Leticia Colin reflete sobre vilã na próxima novela, diz o que pensa da indicação ao Emmy e do futuro na carreira


A atriz está em ‘Todas as Flores’ que estreia 19 de outubro na Globoplay, e traça um paralelo entre os sentimentos e motivações que transbordam da sua personagem e a vida contemporânea, o que pode ser uma excelente crítica aos nossos tempos modernos. Leticia também celebra a indicação ao Emmy Internacional 2022 pelo papel em ‘Onde Está meu coração’ e diz o que espera da premiação: “Se não tivéssemos a obra com a contundência desse tema sendo levado para a cena de um jeito tão delicado, cuidadoso e profundo, eu não conseguiria brilhar fazendo o meu trabalho” 

*Por Brunna Condini

Escrita por João Emanuel Carneiro, ‘Todas as Flores‘ estreia 19 de outubro na Globoplay trazendo em sua trama um conto de fadas moderno. “A novela é uma brincadeira com a história da Gata-Borralheira“, diz o autor. Na história que é um thriller contemporâneo regado por histórias de amor, vingança e redenção, Leticia Colin é uma das protagonistas e conversou com o site sobre as vilanias de sua personagem e também sobre como isso pode ser uma crítica aos tempos que vivemos. A atriz também fala sobre sua indicação ao Emmy Internacional 2022, na categoria de Melhor Atriz pelo papel da médica Amanda em ‘Onde Está meu coração‘, série original da Globoplay. “Estou muito feliz, nem estou pensando em levar o prêmio, estou honrada de estar nesta cerimônia. Nossa televisão me dá muito orgulho e é muito lindo que sejamos reconhecido internacionalmente pelo conteúdo de excelência que produzimos no Brasil. Isso é muito importante como valorização da nação, do nosso potencial produtivo e criativo. Nosso país é um grande contador de histórias”, celebra.

Quero me conhecer, emocionar as pessoas e provocar outros olhares – Leticia Colin, atriz

No folhetim, Leticia é Vanessa, filha de Zoé (Regina Casé) e irmã de Maíra (Sophie Charlotte). A estilista não tem limites para conseguir o que deseja, inclusive, age com preconceito e capacitismo contra a irmã, que é cega. Nem as adversidades ao atravessar um tratamento de leucemia a transformam em alguém melhor. Acredita que tem gente que escolhe conscientemente o lado da sombra, da maldade? “Acho que existem pessoas que fazem más escolhas. Que vão para o mundo sem conter os sentimentos mais perigosos, que têm muito poder. Claro que todos nós temos isso dentro, mas a maioria escolhe não ceder à raiva, ao ódio, à inveja, à cobiça, à vingança, aos nossos instintos primitivos. A civilização só está de pé porque escolhemos não sucumbir aos nossos sentimentos mais baixos. Claro que existem pessoas que escolhem ser guiadas por eles, tanto é que existem as guerras, racismo, capacitismo, o ódio da diferença, do outro, do estrangeiro, o egoísmo, então é por isso que algumas democracias morrem e nosso mundo tem tanta desigualdade”, reflete Leticia.

Leticia Colin fala das sombras da nova personagem e da luz que a indicação ao Emmy trouxe (Foto: Rael Barja)

Leticia Colin fala das sombras da nova personagem e da luz que a indicação ao Emmy trouxe (Foto: Rael Barja)

“Minha personagem tem pouco interesse pelo outro, pelo o que está fora de si mesma, porque é muito autocentrada. E nesse desejo tão louco que tem pelo dinheiro, poder, o que a gente vai ver mais para frente é que ela vai empobrecendo de espírito, de experiência de vida. Quando nos fechamos para o outro, nos fechamos para uma expansão de nós mesmos. É muito lindo se interessar pela singularidade, pela vida do outro, mas a Vanessa fecha uma porta. Tem no fundo muito medo de se entregar, se apaixonar, ser feliz, de descobrir o que realmente importa na vida, que não são as relações das aparências, o material, e sim, o essencial. É uma personagem mundana, do material. Ao mesmo tempo, também muito humana, porque todos nós corremos o risco de cair nesta cilada e achar que é isso que importa na vida. Há um movimento muito forte dos meios de comunicação, da mídia, do consumo, que vão na direção do ter para ser. Então, para não escorregar, é questão de estarmos mesmo atentos e fortes como diz a canção, e fazermos as melhores escolhas para todos”.

