Lipy Adler: idealizador do longa ‘Carnaval’, o também ator conquistou Top 1,2 3 com filmes mais assistidos da Netflix


Para conquistar um espaço no cenário artístico, o ator começou a investir em roteiro e produção e a colheita veio em 2021 com sabor de sucesso. “A versão cinematográfica de O Último Virgem, lançada na Netflix, em janeiro, foi top 3 Brasil, o ‘Socorro, Virei uma Garota’, em março, foi top 2, e ‘Carnaval’, com a humorista Gkay, virou top 1 Brasil, então, eu fiz top 1, 2 e 3 na Netflix este ano. Consegui colocar ‘O Jogo’ na Amazon Prime Brasil, US e UK. E ainda estou escrevendo mais dois filmes”, vibra. Em agosto, estreia nos cinemas Dois Mais Dois, de Marcelo Saback, onde Lipy integra o elenco como ator. Em uma das cenas, seu personagem, que está sozinho, chega em uma festa de suingue, querendo transar com o casal interpretado por Marcelo Serrado, e Carol Castro

Com o longa Carnaval, lançado em junho, Lipy atingiu o Top 1 dos filmes mais vistos da Netflix (Foto: Marcello Krengiel)

Com o longa Carnaval, lançado em junho, Lipy atingiu o Top 1 dos filmes mais vistos da Netflix (Foto: Marcello Krengiel)

* Por Carlos Lima Costa

Para se manter no mercado artístico no qual não conseguia as oportunidades desejadas, Lipy Adler correu atrás para que elas acontecessem. Além de atuar, começou a criar argumentos, escrever roteiros e a produzir os trabalhos. O esforço não foi em vão, afinal já é reconhecido por plataformas de streamings. Lançado no início de junho, seu longa Carnaval, com GKay no elenco, ocupou a posição do filme mais visto na Netflix Brasil e ficou no Top 10 em vários países. “Durante toda a minha carreira fiz poucos testes. Nem sei explicar o motivo. Deve ser um sinal de Deus, porque se eles tivessem surgido, certamente eu não estaria produzindo tanto filme”, frisa ele, que para se encaixar no mercado, em 2007, escreveu e produziu o espetáculo O Último Virgem. “Escrevi um texto para ser protagonista, entre aspas, e assim comecei a quebrar o sistema”, completa.

Agora, vive fase de colheita. “Olha 2021 para mim. A versão cinematográfica de O Último Virgem, lançada na Netflix, em janeiro, foi top 3 Brasil, o Socorro, Virei uma Garota, que fiz apenas como ator, foi top 2, em março, e Carnaval virou top 1 Brasil, então, eu fiz top 1, 2 e 3 na Netflix este ano. Ainda consegui colocar O Jogo na Amazon Prime Brasil, US e UK. E ainda estou escrevendo mais dois filmes”, vibra ele por suas vitórias.

Os ventos começam a soprar a seu favor. Em agosto, estreia nos cinemas Dois Mais Dois, de Marcelo Saback, onde Lipy integra o elenco como ator. Em uma das cenas, seu personagem, que está sozinho, chega em uma festa de suingue, querendo transar com o casal interpretado por Marcelo Serrado, e Carol Castro. O que ele pensa sobre o tema? “Minha ex-namorada é bissexual e a gente invariavelmente ficava com outras mulheres, então, adorei, achei muito legal. A gente não precisa ficar preso a rótulos, a essas crenças limitantes. Em cada relacionamento tem que ser acordado o que pode ou não, o que te magoa ou deixa com ciúmes, como se fosse uma minuta. Cada relação tem as suas regras, as pessoas são diferentes”, aponta.

“Me sinto bem realizado profissionalmente, mas muito mal financeiramente", frisa Lipy (Foto: Carlo Locatelli)

“Me sinto bem realizado profissionalmente, mas muito mal financeiramente”, frisa Lipy (Foto: Carlo Locatelli)

Aos 36 anos e 14 realizando seus projetos, explica a sensação de estar conquistando cada vez mais espaço, tendo uma gigante como a Netflix já investindo em seu trabalho, como aconteceu com Carnaval, onde além de atuar, idealizou e escreveu a história com Leandro Neri, Luisa Mascarenhas e Audemir Leuzinger. O que atrai no filme? “Primeiro, estamos falando de brasilidade e a Bahia é muito rica de cultura, tem a questão da fé que é muito forte e o Carnaval de Salvador é espetacular. Fui lá umas três vezes e não a toa quis escrever sobre essa alegria. O filme fala dessa temática contemporânea, dessa necessidade de você ser aceito pela sociedade através do número de seguidores que você tem. Queria que o público fizesse essa autocrítica e acho que funcionou”, pondera ele sobre o longa que tem no elenco nomes como GKay, Flavia Pavanelli e Giovana Cordeiro.

