Rasga Coração revive Vianninha e discute ditadura militar: “mais atual do que gostaríamos que fosse”, diz ator João Pedro Zappa


A história é uma adaptação da obra homônima de Vianninha e trata do embate entre gerações e política. Bem atual, não é?

Já imaginou juntar grandes nomes como Marco Ricca, Chay Suede, Luisa Arraes, João Pedro Zappa, Drica Moraes e George Sauma em um único trabalho? Esse é o filme “Rasga Coração” que, com direção de Jorge Furtado, teve sua pré-estreia ontem (5), no Espaço Itaú, em Botafogo. O site HT esteve presente e conversou com o diretor e parte do elenco sobre as expectativas, os personagens e a atualidade do filme, que está em cartaz a partir de hoje.

Os atores Kiko Mascarenhas, Luisa Arraes, João Pedro Zappa e George Sauma na pré-estreia de Rasga Coração. (Foto: Mariana Müller)

O longa é uma adaptação da peça homônima escrita no início dos anos 1970 por Oduvaldo Vianna Filho (1936-1974), o Vianninha. Na época, sob o controle do regime militar, o espetáculo foi censurado e teve a sua encenação e publicação proibidas. Hoje, quase 50 anos depois, a peça tomou a forma de um filme para contar a história de Manguari Pistolão, personagem de Marco Ricca e João Pedro Zappa, durante e depois da ditadura militar.

João dá vida à Manguari ainda na juventude e admitiu que, apesar de estar orgulhoso do seu trabalho, sentiu certa dificuldade no início: “Foi o projeto em que eu fui mais feliz. Só que eu trabalhei muito intensamente no longa Gabriel e a Montanha e precisei ir direto de um festival no Rio Grande do Norte, para as gravações de Rasga Coração, no Rio Grande do Sul. Já tinha estudado o personagem e conversado com o [Marco] Ricca, mas estava apreensivo sem saber como me descolar do Gabriel e mergulhar de vez no Manguari. Quando eu cheguei lá essa questão foi desaparecendo e tudo aconteceu muito naturalmente”. É importante lembrar que em 2017, o ator já havia contracenado com Ricca, em Os Dias Eram Assim, em uma relação paternal. Para João, trabalhar com uma de suas referências gerou uma sintonia perceptível no filme. “Ele é um ator e uma pessoa extremamente sensível, que mesmo sem ter visto as minhas filmagens, absorveu alguma coisa minha e colocou no personagem. Então, acabamos formando uma linearidade. É um dos meus atores preferidos, acho que talvez o preferido mesmo”, afirmou.

Em cena, Chay Suede e Marco Ricca. (Foto: Fábio Rebelo/ Divulgação)

Ainda na primeira parte do filme, podemos observar também o grande trabalho de George Sauma, que dá vida ao melhor amigo de Manguari. Como já é de costume, o ator trouxe uma veia cômica para o longa, mas sem deixar de lado toda a complexidade do personagem. “O lorde bundinha é bem intenso. Ele é um artista, músico, bailarino. Têm algo bem pulsante nele, que vive uma vida livre e cheia de aventuras. Nesse personagem eu consigo também explorar um lugar mais dramático, porque ele tem uma tristeza, uma complexidade de não saber direito o que fazer da vida”, revelou o ator, mantendo o mistério sobre os motivos de seu personagem carregar também o drama.

Já na segunda fase do longa, temos o retorno da parceria entre Luisa Arraes e Chay Suede, que finalizaram recentemente a novela de sucesso “Segundo Sol” dando vida a dois irmãos muito unidos. Dessa vez como namorados, Luca (Chay), que é filho de Manguari Pistolão, é constantemente influenciado por Mil, personagem de Luisa, e a relação do casal trata do embate entre ideias distintas. “Toda a história dela com o Luca fala da maneira de fazer política diferente do pai. Os encontros e desencontros e o que cada um considera importante. Então, o filme trata muito desse choque de gerações, que fazem com que a gente se perca”, explicou. A personagem de Luísa é mais um dos pontos da história, que tenta passar a realidade humana de forma verídica. “Ela, muitas vezes, por querer fazer a coisa certa, erra. Durante o percurso de pessoas querendo agir, são pessoas que acabam também dando com a cara na porta. Se perdem, se encontram e é muito bonito”, completou Luisa.

Apesar de ter sido escrita há quase 50 anos atrás, a obra de Vianninha não poderia ser mais atual. Nesse pós eleições, ainda encontramos famílias e amigos separados por assumirem papéis em polos extremos.  Jorge Furtado, diretor e um dos roteiristas do longa, explicou que o filme aborda exatamente essa divisão: “Estamos em um país rasgado ao meio e o filme fala sobre isso, sobre a separação de uma família. Eles se amam tentam se entender, mas por questões políticas não conseguem”. Para João Zappa, o momento é delicado, mas muito importante para a reflexão: “É muito mais atual do que gostaríamos que fosse. Parece que estamos enfrentando uma contracultura do progresso, uma revolução a favor do retrocesso. É um momento muito difícil para o cinema no país e o filme não fala de qualquer tema. É extremamente pertinente para o que estamos vivendo”. Quase que em sintonia absoluta, talvez fruto do tempo reunidos para as gravações ou do amor em comum pela arte, Luisa concordou com os colegas: “Como diz o George, se a gente tivesse começado a gravar agora, seria oportunismo e há dois anos, seria fora de época. Falar através da arte é muito bonito, porque nos oferece uma outra lente para vermos o momento político tão louco que estamos vivendo”. E finalizou, em tom de brincadeira: “O Brasil não é para amadores”.

Confira o trailer: