* Por Carlos Lima Costa
O bullying e a exclusão de uma turma, quando muitas vezes os adolescentes não se sentem aceitos na vida social entre os alunos mais populares da escola, é o mote do filme Confissões de Uma Garota Excluída, que estreia na Netflix, no dia 22, com a atriz Klara Castanho no principal papel, vivendo Tetê, uma adolescente de 16 anos. Apesar da seriedade do tema, que na vida real muitas vezes deixa cicatrizes, no longa-metragem, baseado no best-seller Confissões de Uma Garota Excluída, Mal-Amada e (Um Pouco) Dramática, de Thalita Rebouças, tudo é tratado com bom humor, mas como um grande alerta. Aos 20 anos, bem próxima da idade de sua personagem, Klara acessou memórias e sensações vividas. Ela própria foi vítima de bullying.
“Eu acho que todo adolescente de alguma forma se sente meio fora da casinha, porque você está descobrindo quem é. Não ama o que vê no espelho e ainda encontra pessoas para indicar pontos que a incomodam. Desde muito cedo trabalhei como artista, assim eu tive uma armadura muito grande, um cuidado vindo da minha família, que foi um respaldo absoluto contra tudo que eu poderia passar de ruim. Meus pais filtraram muito do que poderia ter acontecido comigo, mas sofri bullying. Eu mudava bastante de estado, então, zoavam o meu sotaque, os meus dentes eram tortos, aspectos que me incomodavam muito e as pessoas resolviam praticar o famoso bullying, mas nada tão grave quanto o da Tetê, que era excluída ao máximo. Eu nunca cheguei a ser excluída. Sempre tive a minha tribo, mas que rolou bullying, com certeza”, revela.
Ao acessar as memórias, a atriz reflete sobre episódios e conclui que determinadas situações poderiam ter sido vividas com menos drama. O fato é que tem boas lembranças. “Tenho saudade da escola e como eu mudei. Vivi experiências diferentes. Meus amigos de São Paulo são bem diferentes dos que tenho no Rio. Eu sempre fui uma pessoa com amigos, mas não muitos. No filme, Davi (Gabriel Lima) e Zeca (Marcus Bessa), que se tornam amigos de Tetê na escola são muito representativos, porque simbolizam pessoas que cresceram junto comigo e que me trazem esse registro de adolescência com carinho, cuidado e saudosismo, porque, querendo ou não, terminei a escola há cinco anos”, ressalta.
No filme, sua personagem é uma stalker na internet. Um comportamento com o qual Klara se identifica. “Vou atrás de tudo. Qualquer dúvida que tiver, pode jogar na minha mão. Eu, minha mãe, tia e prima, a gente descobre. Então, temos essa semelhança. E sou completamente apaixonada pela autora Thalita Rebouças. A gente se encontrou em muitos momentos cruciais da minha vida. Ela me deu grandes presentes. Só tenho como ser grata pelo resto da minha vida pela Thalita e torcer pelos próximos projetos que virão”, observa Klara.
Esta é a terceira parceria da atriz com a escritora. Klara atuou no filme É fada!, inspirado no livro Uma Fada Veio Me Visitar, e em Tudo Por Um Popstar, inspirado em obra homônima. Thalita também é fã da atriz. “A Klarinha sempre foi a pessoa que eu pensei para essa história, tanto que quando a Sextante transformou o livro em audiolivro e me perguntaram quem indicava, eu falei: Klarinha. Desde que a gente estava rodando Tudo por um Postar, a Klarinha era a Tetê”, conta. O filme tem ainda no elenco nomes como Stepan Nercessian, Júlia Rabello e Rosane Gofman.
Thalita fala sobre os temas abordados no filme. “Eu não sei escrever sem fazer graça. Todo meu trabalho, todo livro e história, se não tiver humor não fui eu que fiz. Por mais dramático que seja sempre vai ter algo bem humorado, porque essa sou eu. Essa é a característica da minha escrita e com o Bruno (Garotti, o diretor), faço nosso segundo trabalho junto. Ele me traduz muito bem e assinamos o roteiro juntos. Eu falo que trabalhar com o Bruno é o melhor dos mundos, porque sou aquela que quer cortar e ele diz que não pode. Quanto ao humor, eu acho que com quanto mais leveza a gente fala sobre qualquer tipo de assunto, mais ele pode servir de reflexão. Se virar algo panfletário sobre bullying, vão falar que está vindo um monte de tiozão ensinar como é sofrer bullying e não é o caso. O humor sempre aproxima o adolescente da história”, pondera Thalita.