E segue avaliando as contradições do sucesso. “Me sinto bem realizado profissionalmente, mas muito mal realizado financeiramente. Eu fico orgulhoso dos projetos, mas tem um momento na vida que você tem que optar por aquilo que te dá dignidade para viver. Não adianta lançar projetos e não ganhar dinheiro. Então, acho que ainda estou no meio do percurso. Tenho certeza absoluta que vou ter ainda muitas conquistas bacanas, ativar a economia audiovisual, colocar muita gente para trabalhar. A galera do meio artístico precisa disso, porque a gente está parado. A Globo, maior referência de produção tem apresentado muitas reprises. A gente tem uma indústria paralisada. Tenho amigos, atores que já fizeram bastante sucesso, que estão passando necessidade, então, é bem  delicado”, ressalta ele.

Filho de pai cientista e mãe psicóloga, Lipy é o primeiro da família na área artística. “Isso também dificulta. No Brasil, as coisas são muito ligadas a politicagem, então, como vim do nada, meu network foi feito através das pessoas que eu fui conhecendo nos meus projetos”, explica. Mas também fez trabalhos somente como ator, Socorro, Virei Uma Garota, Era Uma Vez, Os Farofeiros e Dois Mais Dois. “Quer dizer, tenho conseguido fazer bastante cinema”, ressalta ele, que também escreveu o argumento, co-produziu e atuou em O Jogo, que está na Amazon Prime Brasil como série em quatro capítulos, e na Amazon US e UK, como um longa. “Colocamos em dois festivais internacionais, Cartagena e Los Angeles. É surreal, um feito bacana porque tivemos um orçamento de 40 mil reais e se tornou um longa com projeção internacional, sem ter nenhuma grande empresa por trás. Quer dizer, estou performando bem, mas o legal seria acoplar com eles. Você vê, Fábio Porchat, Paulo Gustavo (1978-2021) e Marcelo Adnet são artistas que também se produziram, conseguiram o seu espaço dentro do sistema e são lideranças de uma geração. Então, estão de parabéns e são as minhas inspirações. O Bradley Cooper no filme Nasce Uma Estrela, ele é produtor, canta, escreve. Os artistas lá fora são todos multifacetados. Aqui no Brasil talvez haja um certo preconceito. Passei a vida respondendo se queria ser ator, cantor, diretor. Diziam que não podia escolher tudo. Mas por quê? Gosto dessa responsabilidade, é um desafio supermotivante”, observa.

"Todo mundo já estava transando e eu não conseguia nem beijo na boca. Era muito feio, ninguém queria transar comigo", pontua Lipy (Foto: Carlo Locatelli)

“Todo mundo já estava transando e eu não conseguia nem beijo na boca. Era muito feio, ninguém queria transar comigo”, pontua Lipy (Foto: Carlo Locatelli)

Qual o caminho das pedras para atingir o objetivo? “As pessoas têm que ter, primeiro, a consciência de que arte é uma energia muito especial. Quem quer ganhar dinheiro eu diria para investir em Bitcoin, em ouro. Agora, se quer colocar propósito e sentido na vida, deixar um legado que tem poder de mudar a vida de alguém, sabe, às vezes, uma pessoa está com um problema de saúde, triste, assiste um filme e durante uma hora e meia ela esquece de tudo. Por isso que te falo da responsabilidade como artista. Isso é muito gratificante. Então, o segredo é não fazer isso pensando que vai ser uma parada que vai te deixar rico de dinheiro, mas sim de satisfação”, observa. E completa: “Agora, se você conseguir ser acoplar ao sistema, trabalhar para uma grande empresa, aí você consegue virar aquela chavinha e viver de arte. Mas são poucos que conseguem, a carreira é árdua”, aponta ele que começou no teatro, na peça O Ateneu, em 2000.

