*Por Brunna Condini
Mas engana-se quem acredita que, pela densidade do papel, a atriz o elege como o ‘mais mais’ em sua carreira, embora esteja celebrando o resultado da obra dirigida (impecavelmente) por Luísa Lima. “Fico imersa no universo das minhas personagens. Do jeito de falar ao coração. A Amanda não é uma personagem mais especial que as outras por ser adicta. Acho que é disso também que a série fala: de não sublinhar a dependência química como algo que mereça um olhar de penalização. Ou de um escanteio, uma marginalização. Não é um problema apartado da sociedade, pior que os outros. É um problema de saúde tal qual outra doença”, esclarece.
A atriz fala sobre a urgência do debate e da necessidade de progresso nas políticas públicas para enfrentamento do problema de forma humana. “Vivemos em uma sociedade em que a droga frequenta os lugares. Sabemos muito bem disso e isso é maquiado. Lidamos com o cigarro e o álcool de um jeito legalizado, mas eles são porta de entrada, muitas vezes, para outras substâncias. Há muitas discussões pertinentes a respeito e elementos que estão normatizados pela sociedade. Fora isso, tem o nível de cobrança, de produtividade da contemporaneidade. A Amanda é uma mulher que sofre com isso também: se cobra muito, quer dar conta de tudo. É um retrato contemporâneo do que colocamos como prioridade em nossas vidas e, como não damos conta, isso colapsa. Acho que é por isso que a série tem sido tão vista, ela ecoa dentro das pessoas”.
Questão de não retroceder
Ela exalta ainda o trabalho de organizações, como o Narcóticos Anônimos . “O que me tocou nas sessões do NA em que estive foi o método, a base utilizada – o mesmo que me encanta na psicanálise há tantos anos – , que é a cura através da palavra. Me fascina. E me leva ao trabalho de atriz, que é essa tentativa de comunicar sentimentos. “É nesta tentativa de falar, que conseguimos expressar nossas dores e alinhar as angústias. Vamos nos sentindo mais leves no processo. A palavra como cura me emociona. Acredito nesta cura através das partilhas, da fala e da escuta. O NA vem transformando famílias e vidas há muitos anos. Ele é uma pérola da nossa sociedade, tem que ser exaltado, divulgado e é um lugar seguro, de continuidade, que não fecha suas portas. E é um sistema totalmente gratuito! Não ligado a qualquer crença ou religião”.
E completa com uma análise sobre a situação das medidas na área: “Neste momento, o mais importante é parar o retrocesso, que está sendo muito cruel com todo sistema de saúde com atenção à pessoa com doença mental e também ao tratamento de drogas, álcool e tabagismo. Todo o avanço que se conseguiu desde a redemocratização para cá está sofrendo um desmonte horrível e isso é um alerta vermelho de que algo precisa ser feito nesta direção. Estamos falando de retomada dos manicômios, de comunidades terapêuticas onde se sabe que as pessoas ficam presas, amarradas, sofrem violências, são dopadas. Tudo isso por conta de um medo, ignorância, posicionamento autoritário, violento, que é o que a gente tem visto no Brasil em diversos setores, na cultura, na saúde, neste movimento todo anticientífico. E isso vem acontecendo de forma crucial com os tratamentos destes pacientes: não se respeita o ser humano que está em sofrimento com essa doença, então se trancafia, se aparta ele da sociedade. E há tratamento com comprovação científica voltado para esta reinserção social”.
Para viver o maior amor na pandemia
Em mais uma performance que promete, Leticia estreia em junho na quinta temporada da série ‘Sessão de Terapia’, como Manu, uma mãe no puerpério, uma das pacientes do Caio (Selton Mello). E para isso, ela tem lugar de fala de sobra. E na pandemia. O que têm feito para lidar com a angustia e a ansiedade? “Ser mãe ocupa muito de mim e da angústia, e isso é muito bom. Agora o centro é meu e do Uri (de 1 ano). E, na real, o tempo é mais dele do que meu, mas estou atenta para não me abandonar e tenho me autocuidado. Voltei a fazer pilates online e fisioterapia, ferramentas que me ajudam a respirar. Nunca parei a análise, uma ferramenta fundamental”, conta.
Ela tem compartilhado suas experiências da maternidade, de forma realista, mas sem perder a ternura, no Instagram, através do seu ‘Diário de Mãe’: “Tem sido uma delícia! A gente se expande dividindo. Todo mundo passa por dificuldades. Criar um filho é desafiador! Precisamos desabafar, rir de nós mesmas e pedir ajuda. Isso deixa a caminhada mais leve”.
Já teve vontade de dividir alguma experiência e declinou por medo do julgamento? “Já tive medo de falar que usei e uso fórmula, mesmo amamentando no peito, mas cada mãe sabe do seu processo, do seu desafio, do seu limite. Maternidade é muito pessoal. Tem que ter liberdade e respeito. Leite materno é milagre, é fundamental, mas saúde da mãe e do filho também. Só os dois sabem como esse ajuste fino vai se dar. Cabe aos dois encontrar esse caminho, com o máximo de informação e acolhimento da pediatra, da família e da sociedade. A maternidade a cada dia me traz sensações lindas é desafiadoras! E sinto que será assim para sempre, ainda bem”.
Como tem passado este mais de um ano de pandemia? “Triste, silenciosa, esquisita, revoltada com o Governo Federal, com a lentidão da vacinação, com a falta de medicação para intubação, de cara que o presidente não esteja preso. De Luto por muitos. Com um buraco eterno do Paulo Gustavo. Estou muito fã do meu filho, me apoio nele, me apoio na psicanálise. E na arte. Na Clarice (Lispector). No cinema, vendo “We are who we are”. Converso todos os dias com meu grande amigo Pablo Sanabio, ele me ajuda a continuar caminhando. Choramos juntos e isso nos deixa mais humanos e fortes. Só assim é possível seguir. Com amor”.
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