* Por Carlos Lima Costa
No Brasil e no mundo não faltam exemplos de artistas que, em determinado momento, apesar de todo sucesso, de repente deixaram a carreira de lado apostando em outras prioridades na vida. Mito hollywoodiano, a atriz sueca Greta Garbo (1905-1990) abandonou a carreira aos 35 anos, recusou convites e nunca retornou. No Brasil, Lidia Brondi e Ana Paula Arósio são dois fortes exemplos. E temos o caminho inverso que, após longo distanciamento, retorna. Como Lisandra Souto, que após priorizar a família, retomou a profissão e atuou nas novelas Salve Jorge, Os Dez Mandamentos e Apocalipse. “Eu penso como seria se não tivesse parado. A interrogação sempre vem a cabeça, mas não como um arrependimento e sim como uma curiosidade, vamos dizer assim. Eu imagino que poderia ter sido uma outra história. Por outro lado, ganhei muito em poder estar com meus filhos, isso não tem preço. A maternidade (ela é mãe de Yasmin, 21, e de Yago, 17) sempre me realizou muito”, ressaltou.
Ela até já sonha com uma outra etapa na vida. “Tenho vontade de ser avó. Minha filha namora sério tem mais de dois anos. Claro que ela vai fazer a escolha que quiser. Eu vou estar do lado para apoiar. Tenho um lado bem conservador. Que ela case mesmo e aí a escolha vai ser dela, mas eu ía ficar muito feliz”, assegura. Lisandra não vê a hora da vida voltar ao normal, e que ela possa interpretar um novo personagem na TV. O mais recente trabalho, Apocalipse, foi exibido até junho de 2018. “Com a pandemia estamos parados. Quero continuar sim como atriz, com certeza”, diz ela que na semana passada fotografou com a filha para campanha do Dia das Mães, da loja Mila, de roupas de tricô. A data vai ser festejada no próximo domingo, dia 9. “Ficaram encantados com ela, que realmente está uma boneca, muito bonita. Mas não quer seguir o meu caminho. Está cursando Design, na PUC, e já está trabalhando”, diz. E acrescenta que o filho deve escolher o mercado financeiro. “Ele até jogou vôlei, mas não amava ao ponto. Tem que amar muito, porque é uma carreira que precisa de muita doação.” Os dois são filhos do ex jogador de vôlei Tande, ex marido da atriz.
A campanha foi o único trabalho de Lisandra durante a pandemia. Apesar dos cuidados, ela, os filhos e o marido (o empresário Gustavo Fernandes, de 60 anos) tiveram Covid-19. “Lá no comecinho, tivemos os sintomas. Voltamos a sentir os sintomas em novembro. Dessa vez, confirmamos por exames, que estávamos com a doença. Menos a Yasmin, que testou positivo em fevereiro. Todo mundo teve febre, dor no corpo, mas nada de grave, graças a Deus. Mas, claro, fiquei preocupada, porque é tudo muito novo, a gente não sabe o que de uma hora para outra pode acontecer. Saímos do isolamento somente após testar negativo de novo para não correr o risco de contaminar alguém”, conta.
E prossegue: “Nunca na vida eu poderia imaginar que isso um dia pudesse acontecer. É um triste momento, muitas famílias sendo destruídas. Tenho que agradecer a Deus que aqui todo mundo teve, mas não foi nada grave. A gente vê tantos colegas de trabalho que se foram. Enfim, sou caseira, mas a tristeza é muito grande. É um momento de reflexão. O que podemos tirar disso tudo é saber que a cada dia temos de agradecer a Deus. Não tem como não fazer reflexão e falar ‘meu Deus’. De fato é algo inimaginável tudo que aconteceu. A gente passa a dar valor a cada minutinho. É agradecer e pedir a Deus saúde para todos. Sou bem otimista. Acho que agora com vacinação, a gente vai entrar em uma fase melhor, tudo vai passar e a vida vai ao normal”, torce.
“Meus pais (Vera, 75, e Armando, 79) ficaram depressivos, porque é difícil. Mas bem ou mal, eles tem os dois ali, se completam, ficam jogando cartas, assistem séries, ficam juntinhos. Imagina quem está sozinho em um apartamento?”, reflete. O pai já está imunizado e a mãe falta tomar a segunda dose. “Nesse período, nos falamos mais por telefone. Nos encontramos pouco e sempre fazendo exame antes para ter certeza de que ninguém adquirisse o vírus”, explica ela, que precisa tomar cuidado também com o sogro, de 90 anos.