Ele tem seu cadastro na Rede Globo, mas não é chamado. “São coisas que não consigo responder, eu me pergunto isso sempre. Poxa, sou um cara bonito, faço drama, comédia, escrevo, produzo, canto, sou tão multifacetado, porque eu não estou tendo o reconhecimento que eu quero, espero e mereço? Na vida, a gente tem que dar força para a galera mais jovem. Eu pelo menos penso assim. Sempre olho pessoas talentosas que estão em estágios abaixo do meu e chamo para trabalhar comigo”, ressalta.

Já são muitas realizações. Em 2013, quando adaptou O Último Virgem, para os cinemas, seu projeto foi aprovado pela Downtown Filmes. “É a  maior distribuidora de filmes nacionais no Brasil, por conta dela, conseguimos alguns parceiros, Paramount, Telecine, Rio Filme e a gente captou um milhão de reais e rodamos o longa nos cinemas em 2016, com performance espetacular, sendo o 20º filme mais visto no cinema naquele ano, com 130 mil ingressos vendidos”, lembra ele que além de idealizar o projeto, escreveu argumento e roteiro, produziu e atuou. E prossegue: “Dos meus projetos, o único original Netflix  é o Carnaval, que eu também idealizei e escrevi o argumento. E a performance do filme foi ótima.”

Lipy Adler também canta e está para lançar músicas novas nos streamings (Foto: Gabriel Stefanini)

Lipy Adler também canta e está para lançar músicas novas nos streamings (Foto: Gabriel Stefanini)

Carnaval foi uma adaptação do que seria O Último Virgem 2, sob uma ótica mais feminina. E enfatiza: “Em termos de projeção, Carnaval é surreal, porque é um filme lançado no mundo todo. Então, alcança uma proporção que a gente não tem muita ideia. Agora, O Último Virgem, quando entrou na Netflix, já havia sido exibido no Telecine, no TNT no canal Space, no Globoplay. Por ter idealizado, escrito o roteiro, produzido, atuado em um personagem quase como um protagonista, eu diria que é o meu maior projeto”, reflete ele, que também canta e planeja para o final desse mês ou no começo de agosto, duas novas músicas. Uma se chama Nova Era. “Criei para as pessoas despertarem, como se fosse uma voz de cumplicidade com os seres humanos, galera vamos despertar, aceitar as pessoas da forma que são. O importante é que sejam boas. Se o ser humano não aprender e não mudar valores com essa pandemia, acho difícil pensar que vão mudar nos próximos anos.”

E lembra que ainda jovem ele próprio foi vítima de preconceito. “A galera me sacaneava porque eu era feio. A zoeira era em cima da minha estética, por isso que durante a minha vida eu falei: ‘Vou virar galã, vou ficar mais bonito do que os caras que ficavam me sacaneando’. E fiquei (risos). Primeiro, fiz muita academia, procurei nutricionista, que me acompanha até hoje e para quem falo ‘é estética, mas é saúde, quero longevidade’. Além do corporal, o formato do meu rosto mudou depois que coloquei uma barbinha, fiquei mais bonito. E acho que a beleza também é um estado de espírito. Por ser um cara leve, proativo, generoso, humilde, isso me faz muito mais belo”, relata. Depois, até no profissional veio a redenção. “O personagem que eu faço no Carnaval é um galã. Para mim foi uma satisfação, virei galã de cinema”, diverte-se ele.

Seus trabalhos tem um lado autobiográfico. “Pedi demissão de um projeto, porque não conseguia falar sobre um universo que eu não tinha vivenciado, então, o meu processo criativo é muito particular. Como roteirista ou argumentista dependo muito das minhas experiências. O Último Virgem foi inspirado em mim. Todo mundo já estava transando e eu não conseguia nem beijo na boca. Era muito feio, ninguém queria transar comigo. Tinha 19 anos e fui o último da turma a perder a virgindade e foi um desastre, caí da parte de cima de um beliche, torci o pé”, lembra, rindo. Sobre os roteiros, explica que agora mais amadurecido até já está criando histórias de ficção. “Estou com uma série com Aline Riscado, Gil Coelho, Nando Rodrigues, que são produtores associados do projeto e a gente gravou um piloto.” Fez ainda um episódio piloto de uma série documental sobre economia criativa.