Kizi Vaz: Tive crises de ansiedade no início da pandemia, mas o sonho é trabalhar muito para dar uma casa à família


A atriz se destaca em produções da Globo e da Record, e celebra os resultados. Além disso, Kizi compartilha a experiência de ser mãe de um quase adolescente, fala do Nós do Morro e do seu projeto artístico e social em Caxias e desabafa sobre os percalços durante a pandemia: “Hoje estou bem, mas o início da pandemia foi um momento muito difícil na minha vida, porque fiquei sem trabalho. A área cultural foi uma das que mais sofreu. Fiquei pensando o que ia fazer da vida, como ia pagar as contas, aí a ansiedade veio com tudo”

Kizi Vaz: Tive crises de ansiedade no início da pandemia, mas o sonho é trabalhar muito para dar uma casa à família

*Por Brunna Condini

Kizi Vaz pode ser vista em produções simultâneas na Globo e na Record. Em ‘Ilha de Ferro’ e na novela ‘Gênesis’, a atriz vive personagens separadas pelo tempo e com que se identifica. “Na série, interpreto a Suellen, uma taifeira que também trabalha na cozinha da plataforma, que é o principal cenário da história, e se envolve com dois petroleiros, o Fiapo (Jonathan Azevedo) e o Brandão (Neco Villa Lobos), com quem ela casou. Suellen é intensa. Nunca tinha feito nenhuma série e tem sido ótimo viver essa personagem, inclusive na segunda temporada da produção, que está disponível na Globoplay”, celebra.

“Já na novela, tenho em comum com a Kamesha o fato dela ser uma mãezona. Eu também sou mãe, tenho um filho de 13 anos, o Pedro Luiz, e como a personagem, também sou uma mãe leoa. Por mais que a Kamesha tenha esse amor imenso pelo Faraó, ela coloca em primeiro lugar o filho dela. Quem é mãe sabe que fazemos de tudo por um filho. Me identifiquei muito neste lugar”.

"Faço a Suelen, uma taifeira que também trabalha na cozinha da plataforma, o principal cenário da história, e se envolve com dois petroleiros, o Fiapo (Jonathan Azevedo) e o Brandão (Neco Villa Lobos). Suellen é intensa" (Reprodução)

“Faço a Suelen, uma taifeira que também trabalha na cozinha da plataforma, o principal cenário da história, e se envolve com dois petroleiros, o Fiapo (Jonathan Azevedo) e o Brandão (Neco Villa Lobos). Suellen é intensa” (Reprodução)

Aos 37 anos, a carioca segue compartilhando a identificação com os universos das personagens. “Fazer uma novela bíblica está sendo uma grande experiência. Vim se uma família evangélica, então sempre li e estudei muito a Bíblia. Aliás, leio até hoje. Não faço parte de nenhuma igreja, mas me considero evangélica pelas minhas crenças, só acredito em Deus e Jesus Cristo, por exemplo”, revela a atriz, que também está no filme ‘A Suspeita’, lançado no Festival de Gramado, ao lado de Glória Pires. “Além disso, a trama se passa em uma parte da Bíblia que gosto muito, o Gênesis. Principalmente essa fase de José, acho muito bonita, toda a superação. A história da minha personagem, do Egito, tem muitas coisas de ficção, mas me identifiquei por já conhecer a história. A minha personagem não tem na Bíblia, tive que construir do começo mesmo e tem sido enriquecedor”.

A atriz e Isabel Fillardis em 'Gênesis', e Kizi na segunda temporada de 'Ilha de Ferro', disponível na Globoplay (Reprodução)

A atriz e Isabel Fillardis em ‘Gênesis’, e Kizi na segunda temporada de ‘Ilha de Ferro’, disponível na Globoplay (Reprodução)

O encontro com a arte

A menina que cresceu no Jardim Primavera, bairro simples de Duque de Caxias, município da Baixada Fluminense, descobriu a paixão pelo teatro na escola, mas queria mais. “Vim de uma família pobre e por lá não tinham opções. Minha mãe viu uma entrevista com o Guti Fraga e o Nós do Morro. Mas ainda não tinham vagas para quem não era do Vidigal, quando abriram, dois anos depois, fiz o teste e chorei muito quando fui aprovada”, recorda. “Acabei me mudando para o Vidigal, porque além da travessia Caxias-Vidigal ser longa, também tinha a questão da grana, às vezes não tinha o dinheiro da passagem. Então, para poder fazer teatro, fui dividir uma casa com três amigas lá e arrumei outro emprego na Zona Sul, já que em Caxias trabalhava em uma loja”.

"O Nós do Morro é minha segunda casa. Tudo que eu sei vem de lá, é minha base artística. Aprendi muito com o Guti Fraga, com a Fátima Domingues. O Vidigal me abraçou" (Foto: Mabru Rodrigues)

“O Nós do Morro é minha segunda casa. Tudo que eu sei vem de lá, é minha base artística. Aprendi muito com o Guti Fraga, com a Fátima Domingues. O Vidigal me abraçou” (Foto: Mabru Rodrigues)

Kizi lembra exatamente quando percebeu que o sonho de viver da profissão poderia se tornar real. “Em 2012 estreei a primeira peça profissional da companhia em Portugal e foi um sonho pra mim. Depois deste espetáculo, tudo mudou, porque muitos produtores de elenco iam ver as peças do ‘Nós’. Acabaram me chamando para fazer cadastro na Globo e na sequência me chamaram para a novela ‘Salve Jorge’. Entrei como elenco de apoio e no meio da trama consegui um personagem, foi maravilhoso. Mas entrar como elenco de apoio foi importante, não tinha experiência em estúdio. Pude observar e aprender”. E acrescenta, emocionada: “O Nós do Morro é minha segunda casa. Tudo que eu sei vem de lá, é minha base artística. Aprendi muito com o Guti Fraga, com a Fátima Domingues. O Vidigal me abraçou. Morei 13 anos lá, tenho um amor muito grande por esse lugar. É uma pena que hoje estão sem patrocínio, parece que fizeram uma ‘vaquinha’ recentemente para seguir. Acho um absurdo. Uma companhia com quase 40 anos de existência, tanta gente boa saiu de lá, ficar sem apoio cultural. Muitos projetos em comunidades estão sem patrocínio, é muito triste”.

