Da França da década de 80 para o Brasil nos anos 20. Esse é o salto no tempo que Manuela Dias, há 20 anos na TV Globo como colaboradora, deu para adaptar o clássico de Choderlos de Laclos, “Ligações Perigosas”, para a televisão brasileira em seu primeiro voo solo na dramaturgia da emissora carioca. Com supervisão de texto de Duca Rachid, direção de núcleo de Denise Saraceni, direção geral de Vinícius Coimbra e previsão de estreia para janeiro de 2016, a minissérie contra a história de Augusto, personagem que marca a volta de Selton Mello para a TV aberta depois de quatro anos ausente. O protagonista vive uma dupla com Isabel, viúva rica, personagem de Patricia Pillar. Juntos, são amantes e manipuladores. Ele aposta que seduzirá Mariana (Marjorie Estiano), em mais um de seus jogos, mas o envolvimento vai muito além de um plano, se tornando sentimento real.
“Às vezes ele parece sincero, às vezes parece que está jogando, tem momentos que parece estar apaixonado, em outros parece que faz parte do jogo de sedução dele e da Isabel. (…) Eles são uma dupla que vive uma relação louca e perversa, que envolve manipulação, através de jogos, exercendo a sedução sobre aquela sociedade. Então, são personagens muito ricos e cerebrais”, explicou Selton em entrevista ao site oficial da minissérie. O ator, aliás, dançará flamenco em algumas cenas e, por isso, passou cerca de um mês ensaiando no Projac com o preparador Chico Accioly e com a professora de dança Marcia Rubin.
Marjorie Estiano, por sua vez, já fez o favor de defender sua personagem, casada e devota a Deus. “Eu acho que tem muito mito e tudo é muito polêmico quando se trata de religião, tem muito certo e errado e o meu objetivo é aproximá-la do público. Ela tem suas convicções, é uma maneira de ver a vida, de se comportar e a gente entende que é possível acontecer para qualquer um! (…) Mariana acha que tem controle, sabedoria e paz para lidar com as coisas, mas não sabe que pode ser surpreendida pela vida e acaba se apaixonando. É absolutamente verdadeira com os próprios sentimentos e, quando se dá conta, está completamente envolvida!”, justificou a atriz.
Com apenas 11 atores ao total no elenco, Manuela Dias, a autora, conseguiu trabalhar com escolhas a dedo e teve a liberdade para adaptar o roteiro ao seu bem querer. O final, por exemplo, ela mudou enquanto as gravações estavam quase terminando. “Essa história não funciona dos anos 60 para cá. Porque o valor da virgindade não existe mais. (…) E queríamos nos afastar do filme, porque é muito marcante e ele é retratado na mesma época do livro. Então, fomos buscar nossa leitura brasileira e essa zona de ruptura histórica que pudesse servir também para enfatizar o conflito dos personagens”, contou. Por se tratar de uma trama de época, ela já avisa: não é bom esperar muitos takes calientes, apesar do enredo sugestivo. “Não é uma história de sexo, é uma história de poder e manipulação. A grande brincadeira dos personagens é de poder, não é uma brincadeira sexual”.
Mas também não é motivo para desapontamento. As personagem Cecília (Alice Wegmann) e Sofia (Hanna Romanazzi), por exemplo, vão protagonizar cenas quentes, com brincadeiras bem atrevidas e nada inocentes para meninas da época. Nada que também impeça o lúdico romantismo da década, bem representado por Jesuíta Barbosa e seu músico Felipe. “Apesar de romântico, ele é um pouco revolucionário. O que eu percebo é que ele tem uma vontade de mudar o ambiente em que vive (a burguesia). É um rapaz calmo e apaixonado e, assim como todo romântico, está aliado a uma tragédia…”, adiantou. Impedido de se consumar sua paixão por Cecília, Felipe acabará seduzido por Isabel. “Ela é uma mulher inteligentíssima e transforma o Felipe. Ela fala de coisas que ele nunca ouviu, como paixão e sexo. É a pessoa que ele desenvolve mais intimidade”, contou.
Com gravações iniciais na Patagônia, “Ligações Perigosas” está acumulando takes há mais de uma semana. Alice Wegmann, Jesuíta Barbosa e Renato Góes, por exemplo, tiveram de gravar no frio de zero grau com sensação térmica de -3ºC. E não só: elenco acordou todos os dias antes de o sol nascer e, às 8 da manhã, já estava no set para gravar. Rotina de quem, em meio às cenas, gravou ao lado da ossada de uma baleia cenográfica de 10 metros. Isso é só o começo.
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