* Por Carlos Lima Costa
O etarismo cada vez mais se faz presente no Brasil na contramão do mundo. Sobre o tema, um vídeo de Andrea Beltrão, postado no Instagram, repercutiu e ganhou aplausos. O ator Leopoldo Pacheco, por exemplo, achou “lindo” o depoimento. Nele, a estrela conta que já ouviu lhe falarem: “nossa, você tem 58 anos, mas está ótima”, como se esse “mas”, que, na verdade, não é um elogio, significasse que ela deveria estar péssima devido à idade. O ator, que interpretou o patriarca Antero Novaes, em Pantanal, e já está gravando Cara e Coragem, trama das 19h, lamenta a forma como as pessoas são tratadas na maturidade, incluindo o meio artístico.
“A gente vive um mundo que não está preparado para a velhice. Eu vejo que os idosos não têm uma qualidade de vida compatível. Dentro da nossa área também acontece. Tem pouco trabalho. E os nossos atores mais velhos são referências, têm muito o que ensinar aos jovens e eles não têm como crescer profissionalmente sem referência”, enfatiza.
E dá o próprio testemunho: “Eu estou envelhecendo, vou fazer 62 anos (em 21 de setembro) e não me sinto um senhor. Eu me sinto muito bem disposto, às vezes até como um moleque. E não tenho problema nenhum com a minha idade, com os meus cabelos brancos. Eu gosto, acho que a gente vai ficando melhor muito mais velho, e em todos os sentidos, inclusive, profissionalmente”, pontua.
Não lhe falta energia para manter o estilo workaholic. “Tive um mês de férias para respirar um pouco e já entrei no processo de Cara e Coragem, uma novela linda, que já estreou divertida. Estou bem feliz com o trabalho”, acrescenta o intérprete do Joca, que em 2016, por exemplo, atuou na minissérie Ligações Perigosas e nas novelas Velho Chico e Êta Mundo Bom!. “Eu sempre gostei de trabalhar. Não tenho preguiça nesse sentido. E nada melhor do que estar trabalhando para passar por tudo que estamos vivendo hoje em dia”, frisa ele.
Joca, o novo personagem de Leopoldo, que entra na trama nesta semana, é polêmico e complexo, primeiro pelo fato de ter duas famílias (uma formada pela filha Pat, representada pela protagonista Paolla Oliveira, e a mãe, Nadir, papel de Stella Maria Rodrigues), sendo que somente uma família sabe da história da outra, e uma filha (Lou, interpretada por Vitória Bohn, da relação com Olivia, vivida por Paula Braun), que ele tem dificuldade em assumir.
“Esse é um grande conflito da história, mas a discussão eu acho que vem numa leveza como a gente pode notar que a novela começou. A Claudia (Souto) escreve de um jeito leve e ágil, então, são muitas historinhas que fazem parte desse universo de Cara e Coragem. Mas o Joca é um personagem amoroso”, conta. Como ele é um professor de tênis, Leopoldo vem tendo aulas. “Eu nunca tinha entrado em uma quadra e estou me divertindo com esse personagem que é vivo, esperto no sentido de ter e gostar das duas famílias, e de não saber como lidar com isso. E saindo de uma novela incrível, com um personagem lindo. Apesar dos vícios, a bebida e o jogo, da falha trágica, que o fez perder tudo, ele tinha uma paixão profunda por aquela família”, ressalta.
A história de Joca com as duas famílias vai abordar o machismo que predomina na sociedade. “O mundo mudou. Hoje em dia as discussões e as possibilidades são mais abertas e verdadeiras, deixando de ter esse caráter escondido. Então, esses personagens vem para levantar essa discussão”, reflete o ator, cuja história afetiva é o oposto. Leopoldo é casado há 40 anos com a produtora Bel Lobo. Em um caso como o da novela, o ator acha que as mulheres deveriam saber que o parceiro tem outra. E não serem enganadas. “Nesse sentido eu digo que o mundo mudou muito. Nem a mulher nem o homem querem mais que as coisas sejam assim. As coisas são discutidas, abertas e que a pessoa possa ter a opção”, aponta.
O atual personagem, assim como o anterior, leva o público a um debate pertinente, o que Leopoldo considera importante, mas ele em si, quando vai interpretar um papel, não coloca esse juízo de valor. Ele o defende pela riqueza da história que vai desenvolver. “O que torna o personagem muito humano é a possibilidade dele errar, no sentido dele ser um herói ou um vilão, um ser humano que pode ir para os dois lados. Então, quando interpreto um papel procuro não fazer nenhum juízo de valor. Nesse sentido, acho que o Antero foi um personagem bonito e profundo, verdadeiramente humano. Era totalmente apaixonado pela família e com uma falha trágica, o jogo, do qual ele não conseguia escapar e que levou ele e a família a bancarrota. Acho bonito como personagem, para discutir a questão do vício”, analisa o ator, que lembra do sucesso da versão original de Pantanal, mas não assistiu e preferiu não ver nada antes de gravar, para fazer a sua própria leitura da história.
Coincidentemente, em fevereiro, chegou no Senado o projeto aprovado pela Câmara dos Deputados, que legaliza jogos de azar no Brasil, como bingos e cassinos. “Pra falar a verdade, quando viajo para fora do Brasil e vejo que tem cassino, tenho curiosidade de conhecer, mas não tenho a menor ligação com jogo. Fui para Las Vegas e quis ver como funciona aquilo. Mas não consigo ficar parado em uma máquina ou mesa, em nada disso. Então, essa questão do vício, seja lá qual for, tem que ser discutida. Se for ter cassino e ele for trazer imposto, feito de uma maneira dentro da lei, normal, isso deixa de ser um vício. Mas confesso que não sei dizer o que penso que deveria acontecer”, ressalta Leopoldo, que teve seu primeiro papel de destaque na TV interpretando o vilão Leôncio em A Escrava Isaura.
Na versão original gravada pela Globo, em 1976, havia sido feito por Rubens de Falco (1931-2008), tendo sido seu papel mais marcante. “O Leôncio foi um grande personagem, tive a honra de trabalhar com o Rubens (na versão da Record, ele deu vida ao Comendador Almeida, pai do vilão). De lá pra cá interpretei, na Globo, personagens pelos quais tenho um carinho imenso, em trabalhos que tenho muito orgulho. Lembro de personagens como o Fred Sem Alma, do Novo Mundo, que saiu fora completamente do caminho dos personagens que eu vinha fazendo. Gosto dessas mudanças. Teve o Feliciano, um mendigo, em O Sétimo Guardião, e mais recentemente, um cara rico que era vilão, em Salve-se Quem Puder. Então, gosto do caminho que eu tomei na minha carreira”, avalia ele, cuja estreia na TV, aconteceu na Globo, uma participação, em Andando Nas Nuvens, de 1999.
Formado em Belas Artes, Leopoldo também é figurinista e maquiador, mas pouco tem desenvolvido essas funções. “Depois da televisão, isso diminuiu bastante, mas ainda faço. Agora, mesmo tem no Rio de Janeiro, o Misery, um espetáculo com a Mel Lisboa e o Marcelo Airoldi, que eu fiz o figurino. Quando tenho uma folga, um período longo que eu não estou na televisão, o que é raro, eu faço”, conta ele, que planeja retornar aos palcos, no meio do ano, com o espetáculo Sueño, do Nilton Moreno, inspirado em Sonho de Uma Noite de Verão, de William Shakespeare(1564-1616), já encenada por ele em 2021.
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