*Por Brunna Condini
No ar, atualmente, em ‘Aruanas‘, segunda temporada na Globo, em ‘Senhora do Destino‘, reprise no Canal Viva, a atriz Leandra Leal está também no Globoplay em um projeto pra lá de especial, e conversou com exclusividade com o site Heloisa Tolipan sobre a empreitada. Na série ‘A Vida Pela Frente‘, que já tem os cinco primeiros episódios disponíveis na plataforma, Leandra debuta em sua primeira direção no comando de uma ficção ao lado de Bruno Safadi, com a supervisão de roteiro de Lucas Paraizo. “O mais prazeroso foi ver uma história que eu criei acontecer. Eu e minhas sócias e amigas Rita Toledo e Carol Benjamin passamos muito tempo sonhando com isso, criando a série, então o set era muito emocionante pra mim. Era muito comovente ver tanta gente comprando o nosso sonho”, vibra.
A trama conta a história de seis adolescentes da Zona Sul do Rio de Janeiro, na virada dos anos 1990 para os 2000, que tentam se recuperar de uma tragédia no dia da formatura. Leandra recorda a adolescente que foi: “Eu era intensa. A Laura Sarmento, que foi a psicanalista que deu consultoria para a gente na sala de roteiro, acompanhou a montagem, e fez palestra para os atores, falou algo que me identifiquei: o adolescente tem que lidar com muitas ‘primeiras vezes’, mas como não tem repertório dessas vivências, não identifica que são ‘primeiras’, já acha que é a última vez. Tudo tem muita intensidade. Eu era desse time. Sofria muito de amor, vivia como se tudo fosse acabar amanhã”.
Devo muito da minha saúde mental à arte. Foi uma ferramenta que descobri neste processo que é importante pra mim até hoje – Leandra Leal
Além de mãe de uma das jovens, Leandra contracena e dirige a própria mãe, Ângela Leal na produção. Ângela não atuava desde ‘Sob Pressão‘ (2018), e as duas não estavam juntas no set desde a primeira versão de ‘Pantanal‘ (1990). Que tal? “Foi importante e emocionante. É minha mãe, mas uma atriz que admiro muito, uma profissional que me formou também. Era um lugar de realização muito grande tê-la ali, como minha mãe, mas também de vê-la trabalhando. E de observar a emoção dela ao me ver concretizando algo que batalhei. É um sonho. É só agradecer por termos trabalhado como atrizes juntas e por eu ter podido dirigi-la”. E anuncia: “Também estou montando o longa-metragem que fiz com a minha mãe, o ‘Nada a Fazer‘. Espero terminar até o ano que vem”.
Acho que a noção de finitude também é algo muito positivo em um lugar. Saber que acaba faz você ficar muito mais conectada com o que tem agora – Leandra Leal
Na produção, a artista interpreta Tereza, mãe solo e super protetora de Liz, vivida por Nina Tomsic. Na ficção, mãe de adolescente, e na vida, mãe de Júlia, de 8 anos, Leandra fala da experiência: “Tem uma triangulação interessante nisso tudo. A série é muito baseada na nossa adolescência, então revivi muita coisa, olhando como a adulta que eu sou hoje, e também pelo ponto de vista de uma mãe, que é quase o ponto de vista da minha mãe, de quando eu era uma adolescente. Então, posso dizer que revisitei muito mais a minha posição de filha fazendo a personagem, do que estar na pele de uma futura experiência que vou passar na maternidade. Percebi fazendo essa mãe, como é difícil esse momento do adolescente de afastamento, de individuação, mas que também é algo natural”, analisa, e faz o exercício de imaginar sua filha nesta fase. “Posso dizer que sou uma mãe preocupada, com a violência, por exemplo, ao mesmo tempo conversamos muito, são muitas possibilidades de diálogo”.
Casada com o fotógrafo e cineasta Guilherme Burgos, Leandra já revelou o desejo de ter outros filhos, mas não quer pressão sobre isso, portanto, mantém a descrição a respeito dos planos: “Posso dizer que a vontade permanece. É um desejo latente, vai rolar”.
Fui uma adolescente intensa. Sofria muito de amor, vivia como se tudo fosse acabar amanhã” – Leandra Leal
Perdas e ganhos
A série não é autobiográfica, mas sim inspirada e repleta de referências das experiências de suas criadoras no período da adolescência, com temas como saúde mental, responsabilidade afetiva, sexo, romance, festas e luto sendo colocados na roda. “Nós três fomos atravessadas por perdas durante esse período e isso foi um ponto de partida. Queríamos muito falar sobre isso, Você perder alguém nesta fase da vida é algo muito impactante, que te forma, muda seu ponto de vista radicalmente, a forma como você entra na vida adulta”, observa a atriz, que perdeu o pai, o advogado Júlio Brás, quando tinha 12 anos.
“A arte me ajudou a superar essa perda. Devo muito da minha saúde mental à arte. Foi uma ferramenta que descobri neste processo que é importante pra mim até hoje. É uma experiência definitiva. Vivências deste tipo acabam construindo você. Não sei diferenciar o que é bom ou ruim disso. Sou essa pessoa que perdeu o pai jovem. Ter noção da morte é um grande pêndulo, que fortalece muito a vida, o amor, a atenção que você dá para as pessoas que estão perto de você. Acho que a noção de finitude também é algo muito positivo em um lugar. Saber que acaba, faz você ficar muito mais conectada com o que tem agora”.
Ela produz
Em breve Leandra também poderá ser vista em cena nas séries ‘Justiça 2‘ e ‘Betinho‘, no Globoplay. Além do filme ‘Os Enforcados‘. “Também estou em fase de captação para produzir o filme sobre as personagens de ‘Cheias de Charme‘ (novela que foi sucesso em 2012, redescoberta pelas redes). Foi um trabalho com importância artística, mas também social, com grande impacto naquele momento, e temos muita vontade de encontrar essas personagens que nos marcaram tanto 10 anos depois. A Zola está produzindo, e eu, Taís (Araújo) e Isabelle (Drummond) somos co-produtoras”, conta ela, que também toca os projetos da produtora que tem ao lado das sócias Carol Benjamin, Rita Toledo e Maria Barreto, a Daza. “Essa foi uma busca por autoralidade, liberdade”.
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