância no cenário artístico e não abre mão disso. E não para de se mover além. Ludmilla se desafia e se deixa desafiar. Cantora, compositora, jurada do The Voice+; vencedora do Show dos Famosos 2019, e agora estreia como atriz em um papel escrito especialmente para ela, a policial Diana, na segunda temporada de Arcanjo Renegado, também uma produção Globoplay.

José Júnior, criador do AfroReggae e da série, revelou, em tom de spoiler no doc. da cantora, que ela será vista de forma inédita na história e já entrega que Ludmilla não vai cantar e nem dançar, só interpretar. “Sempre tive o sonho de atuar, fazer uma policial, uma bandidona, enfim esse dia chegou (risos). Já tinha feito algumas participações curtinhas, mas nada que eu precisasse criar, um personagem mesmo. É mais desafio na minha carreira, mas gosto disso. Sair da minha zona de conforto, essa adrenalina, mergulhar de cabeça. Tudo que tenho que fazer, tomo posse da parada. Não entro em nada pra perder, me dedico muito. Vou atrás do meu Oscar (risos)”.

A cantora e Erika Januza são colegas de elenco em 'Arcanjo Renegado', fazendo duas policiais (Reprodução)

A cantora e Erika Januza são colegas de elenco em ‘Arcanjo Renegado’, fazendo duas policiais (Reprodução)

O documentário traz um olhar sobre sua rotina de compromissos e shows, com registros dos bastidores profissionais e familiares. Ludmilla mostra seu intuitivo processo de composição, e também o que rolou por trás do EP e do DVD Numanice – seu trabalho mais recente gravado no Morro da Urca e que conta com participações especiais de Di Propósito, Orochi, Sorriso Maroto, Thiaguinho e Vou Pro Sereno. Além de abrir registros de Rainha da Favela, clipe gravado na Rocinha, hit que batiza o seu projeto audiovisual, em que exalta a trajetória e a luta de mulheres pretas, como ela. “Vim da periferia. Uma bissexual, negra, que veio lá de baixo. Que sempre foi tachada como a ‘funkeirinha’ que não vai chegar a lugar nenhum, que não estava apta a estar em certos lugares. E estou aqui agora, tirando onda. O meu público é da periferia. A galera se sente representada e esperançosa. Fico muito feliz que a minha música alcance vidas, salve pessoas, ilumine caminhos, dê alegria, cause sensações”, afirmou.

"A galera se sente representada e esperançosa. Fico muito feliz que a minha música alcance vidas, salve pessoas, ilumine caminhos, dê alegria, cause sensações” (Divulgação)

“A galera se sente representada e esperançosa. Fico muito feliz que a minha música alcance vidas, salve pessoas, ilumine caminhos, dê alegria, cause sensações” (Divulgação)

Contra o racismo, ganhando o mundo

A série aproxima do público uma Ludmilla, que expõe sua relação com amigos e familiares, como a esposa, Brunna Gonçalves; a mãe, Silvana, a avó, Vilma, e os irmãos Luane e Yuri, e o padrasto e também diretor comercial Renatão.E que celebra o foco em um lado mais internacional da carreira. “Fui ‘cantada’ para carreira internacional há quatro anos, mas não sabia falar inglês, achei que não conseguiria. Mas começaram a me procurar e vi que tinha potencial para ser uma artista internacional também. Cardi B no auge do sucesso, cantando minhas músicas, me procurou. Acabei de fazer um feat com Major Lazer em ‘Pra te machucar’”, lista.

“Está crescendo, a galera vem procurando, querendo fazer feat. Mas não faço só o que está na onda, faço o que acho foda, o que acho que vai agregar na minha arte. Não faço por fazer. E agora vou começar a fazer com outras pessoas que curto”, avisa a artista, que lançou recentemente o seu novo single ‘Socadona‘, em parceria com a americana Mariah Angeliq, o jamaicano Mr. Vegas e Topo La Maskara, com o qual já havia trabalhado no remix de ‘Verdinha’.

Ludmilla e Brunna Gonçalves celebraram o casamento de um ano nas Maldivas e em Dubai (Reprodução Instagram)

Ludmilla e Brunna Gonçalves celebraram o casamento de um ano nas Maldivas e em Dubai (Reprodução Instagram)

Cria de Duque de Caxias, a produção mostra a celebração do sucesso conquistado com muito trabalho em nome do sonho. Inclusive, nas viagens de lua de mel com Brunna nas Maldivas e em Dubai, Ludmilla aparece sempre levando a família junto. “Levo, porque são ótima companhia. Minha mãe é ótima companhia. Ver o sorriso dela, ao lado do marido, a felicidade nestas viagens, toda agradecida. Vale a pena não dormir direito, trabalhar muito”, diz. “Tenho esse lema: quem bebeu suco comigo, vai beber espumante granfina agora também (risos)”.

Um dos pontos altos do documentário é jogar luz sobre a batalha da mulher preta periférica, tocando na questão do racismo e dos preconceitos. A cantora revelou que já pensou em desisitir da carreira durante a trajetória: “Os ataques já passaram de todos os limites, uma perseguição doentia. Não sou julgada por atitudes, mas pela cor da minha pele. Não tem como explicar isso para uma pessoa branca. Quando comecei a cantar fui muito subestimada. Sabia que era muito pelo gênero e pela cor da pele. Depois de sofrer ataques racistas tive um momento que precisei de um tempo para mim, longe daquilo tudo, daquela sujeira. Uma época cansei e deletei minhas redes sociais. Mas nunca mais quero fazer isso, porque deixei os racistas muito felizes”.

'Não sou julgada por atitudes, mas pela cor da minha pele. Não tem como explicar isso para uma pessoa branca" (Divulgação)

‘Não sou julgada por atitudes, mas pela cor da minha pele. Não tem como explicar isso para uma pessoa branca” (Divulgação)

E completou: “Pensei que um dia não precisaria mais ouvir nada daquilo. Ser representatividade, espelho para outras pessoas, faz tudo valer a pena. Esse mundo que a gente vive é um ‘selva de pedra’. Todo dia você acorda e veste uma ‘armadura de ferro’ e vai à luta. Vai voltar arranhado, mas que volte com o troféu. Tem a terapia, meu encontro com Deus, para me fazer levitar e acalmar porque é punk a parada. Muitas vezes cansa, mas nunca mais pensei em desistir. Ludmilla is in the house, caralho! (risos)”.

"Tem a terapia, meu encontro com Deus, para me fazer levitar e acalmar porque é punk a parada. Muitas vezes cansa, mas nunca mais pensei em desistir" (Reprodução Instagram)

“Tem a terapia, meu encontro com Deus, para me fazer levitar e acalmar porque é punk a parada. Muitas vezes cansa, mas nunca mais pensei em desistir” (Reprodução Instagram)