Lázaro Ramos lança filme e avalia a paternidade hoje: “Minhas escolhas profissionais passam pelos meus filhos”

Lázaro Ramos fala sobre novo filme e escolhas profissionais (Foto: Pedro Napolinário)

*Por Brunna Condini

Lázaro Ramos fala com exclusividade ao site sobre um tema que permeia muitas das escolhas em sua vida: a paternidade. O assunto também está sendo levado aos cinemas em ‘Papai É Pop‘, que estreia 11 de agosto, próximo ao Dia dos Pais (14). No longa inspirado no livro de Marcos Piangers, com roteiro de Ricardo Hofstetter e direção de Caito Ortiz, Lázaro vive Tom, que precisa chamar a paternidade ativa para si depois da chegada de sua filha. A ideia é trazer o homem para o protagonismo da história, propondo de forma leve, uma reflexão sobre o tipo de masculinidade que se deseja construir (e desconstruir). Pai de João Vicente, 11, e Maria Antônia, 7, do seu casamento com Taís Araújo, ele pontua. “Falamos sobre o homem que se responsabiliza por essa função. Em 2020 eram 11 milhões sem o nome do pai na certidão de nascimento. Isso é grande demais para ignorarmos”.

Filho de Ivan Ramos, Lázaro fala sobre essa relação na sua experiência como filho: “Meu pai tem muitas qualidades. É um cara muito ético, um exemplo de justiça, provedor e presente. Mas é um cara que, por seu repertório afetivo, não demonstrava muito o amor através do abraço, do beijo ou de palavras carinhosas. E isso, em algum momento, fez falta, porque eu via exemplos de pais que eram assim. O tempo passou e percebi que ele agia desta forma por que não teve de outra, então nem sabia como fazer. Hoje construímos uma história muito bonita, depois desse primeiro momento, dessa falta, ainda tivemos para onde ir”, divide.

Lázaro Ramos fala da relação com o pai Ivan (Foto: Marcus Steinmeyer)

“Compensamos muito, meu pai é um cara que virou o meu parceiro de conversas, meu amigo. Nos abraçamos, nos aconselhamos. Hoje consigo perceber, inclusive, que a demonstração de afeto dele muitas vezes pode não vir pelo abraço e, sim, pela presença em todas as minhas estreias de algum projeto, por exemplo. Às vezes, ele vem até de surpresa e faz questão de estar lá e me aplaudir no final. É muito bom descobrir essa falibilidade que todos nós, pais, podemos ter. Descobri isso e comecei a captar todos os outros sinais que ele ia me dando”.

Eu e meu pai construímos uma história muito bonita depois desse primeiro momento, dessa falta e ainda tivemos para onde ir – Lázaro Ramos, ator e diretor

Paolla Oliveira e Lázaro Ramos em cena do filme ‘Papai É Pop’ (Divulgação)

Refletindo sobre sua própria vivência, ele elabora: “Virei outra pessoa com a paternidade. Meus valores mudaram, meus desejos, minhas paixões por algumas coisas se transformaram. Não consigo me descrever mais sem essa parte importante da minha vida. Hoje, talvez eu esteja dando um outro salto, porque as crianças vão crescendo e aí vem um outro momento assim: quem sou eu para além delas? Estou nesse momento de entender que sou pai, mas também sou marido, amigo, profissional. Estou tentando organizar todas essas caixinhas, aceitando a complexidade do que somos”. E acrescenta: “Uma coisa que mudou com esse Lázaro que nasce pai, é o controle do meu humor. Me tornei menos exigente, e mais compreensivo no processo de descoberta das crianças, e também mais atento às fases da vida delas”.

Minhas escolhas profissionais passam pelos meus filhos. Quero, sim, que tenham orgulho de mim – Lázaro Ramos, ator e diretor

Qual foi o momento mais difícil na sua trajetória de paternidade? “Saber lidar com as minhas frustrações, meus medos. E não querer construir a história dos meus filhos tendo como parâmetro a minha. Permitir que vivam suas histórias, tenham suas experiências, e fazer com que saibam que têm para onde voltar, têm meu afeto, meu acolhimento. Em vários momentos, eu senti que como pai eu não deixava meus filhos caminharem. Não deixava nem eles levantarem os pés para darem um passo e já alertava sobre um perigo. Então esse é um exercício que faço diariamente: saber que eu não sou eles, e que eles não são a minha pessoa. Esse é meu maior exercício, porque a minha tendência é ficar ali com um extremo alerta”.

