‘Abelardo Barbosa está com tudo e não está prosa’
Quem nunca escutou este verso da música de abertura do programa do Chacrinha (1917-1988)? Mesmo depois de 30 anos de seu falecimento, o apresentador continua sendo reverenciado e condecorado por sua inesquecível capacidade de se comunicar com o público. Durante estas três décadas, nenhum apresentador, por mais genial que tenha sido, conseguiu alcançar o status que Chacrinha conseguiu. Ele é uma lenda. E, agora, mais do que nunca, a sua história será eternizada através do filme Chacrinha, o Velho Guerreiro. Nas telonas, o longa funciona como uma homenagem ao eterno herói de nossa gente. A cinebiografia relembra toda a trajetória de Abelardo Barbosa, desde os tempos áureos do rádio até a sua carreira na TV. Com estreia prevista para 8 de novembro, convidados e famosos como Leticia Colin e Regiane Alves foram assistir com exclusividade ao resultado final do projeto. O tapete vermelho rolou no Kinoplex do Shopping Rio Sul, Rio de Janeiro, e contou com a presença integral do elenco protagonizado por Stepan Nercessian, Eduardo Sterblitch e Gianne Albertoni. Vem conferir tudo o que rolou por lá!
Mas por que Chacrinha continua fazendo parte do imaginário popular? O humorista teve a sua ascensão em um dos períodos mais sombrios da nossa história, a época da ditadura. Enquanto concursos de belezas e apresentadores com ternos engomados e falas rebuscadas tomavam o seu espaço na televisão, Chacrinha resolveu nadar contra a maré. As vestes polidas davam lugar para ternos coloridos e repletos de lantejoulas. O politicamente correto ficava guardado em uma gaveta, em programas cheios de piadas de cunho, até mesmo, sexual. Concurso de pulgas e do homem mais feio eram quadros costumeiros. “O Chacrinha passou por muitas adversidades. Enfrentou a ditadura, a censura, a igreja, a psiquiatria, os donos de comunicação e todos os outros poderosos. Ele jogou emprego e sucesso fora, mas nunca abriu mão do caminho que acreditava ser o melhor. Foi fiel aos seus sentimentos e é exatamente por isto que é tão grandioso. Precisamos do Chacrinha o tempo todo e, neste momento, mais ainda”, comentou Stepan Nercessian, que interpreta o lendário no longa.
A fama foi algo que se tornou natural na vida de Chacrinha, porém as consequências foram muito mais severas do que se pode imaginar. Enquanto era o campeão de audiência e amado pelo público, o apresentador construía diversas inimizades. “Ele foi censurado e preso. A elite o odiava, porque ele mostrava o Brasil de verdade. Não tinha aquele lado rebuscado americano, na verdade, entrava usando roupas do carnaval. Ele lançou a música popular brasileira praticamente inteira. Ele botava o cara do povo para cantar no mesmo microfone que o Roberto Carlos. Dava espaço para o Brasil ser ouvido. Fez mudanças sociais. Não tinha religião, etnia, cor e classe social. Todo mundo o amava. Era autêntico como todo nordestino”, informou Eduardo Sterblitch, que também atua como Chacrinha, no entanto, na fase de sua juventude.
As vestes coloridas de Chacrinha e o cabelo branco encaracolado ainda são lembranças sólidas na cabeça de quem viveu aquela época e, até mesmo, dos jovens. No cartaz do filme, esta figura característica se torna ainda mais antológica. No entanto, devido à qualidade da preparação cênica, fica até difícil acreditar que aquela não é de fato uma foto do próprio humorista. Stepan Nercessian é o grande responsável por esta confusão. De acordo com o ator, ele próprio chegou a tomar um susto quando se olhou no espelho pela primeira vez completamente caracterizado. “Eu e todas as pessoas ao meu redor. Ele baixou em mim, mesmo”, relembrou. Com uma atuação memorável e de sucesso de crítica, o ator ficou irreconhecível. “Sempre fui fã do Chacrinha. Estudei bastante as emoções e gestos dele. Procurei não imitar e fui fazendo. Me surpreendeu muito. Nunca imaginei que fosse chegar tão perto. Meu objetivo como ator sempre foi este: sair da frente de forma que as pessoas nem se lembrassem do Stepan”, garantiu.
Eduardo Sterblitch não fica muito para trás também quando o assunto é aprovação da opinião pública. Ele, que interpreta o Abelardo Barbosa em sua juventude, leva o espectador pelo início da carreira de Chacrinha. “Queria entregar um trabalho bacana e fazer jus à atuação do Stepan que, de fato, conseguiu reencarnar o Chacrinha”, comentou Eduardo. De acordo com o próprio ator, este foi um dos trabalhos mais importantes e memoráveis de sua carreira, já que é um fã do apresentador. “Foi um presente absurdo que caiu do céu. Minhas orações budistas deram certo. Joguei para o universo e ele está me respondendo com bons presentes”, garantiu o jovem.
Por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher e neste caso não era diferente. Elke Maravilha (1945-2016) era a fiel escudeira de Chacrinha na televisão. Os dois tinham a mesma parceria na frente a atrás das câmeras, sendo muito amigos. Além do apresentador, ela era a principal figura do programa e, nas telonas, será representada através da atuação de Gianne Albertoni. “Espero que a Elke goste da minha homenagem, onde quer que esteja. Me apaixonei ainda mais por ela. Era linda. Cresci a vendo na TV. Ela era uma mulher muito à frente do seu tempo. Era muito espiritualizada. Não tenho nem palavras para agradecer a honra que foi interpretá-la. Todo mundo vai amar. Tenho certeza”, comemorou a atriz.
O longa estará disponível nos cinemas em todo o país no dia 8 de novembro. “O filme nos faz rir e chorar. Quem viveu aquela época com certeza vai sentir uma nostalgia e os jovens vão aprender uma lição de vida”, comentou Gianne. A trama é para toda a família e nos faz relembrar um Brasil muito próximo da nossa realidade. “Conta um pouco da história do nosso país. É um filme necessário. Chacrinha era um grande comunicador. Imagina ele nos dias de hoje. Ele daria um pouco de humor neste momento tão polarizado”, comentou Marcelo Serrado, que faz uma pequena participação no longa.
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