A autora de best-sellers explicou como cria suas personagens. “Eu amo criar gente. É o que mais gosto de fazer. Mas, ao contrário do que as pessoas pensam, o adolescente de hoje não mudou. É o mesmo adolescente que eu fui, que o meu pai foi, porque as questões são as mesmas. O que muda é o mundo, o acesso dele às informações, mas a intensidade, as espinhas, os amores não correspondidos, tudo continua igualzinho. Então, não é difícil criar personagens. É delicioso me colocar no lugar delas, ir lá para os meus 14 anos. A Tetê tem muito do que eu fui com 14, 15 anos, sabe, uma graça que se odiava quando se via no espelho, que só via tudo aumentado, uma lente de aumento para todos os tipos de defeitos. Agora, é maravilhoso esse momento de ver o que saiu da minha cabeça virar carne e osso. Graças a Deus, o Bruno e outros diretores com quem eu tenho trabalhado têm me deixado fazer parte e sugerir, dar mil pitacos em tudo, não só na escolha dos atores, como na caracterização, no figurino, isso me deixa muito feliz, porque é o universo que saiu da minha cabeça”, explica.
Vários best-sellers de Thalita tem se tornado sucesso no cinema. Ela reflete e explica como é ter papel tão importante nessa área. “Eu amo fazer parte sim. O filme nacional da Thalita criança e pré-adolescente era “Os Trapalhões”. Um dia, em uma pré-estreia minha, uma mãe falou: “Você tem noção de que você está virando Os Trapalhões, que todo ano a gente espera um filme seu?.’ Fiquei tão amarradona. Esse foi o maior elogio que eu podia receber, porque eu esperava os filmes dos Trapalhões. Essa pandemia meio que me jogou na cara a importância que a arte tem. Como os livros, histórias podem ajudar pessoas para o melhor. É bacana saber que há 20 anos faço companhia para tantos adolescentes, através dos livros e que eles não enjoam de mim. Pelo contrário, continuam indo me acompanhar nos cinemas, nos streamings da vida”, vibra.
Quando mais nova, Thalita curtiu filmes como A Garota de Rosa Shocking e Curtindo a Vida Adoidado. “Eles vão estar para sempre na nossa memória por terem feito parte de um momento muito importante da nossa vida e eu fico muito lisonjeada e me sinto privilegiada por ter sido escolhida pelos adolescentes, por me sentir companhia deles, então, é isso, uma sensação de orgulho danado”, acrescenta Thalita.
Atualmente, as obras dela naturalmente são adaptadas para o cinema. “Agora, que eu estou fazendo filme, escrevendo o quarto livro da série confissões, estou me inspirando nos atores que deram vida aos personagens, não tem como. Isso é muito louco e bacana ao mesmo tempo. Na verdade, desde que comecei a escrever, me perguntam quando o livro ia virar filme. Hoje, acho realmente que os meus livros são cinematográficos, que você lê querendo ver aquilo na tela, mas antes do cinema entrar na minha vida, nunca aconteceu de escrever pensando em um ator. Agora, já escrevo pensando no que vi no set. Está acontecendo o contrário: os atores que estão me inspirando a escrever”, admite.
E relembra o processo do livro que inspirou o atual filme. “Essa história é importante para mim. Quando comecei a escrever, perguntei no Instagram quem já tinha sofrido bullying. Recebi mais de cinco mil mensagens de gente de 15, 17, 20, 30, 40 e aí entendi o quanto as marcas do bullying prejudicam, acompanham as pessoas e como isso pode fazer mal, ali eu falei como é importante falar sobre isso agora. Já tinha abordado o tema no Ela Disse, Ele Disse. Na Tetê é muito mais, tem a questão do bullying familiar, da autoaceitação dela. Eu acho que é um livro muito maduro. Ali eu meio que atingi a minha maioridade digamos assim”, avalia Thalita.
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