Escolhas que fazem a diferença

Com 35 anos de carreira, o ator de 43, vem trilhando uma bela trajetória no teatro, cinema e televisão, além de também ser escritor de literatura infanto-juvenil. Com liberdade e recursos criativos ao alcance das suas escolhas, Lázaro está na Amazon Prime Video como showrunner, e aguarda o lançamento do seu terceiro longa como diretor, ‘Um Ano Inesquecível – Outono’. “Como criador tenho pensado muito no modelo de pai que tenho mostrado em meus projetos. As pessoas vão assistir ‘Um Ano Inesquecível – Outono’, e lá já tem um modelo diferente de pai, apontando para outro caminho. No meu livro para adolescentes, ‘Você não é invisível’, também. É um pai que está em construção e preocupado em criar um outro modelo de paternidade. Que não tem todas as respostas, mas não quer repetir o modelo de ausência, de não expressão do afeto. Esse lugar é tão danoso para os filhos, as mulheres, como para esses homens que ficam em um lugar de não participar dos momentos de sensibilização de uma família. E isso cria também um modelo de masculinidade prejudicial”, analisa.

Lázaro fala da inserção do novo modelo de paternidade nos projetos (Foto: Pedro Napolinário)

Lázaro fala da inserção do novo modelo de paternidade nos projetos (Foto: Pedro Napolinário)

“Minhas escolhas profissionais passam pelos meus filhos. Quero, sim, que tenham orgulho de mim. Acho que fiquei mais apaixonado ainda pela minha profissão – e isso passa por um lugar de vaidade – , depois do que eles nasceram. Eles não sabem quem eu sou, e a profissão da gente também descreve muito quem somos para nossos filhos. Percebo uma transformação clara das minhas escolhas e isso se dá muito por eles. Comecei a escrever para crianças, agora vou lançar meu primeiro livro para adolescentes, sempre contaminado das reflexões que vieram da minha convivência com meus filhos”.

Como criador tenho pensado muito no modelo de pai que tenho mostrado em meus projetos – Lázaro Ramos, ator e diretor

“Ser pai para mim é desafio e prazer” (Foto: Pedro Napolinário)

Desafio e prazer imensos

Lázaro revela que não sabe ainda como vai passar o próximo Dia dos Pais, mas dá uma dica para a família: “Vou gravar na véspera, e estou aqui na expectativa dos meus filhos e esposa fazerem algo para mim. O presente que eu mais gosto é surpresa (risos). Pode ser a coisa mais simples, mas gosto de ser surpreendido. E aqui em casa é assim. Fazemos isso uns para os outros. Estou ansioso para saber qual será desta vez”.

Já estou tentando trabalhar a ‘síndrome do ninho vazio’. Para daqui a pouco, quando forem viver suas vidas, eu não ficar perdido sem saber quem eu sou – Lázaro Ramos, ator e diretor

E tenta resumir a experiência dessa aventura. “Ser pai para mim é desafio e prazer. Quando você embarca nesta aventura de verdade, de estar presente, ser responsável, muda tudo. Passei a ter muito mais medo. Da minha ausência, de fazer falta. De não saber dar o melhor conselho, de não ter as respostas. Mas tenho muito prazer em conviver com os meus filhos. São as melhores companhias do mundo para mim e fico fascinado com suas descobertas”, diz.

Lazaro Ramos fala de projetos e das escolhas como artista “Foto: Reprodução/Instagram)

“Aqui em casa, eu e Tais somos dois doidos (risos). Muito preocupados, é uma loucura. Somos bem diferentes, mas em termos de educação e criação dos filhos, semelhantes. Isso é uma coisa muito bacana e inclusive alimento para nossa relação. Ficamos até nos policiando para quando um ‘morder’ o outro ‘assoprar’ (risos). Mas nossa tendência é reagir muito parecido em relação às coisas. Isso é outro exercício que fazemos, para não sufocar as crianças. Já estou aqui tentando trabalhar a ‘síndrome do ninho vazio’ (risos). Para daqui a pouco, quando forem viver suas vidas, eu não ficar perdido sem saber quem sou”.