* Por Junior de Paula
A sensação das novas séries na TV norte-americana – e pelo resto do mundo, por consequência – é a nova empreitada de Damon Lindelof, criador do fenômeno Lost, batizada The Leftovers. O primeiro capítulo foi ao ar no dia 29 de junho, portanto, ainda é cedo para análises mais profundas ou posicionamentos assertivos sobre os rumos que a série vai tomar, mas ela já mostrou a que veio.
Tudo começa com uma mulher e seu filho recém-nascido que tem tarefas cotidianas, quando, de repente, no estacionamento de uma lavanderia, o bebê simplesmente desaparece. Logo ao lado do carro onde estavam mãe e filha, um carrinho de supermercado se movimenta sozinho enquanto uma criança grita desesperada por seu pai.
Corta para três anos depois e a gente entende que aquele foi o momento no qual 2% de toda a população mundial simplesmente desapareceu. Sumiu. Sem deixar nenhum rastro. Crianças, jovens, idosos, homens, mulheres, pessoas normais e famosas – como Jennifer Lopez e o Papa Bento XVI, entre eles – viraram estatísticas que passaram a ser lembradas anualmente em grandes festas ao redor do planeta, como forma de cultuar suas memórias.
Depois de apresentada a ação principal – a de como o mundo vai lidar com esse desaparecimento misterioso – a gente confere os personagens que vão alimentar a história. Justin Theroux dá vida a um amargurado policial chamado Kevin Garvey, que tem uma filha meio rebelde sem causa e um filho que serve de segurança para um guru que fundou uma seita que cura as pessoas através do abraço.
Ainda no primeiro capítulo, a gente descobre que a mulher de Kevin sumiu de casa, mas não misteriosamente como o resto dos 2%. Laurie se converteu a uma seita surgida depois dos acontecimentos na qual as pessoas fazem voto de silêncio, só usam branco e fumam sem parar. Kevin ainda tem um encontro com um homem misterioso que mata cachorros pela cidade sob a desculpa de “que não são mais os nossos cachorros”, que ninguém mais vê, e passa a ter sonhos estranhos e premonitórios.
Como esses mistérios todos vão fazer sentido em algum momento – e se vão fazer, já que se a gente se lembra de Lost é possível perceber que encerrar histórias de forma minimamente plausível não é o forte dessa turma – é ainda uma grande questão. Mas, por incrível que pareça, a gente embarca na história e quer saber cada vez mais o que cada símbolo significa.
Theroux, aliás, mais conhecido ultimamente por ser o noivo de Jennifer Aniston, está perfeito no papel de um homem cheio de questões e tristezas, assim como Liv Tyler, que andava sumida, faz seu retorno aos holofotes para a grande massa com muita segurança como uma mulher insegura em busca de se encontrar. Ammy Brenneman mesmo sem emitir uma única palavra com sua Laurie também rouba a cena e faz de seu personagem um dos mais intrigantes da série.
Impossível ver o primeiro capítulo e não correr para conferir os outros dois que já estão disponíveis na HBO em busca de novas respostas e novas perguntas. Para acompanhar e torcer para que os roteiristas não se percam no meio do caminho.
* Junior de Paula é jornalista, trabalhou com alguns dos maiores nomes do jornalismo de moda e cultura do Brasil, como Joyce Pascowitch e Erika Palomino, e foi editor da coluna de Heloisa Tolipan, no Jornal do Brasil. Apaixonado por viagens, é dono do site Viajante Aleatório, e, mais recentemente, vem se dedicando à dramaturgia teatral e à literatura
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