*Por Brunna Condini
A complexidade humana interessa e muito à Letícia Colin. Não à toa, a atriz está em duas produções com personagens de cores potentes que saltam aos olhos do público: a Mari do longa ‘A Porta ao Lado‘ de Julia Rezende, em cartaz nos cinemas, e a ‘odiada-adorada’ vilã Vanessa da novela ‘Todas as Flores‘, que estreia sua segunda fase em 5 de abril, no Globoplay. “A Vanessa vem mais irada ainda, com desejo de vingança, com mais ódio e inveja da Maíra (Sophie Charlotte), mas também vem perdendo força. As alianças que ela tinha conseguido fazer com a mãe, Zoé (Regina Casé), as armações em cima do Rafael (Humberto Carrão), tudo isso vai ruir, eles despertam. Então, vamos vê-la mais sozinha, mais colérica, já que seus planos não saem como desejado e tudo começa a sair de controle…posso dizer que ela vai conseguir jogar mais sujo”, adianta.
É muito legítima essa investigação dos afetos em 2023. E acho que vamos continuar nos interessando por esse tema, porque o amor, o desejo e o tesão são indestrutíveis – Letícia Colin, atriz
Já a personagem de ‘A Porta ao Lado‘, é feita de delicadezas e da coragem de investigar o que se passa por dentro, de si, do desejo, do seu relacionamento. O filme aborda os limites das relações a partir do encontro dos casais Rafa (Dan Ferreira) e Mari (Letícia Colin), que vivem um casamento monogâmico e estável, e Fred (Túlio Starling) e Isis (Bárbara Paz), que mantém uma relação aberta. A nada monótona vida do casal vizinho desperta na personagem de Letícia dúvidas e novos desejos. Fora da ficção, a atriz já declarou viver uma relação monogâmica com o marido Michel Melamed, mas salienta a importância de dar fluidez a um relacionamento longo. “Isso é íntimo, particular, mas acredito que o maior ato de coragem em uma relação é manter o diálogo aberto. Porque muitas vezes se comunicar, abrir o que você pensa, pode ser constrangedor ou dolorido, ousado, mas acho que a fluidez em um relacionamento vem quando a gente consegue isso nas palavras. Elas personificam o que estamos pensando, sentindo, e podemos ressignificar medos, afetos. Acho mesmo que dialogar é o maior ato de lealdade”.
Indicada ao prêmio de Melhor Atriz no Emmy Internacional 2022 por seu papel na série ‘Onde Está Meu Coração‘, Letícia colecionou com a médica Amanda, que luta contra sua adicção ao longo dos capítulos, mais uma personagem para uma galeria de papéis que se faz mais de propósitos e motivações do que de vaidades. Aos 33 anos e com mais de 20 de carreira, ela quer é falar dos temas que os trabalhos trazem à tona. A respeito do filme, por exemplo, em seu ponto de vista, o que interessa é pensar sobre o amor. Afinal, depois que abrimos a ‘caixa de Pandora’ das possibilidades afetivas nos últimos tempos, não podemos ‘desver’ e nem deixar de sentir o que pode nascer disso. “Pensar sobre maneiras de a gente se conectar, encontrar, tem sido muito valioso e desafiador. Somos atravessados por muitos novos ímpetos, até por conta da tecnologia, da diminuição de barreiras, destes limites de privacidade, da exposição da vida pessoal. Tudo isso faz com que a gente mude a maneira de se relacionar. Mas continuamos querendo muito, eu acredito, algum afeto que nos dê uma calma na alma, um porto seguro, um fortalecimento para irmos além”, observa.
“Tem gente que pode não querer uma relação monogâmica, mas quer um lugar de confiança, de respeito, de prazer. Então é muito legítima essa investigação dos afetos em 2023. E acho que vamos continuar nos interessando por esse tema, porque o amor, o desejo e o tesão são indestrutíveis. Não importa a tecnologia que seja inventada, os novos valores éticos e morais, porque precisamos disso para viver. E esse é um filme que se propõe a pensar sobre essas questões eternas”, completa.
Acho mesmo que dialogar é o maior ato de lealdade em um relacionamento – Letícia Colin, atriz
O longa também coloca no foco a lealdade nas relações amorosas, e aqui a atriz fala da própria vivência. “Acredito que a lealdade em uma relação seja a manutenção a longo prazo do cuidado, da percepção, da escuta para o outro. Acredito que é isso que interessa em um relacionamento. Quando você para de se importar com o que o outro vai pensar ou sentir, no sentido do desrespeito, e para de acolher os vazios, quando se desinteressa pela dor do outro, pela conquista do outro, isso começa a demonstrar um furo, e fatalmente um possível naufrágio dessa relação. Acho que temos que nos manter atentos, ouvindo, sensíveis, cuidadosos, preocupados. Acredito que a manutenção disso tudo é lealdade, e ela está intrinsicamente conectada ao tempo. Por isso que acho que a potência da lealdade aparece mesmo com o passar dos anos em uma relação”.
Casada há sete anos com Michel Melamed e mãe do pequeno Uri de 3 anos, ela não acredita em ‘receitas’ para uma união duradoura, mas diz por que eles escolhem diariamente seguir construindo uma história juntos: “Porque temos muita admiração, porque a relação ainda segue sendo surpreendente, a gente não sabe tudo sobre o outro. Porque é um aconchego voltar para casa, para os meus meninos, o Uri e o Michel. É muito bom alguém que te conhece por inteiro e te aceita, alguém que você tem intimidade, que é essa joia valiosa, porque você fica à vontade, tira suas máscaras sociais, com suas vulnerabilidades, delicadezas. É bom ter alguém que te cuida, com quem você também se diverte, continua inventando ideias e projetos para desafiar a rotina. O Michel é a pessoa mais legal que eu já conheci. E continua sendo bom, e cada vez melhor estar com ele, vendo-o crescer, a gente crescer, envelhecer, se amparar e seguir dando risada da vida, porque isso também é bem importante”.
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