Leticia Colin estrela filme que questiona relação monogâmica e quer investir nas carreiras de cantora e autora


A artista exalta a seleção do longa ‘A Porta ao Lado’ para o Festival de Cinema de Gramado e também comenta sua relação amorosa com Michel Melamed. E mais: quer soltar a voz em um show-espetáculo

*Por Brunna Condini

Leticia Colin vem descobrindo sua potência na vida e na arte. Tal qual a atriz de 32 anos, suas personagens também estão amadurecendo. Amostra disso, é seu trabalho no longa recém finalizado ‘A Porta ao Lado‘, da cineasta Julia Rezende, estrelado por Leticia, Bárbara Paz, Dan Ferreira e Túlio Starling, único filme dirigido por uma mulher selecionado para a Mostra Competitiva do 50º Festival de Gramado. “Esse trabalho traz uma provocação interessante sobre o melhor que podemos ter na vida. Sobre o que fazemos para sermos felizes, se isso se mantém, renova. É um filme mais maduro, está em um outro momento de tratar as relações”, diz ela, sobre a trama que surgiu do desejo da diretora de seguir investigando as relações afetivas no audiovisual, temática que também interessa à atriz.

Nesta entrevista, Leticia fala sobre a relevância desta produção no tempo que vivemos, do trabalho marcante e premiado na série ‘Onde Mora o Coração‘, e também sobre sua relação de sete anos com Michel Melamed, e das realizações que estão por vir: “Meu grande sonho é levantar um show. Cantando músicas autorais e canções que eu amo da nossa música brasileira. Misturar tudo isso e fazer um show-espetáculo-musical. Tenho vontade de trabalhar como cantora mesmo, então é pensar nas músicas, na dramaturgia, fazer uma apresentação poética. Um dia vai acontecer”, anuncia a atriz, que fez uma participação no programa The Masked Singer Brasil este ano. Leticia revela mais planos de investir em sua voz autoral. “Quero cada vez mais conseguir tirar as ideias do papel, realizar projetos que eu esteja envolvida desde o início, do grãozinho da obra”.

Tenho ideias para uma série e um filme. E um projeto com o Michel, de um longa contemporâneo, queremos trabalhar mais juntos – Leticia Colin

"Meu grande sonho seria levantar um show. Cantando músicas autorais e canções que eu amo da nossa música brasileira." (Foto: Rael Barja)

“Meu grande sonho seria levantar um show. Cantando músicas autorais e canções que eu amo da nossa música brasileira.” (Foto: Rael Barja)

No oitavo filme de Julia Rezende, e na segunda parceria com a atriz (antes fizeram juntas ‘Ponte Aérea‘, em 2015), a história eleita é bem contemporânea: Rafa (Dan Ferreira) e Mari (Leticia Colin) são casados e vivem um relacionamento tradicional, estável. Seguem bem até que outro casal se muda para o apartamento ao lado: Fred (Túlio Starling) e Isis (Bárbara Paz), que têm um relacionamento aberto, separam sexo de amor e decidiram não ter filhos. Essa forma de se relacionar provoca a personagem de Leticia, que vai questionar sua união. “O que me faz aceitar um filme é ter ponto de contato com o mundo de hoje, e também com o que desejamos construir, um mundo mais livre, dinâmico, igualitário e com valorização das diferenças. Acredito que esse filme traz isso. Em ‘Ponte Aérea’ já falávamos dessa dificuldade das pessoas se relacionarem. É um tema que investigamos e continuamos nos interessando: relações, esse mundo tão veloz e líquido. Como as pessoas continuam se encontrando para se amarem, serem felizes, terem prazer hoje”, detalha.

Leticia Colin no filme 'A Porta' ao Lado': "Investigamos as relações, esse mundo tão veloz e líquido" (Foto: Desiree do Valle)

Leticia Colin no filme ‘A Porta’ ao Lado’: “Investigamos as relações, esse mundo tão veloz e líquido” (Foto: Desiree do Valle)

Dividindo os questionamentos que vive em sua própria relação, Leticia pontua. “Bem, eu sou casada né ? Então, meu movimento desde que casamos é: quais são nossos novos planos agora: E estamos atentos, nos estimulando, nos cuidando. Abrindo espaço para os dois como casal. Que viagem podemos fazer? Porque adoramos viajar. O que podemos fazer pra aprofundar nossa relação e deixá-la ainda mais prazerosa, leve, divertida? Cuidar sempre, porque a rotina nos engole. Mas aí a gente fala: “pera aí, estamos precisando de um momento nosso”. Conversar é sempre bom, escutar outras opiniões, vivências. Nos expandimos nesse movimento”. É uma relação exclusiva? “Sim, é. Eu e Michel temos um papo reto a vida inteira. Desde o início nos juntamos nestas condições, na vibe de sermos muito companheiros um do outro, muito livres no diálogo”.