A atriz na pele de Vanessa, sua vilã cheia de humanidade (Divulgação/ Globo)

A atriz na pele de Vanessa, sua vilã cheia de humanidade (Divulgação/ Globo)

A atriz que empresta sua voz em um dueto com Sophie Charlotte na música de abertura da novela, ‘As Rosas não Falam‘, de Cartola (1908-1980), comenta a parceria com a atriz. “A Sophie é um luxo. E sua personagens traz valores, a essência. Já a minha, em contraposição, é a aparência. Está conectada ao material, com as coisas que desaparecem, à impermanência da vida. A Vanessa tem inveja porque essa irmã é tudo o que ela não consegue ser. Ela e a mãe têm uma relação simbiótica, são muito solitárias, só tem uma à outra, até porque o mal é muito solitário. A relação delas é até randômica, uma meio devora a outra. E essa mãe se encanta pela personagem da Sophie, a outra filha, que desperta uma energia do amor nela. Essa é uma novela que levanta arquétipos antigos. Tem a cobiça, a posse, sentimentos que transbordam também em nossa vida contemporânea, então pode ser uma excelente crítica aos nossos tempos modernos. A minha personagem é o contrário de tudo o que acredito no mundo”.

Sobre a indicação do Emmy, se não tivéssemos o tema da dependência química sendo levado para a cena de um jeito tão delicado, cuidadoso e profundo, não conseguiria brilhar fazendo o meu trabalho –  Leticia Colin, atriz

Leticia Colin fala da nova novela, da indicação ao Emmy e do futuro na carreira (Foto: Rael Barja)

Leticia Colin fala da nova novela, da indicação ao Emmy e do futuro na carreira (Foto: Rael Barja)

Com todo coração

E no trajeto de mais de 20 anos de carreira, uma indicação ao Emmy no meio do caminho. Leticia concorre na categoria de Melhor Atriz pela sua aclamada performance no papel da médica Amanda da série ‘Onde Está meu coração’. “É um trabalho belíssimo e que não é meu, é da Luisa Lima, diretora da série, extremamente talentosa, ousada, que conseguiu trazer toda essa atmosfera de sofrimento do dependente químico e dessa família que luta para recuperá-lo. Esse trabalho tem muitos méritos, e um deles é deixar bem nítido que a questão do dependente é de saúde, que envolve respeito, paciência, cuidados médicos e amor. A minha indicação é coletiva, tenho muita consciência disso. Se não tivéssemos a obra com a contundência do tema sendo levado para a cena de um jeito tão delicado, cuidadoso e profundo, eu não conseguiria brilhar fazendo o meu trabalho. Essa indicação é para todos nós que nos mobilizamos para levantar um projeto muito importante, com um tema espinhoso, que muitas vezes é julgado pelo preconceito e pela hipocrisia. Nós fomos fundo falando disso e entregamos uma série poderosa para desfazer estigmas”, celebra.

Leticia Colin concorre na categoria de Melhor Atriz pela sua aclamada performance no papel da médica Amanda da série 'Onde Está meu coração' (Divulgação/ Globo)

Leticia Colin concorre na categoria de Melhor Atriz pela sua aclamada performance no papel da médica Amanda da série ‘Onde Está meu coração’ (Divulgação/ Globo)

Aos 32 anos, Leticia é uma das atrizes mais celebradas da sua geração e faz aqui o exercício de imaginar seu futuro na arte: “Sei que vou sempre para direção onde tiverem histórias contundentes, com personagens que eu possa me surpreender e aos espectadores. Quero me conhecer, emocionar as pessoas, provocar outros olhares sob uma perspectiva, história de vida. Também quero ir para um lugar onde tenha a música. Têm muitos lugares para eu caminhar neste mundão e vou feliz, grata por todas as oportunidades que o destino trouxer”.

"Quero me conhecer, emocionar as pessoas e provocar outros olhares" (Foto: Rael Barja)

“Quero me conhecer, emocionar as pessoas e provocar outros olhares” (Foto: Rael Barja)