Os filhos, ela garante, não fazem parte dos jovens que vivem se aglomerando. “Meus filhos são supertranquilos. Yago não bebe, não vai para festa, não gosta de nada disso com ou sem pandemia. Minha filha namora sério há dois anos e pouco, também é bem caseira. Graças a Deus, eles têm cumprido tudo muito direitinho. Tenho uma enteada também e tudo é feito dentro de todas as normas de segurança. Acho que todo mundo tem que fazer a sua parte. Quem pode estar em casa, fica em casa. Entendo também quem não tem condição. Agora, festas não tem a menor necessidade. Se todo mundo fizer a sua parte, encontrando esse equilíbrio entre o isolamento e o trabalho, a gente vai ter um mundinho melhor e conseguir avançar um passinho para que a gente consiga sair desse pesadelo”, avalia ela.
Nos últimos anos em que esteve afastada das novelas, Lisandra chegou a atuar como empresária. Ela foi sócia da Clínica de Dermatologia e Estética Les Peaux. “Não faço mais parte da sociedade, mas é onde me cuido ainda. Estava muito entusiasmada, adoro trabalhar com negócio de beleza, enfim, mas quando voltei às novelas ficava difícil estar ali presente na clínica, estar gravando, sendo que ainda tinha os filhos. Não conseguia me doar 100% do que gostaria. Assim, deixei a sociedade, mas sinto muita saudade, foi uma fase da minha vida que eu amei. Adoro trabalhar com essa área de beleza, me dá muito prazer”, explica ela. Durante pouco mais de cinco anos, até 2015, cuidou da parte administrativa.
Voltando a falar sobre a carreira, Lisandra assegura que não ficou com nenhum arrependimento por ter parado de atuar para cuidar dos filhos. “A vida é feita de fases. Batia saudade, óbvio, mas foi tão bom ter a oportunidade de estar ao lado dos meus filhos quando eram pequenos. Ao meu ver, não existe certo ou errado. Existe aquilo que você está disposta a enfrentar, a fazer o que te dar prazer. Era um desejo meu casar e construir uma família. É claro que meus filhos foram crescendo e exigindo menos de mim e aí a saudade aumentava. Cada um tem direito de fazer suas escolhas e viver aquilo que quer viver”, reforça ela, que ficou cerca de 16 anos afastada da profissão.
Muitas vezes, a retomada é difícil. “Ganhei um presente inesquecível, vou ser eternamente grata a Glória Perez. Acredito que se não fosse por ela ter me dado a oportunidade de voltar, talvez não tivesse nem conseguido, porque as pessoas da minha época, a maioria não estava mais ali presente. Comecei com 9 anos, imagina. Dei um tempo quando casei pela primeira vez e estava com 21. Voltei com 37. Foram muitos anos fora da TV. Gloria me deu um presente que nem ela consegue dimensionar o quanto me fez bem”, assegura Lisandra, que já havia atuado em duas obras da autora: As novelas Carmem (1987/1988), na extinta TV Manchete, e em De Corpo E Alma (1992/1993).
“Fiz muitos trabalhos que as pessoas não vão lembrar, porque eu era criança. Comecei com nove anos, em Tenda dos Milagres (1985), uma minissérie, onde interpretei a filha da personagem da Maria Isabel de Lizandra (1946-2019). Foi muita coincidência, porque meu nome é em homenagem a ela. Minha avó materna, Célia, que está com 93 anos, a adorava, e escolheu o nome. Ela queria que colocasse Maria Isabel de Lizandra, minha mãe achou que era muito grande, aí minha avó falou: ‘Coloca, Lizandra que é a parte mais bonita do nome”, lembra ela, cujos trabalhos mais marcantes foram Meu Bem, Meu Mal (1990/1991) e De Corpo E Alma (1992/1993).
Aos 46 anos, Lisandra afirma ainda que é com tranquilidade que encara a passagem do tempo. “A vida é feita de fases, todas são gostosas. Como falei, espero que meus filhos me deem muitos netos, aí vem a fase de avó. Até no dia em que fiz as fotos com a Yasmin, brinquei: ‘Nossa, eu já tive esse rostinho lindo e maravilhoso da minha filha. Olha agora, a gente fica toda marcada, cheia de rugas’. Que bom, graças a Deus estou vivendo. Tem tanta gente que não teve a oportunidade de chegar na minha idade. Então, é agradecer a Deus cada dia que a gente acorda. E viver as fases da vida com alegria. A vida passa muito rápido. Acho bonito a mulher bem tratada e certamente gosto de me cuidar, mas acho bonito a mulher que mostra que está envelhecendo bem, que se cuida, mas tem rugas. Claro que com a minha idade, eu vou ter ruga. Mas quero estar bem tratada. Cirurgia nunca fiz, mas coloco botox, com cautela, pouquinho, claro, já tenho idade para isso. E não sou contra a cirurgia plástica, a pessoa tem que fazer aquilo que vai fazer ela ficar mais feliz, que vai levantar a autoestima dela e que seja bonito para ela”, conclui.
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