Leticia Colin fala do filme selecionado para o Festival de Gramado (Foto: Rael Barja)

Leticia Colin fala do filme selecionado para o Festival de Gramado (Foto: Rael Barja)

Leticia Colin fala do filme selecionado para o Festival de Gramado (Foto: Rael Barja)

Leticia Colin fala do filme selecionado para o Festival de Gramado (Foto: Rael Barja)

 

Na arte e na vida

Leticia conta que sempre admirou a trajetória de Barbara Paz , que após as filmagens de ‘A Porta ao lado’ chegou a convidá-la para vivê-la no filme que realizará sobre a história da sua vida. “Uma das coisas bonitas nesta profissão é que o set une as pessoas. Estar em cena com alguém é uma troca muito especial, e quando ela é transparente, perdura. Eu e Barbara hoje temos uma amizade linda, e esse foi um dos ganhos que tive com esse filme”, conta.

“Me deu muita vontade de nos reencontrarmos em cena também, Barbara é destemida, inventiva, incansável, tem muitas qualidades, e talento pra tudo, né? Tudo o que faz, realiza lindamente. Tem um olhar único para dirigir, fotografar, atuar. É uma das mulheres mais interessantes deste nosso momento. Seu filme, seus personagens são eternos, não à toa faz sempre papéis intensos, profundos, desafiadores. É uma mulher incrível, e também frágil, delicada. Sou meio fã (risos). Quero muito ser dirigida por ela”.

Leticia Colin e Barbara Paz tornaram-se amigas e planejam trabalhar juntas novamente

Personagens que transformam

Leticia Colin é uma das protagonistas da segunda produção de novelas da Globoplay para o segundo semestre. Em ‘Todas as Flores’, de João Emanuel Carneiro, ela faz Vanessa, uma super vilã, que será irmã da personagem de Sophie Charlotte, que na trama são filhas de Regina Casé. “Ela é muito invejosa, ambiciosa, focada em dinheiro, por enquanto é só o que posso adiantar”.

Dando vida a personagens que têm permanecido em nosso imaginário por sua potência e delicadeza na composição, a atriz vem colhendo os frutos das boas escolhas profissionais. Ano passado comoveu o público com a médica Amanda, que lida com a adicção em crack na série ‘Onde está meu Coração’, da Globoplay, e pela performance arrebatadora acabou de levar o troféu de Melhor Atriz no prêmio APCA. “Dedico esse prêmio ao Uri (2 anos), meu filhote que estava dentro de mim quando eu ainda fazia a Amanda, me trazendo muita serenidade, sensibilidade, foco e delicadeza na condução desta personagem. Ao Michel também, que me apoiou incansavelmente. E à Luiza Lima, diretora brilhante, uma mulher maravilhosa que me conduziu para contar essa história pelo melhor caminho, de forma contundente e com uma linguagem única. Não posso esquecer da Mariana Lima, que fazia a minha mãe na história, e o Fabio Assunção, que fez meu pai, e me acolheu como atriz neste mergulho tão vertical, me abrindo um monte de histórias. Fizemos grandes cenas juntos”, pontua.

A atriz na série 'Onde Mora o Coração'. Sua performance levou o Prêmio APCA (Divulgação/ Globo)

A atriz na série ‘Onde Mora o Coração’. Sua performance levou o Prêmio APCA (Divulgação/ Globo)

“Também dedico ao CAPs, um dos braços do SUS, que pude conhecer de perto, acompanhando algumas pessoas no processo de recuperação, tanto para o tabagismo, como para drogas pesadas como o crack e a cocaína. É um sistema que funciona, trata os dependentes químicos com cuidado, respeito, sob o ponto de vista da saúde. Não é questão policial, e nem para manobras políticas, que a cada governo que assume muda tudo em relação à conduta de política de drogas. Isso é muito danosa para as pessoas que dependem desses programas para se tratar. Os CAPs são sistemas que funcionam, só precisam de mais recursos”.

Leticia salienta: “Aprendi muito com essa personagem. Principalmente sobre a nossa condição humana, de imperfeição, que é linda. E lutamos contra ela, queremos fazer igual aos outros, nos padronizar, nos comparamos, andamos muito na contramão dessa afirmação da diferença. Deveríamos anda no caminho da nossa singularidade, do que é único”.

"Nossa condição humana de imperfeição é linda. E lutamos contra ela, queremos fazer igual aos outros, nos padronizar" (Foto: Rael Barja)

“Nossa condição humana de imperfeição é linda. E lutamos contra ela, queremos fazer igual aos outros, nos padronizar” (Foto: Rael Barja)