Em cena no 'Nós': "É um absurdo uma companhia com quase 40 anos de existência, tanta gente boa saiu de lá, ficar sem apoio cultural. Muitos projetos em comunidades estão sem patrocínio, é muito triste” (Acervo pessoal)

Em cena no ‘Nós’: “É um absurdo uma companhia com quase 40 anos de existência, tanta gente boa saiu de lá, ficar sem apoio cultural. Muitos projetos em comunidades estão sem patrocínio, é muito triste” (Acervo pessoal)

O encontro com o maior amor do mundo

Foi também na companhia criada por Guti Fraga em 1986, que a atriz conheceu o também ator e professor de teatro André Santinho, com quem teve Pedro Luiz. “Essa maternidade não foi programada. Quando entrei para o Nós do Morro, conheci o pai dele, que foi professor do projeto, um dos primeiros alunos e ajudou a construir aquilo ali. Posso dizer que foi tudo muito rápido: nos apaixonamos rápido, engravidei rápido e terminou tudo rápido (risos). Sempre falo para o André que nós precisávamos do Pedro em nossas vidas. Ele veio para iluminar nossos caminhos. Eu sempre quis ser mãe e ele ser pai. E posso dizer que filho não bloqueia sonho de ninguém. Minha mãe me apoiou e fui mãe aos 23 anos”, conta.

"Pedro veio para iluminar minha vida. Filho não bloqueia sonho de ninguém. Minha mãe me apoiou e fui mãe aos 23 anos” (Reprodução Instagram)

“Pedro veio para iluminar minha vida. Filho não bloqueia sonho de ninguém. Minha mãe me apoiou e fui mãe aos 23 anos” (Reprodução Instagram)

“Hoje meu filho é quase um adolescente e é muito meu amigo. Tem coisas que falo para ele que não conto pra nenhuma amiga. Ele também tem essa parceira comigo, fala sobre tudo. Sempre digo para o Pedro, que além de ser mãe dele também sou sua maior amiga. Estamos sempre fazendo coisas juntos. Acredito que estou num bom caminho como mãe, porque é muito difícil educar. E é bom ver que estou criando um cara bacana. Até texto comigo ele passa. A maternidade é experimentar esse amor maior que tudo”.

Consciente do seu papel ao educar, Kizi comenta ainda: “Crio meu filho para não ser um homem machista e não ser preconceituoso, num todo. Meu filho é branco, então sei que tenho uma grande responsabilidade porque ele tem uma mãe negra. Também fico muito de olho nas brincadeiras no colégio, em tudo que pode virar bullying. Outro dia ele me contou que viu na escola uns meninos implicando com outro, que é negro. Disse pra ele que tinha que tomar partido, não pode deixar acontecer. Sem violência, mas no diálogo, falar com a direção do colégio, por exemplo. É neste lugar que procuro educá-lo, para ser alguém com empatia e que se posicione”.

O encontro com a serenidade

Esses quase dois anos de pandemia tiveram impactos incalculáveis até agora na vida de milhões de brasileiros. As apreensões no período vem comprometendo a saúde mental de muitas pessoas. E Kizi não foi exceção. “Hoje estou bem, mas o início da pandemia foi um momento muito difícil na minha vida, porque fiquei sem trabalho. A área cultural foi uma das que mais sofreu. Fiquei pensando o que ia fazer da vida, como ia pagar as contas, aí a ansiedade veio com tudo”, divide. “Já havia feito um tratamento para ansiedade em 2019, porque tive crises absurdas, de parar no hospital. Me tratei e parei de tomar remédio, mas veio a pandemia e as apreensões, então voltei a tratar, fazer terapia, e inseri a meditação e a yoga na rotina. Além dos exercícios físicos e das orações. Sou uma mulher de fé, oro todos os dias. Isso tudo vem me trazendo equilíbrio”.

“Tenho trabalhado, conseguido pagar as contas, mas por mais que você esteja ok, não está tudo bem. Tem gente passando muita dificuldade, fome. Isso me perturba muito” (Foto: Mabru Rodrigues)

“Tenho trabalhado, conseguido pagar as contas, mas por mais que você esteja ok, não está tudo bem. Tem gente passando muita dificuldade, fome. Isso me perturba muito” (Foto: Mabru Rodrigues)

A atriz, que criou o projeto ‘Curta Arte Caxias’, afirma que mesmo que as coisas estejam mais equilibradas em sua vida, não consegue ficar alheia ao abandono que muitos vivem em nosso país. “Tenho trabalhado, conseguido pagar as contas, mas por mais que você esteja ok, não está tudo bem. Tem gente passando muita dificuldade, fome. Isso me perturba muito. Esse projeto em Caxias também tem tido o apoio do movimento do Wesley Teixeira, do ‘Movimenta Caxias’. Ele conseguiu cestas básicas para as famílias do projeto que faço, cartão alimentação, e tem ajudado muito. É importante procurar um projeto e ajudar, acredito, que de alguma forma, precisamos nos movimentar. Mesmo que você ache pouco, muitas vezes isso é a única coisa que aquela pessoa tem. Pense nisso”.

"É importante procurar um projeto e ajudar, de alguma forma precisamos nos movimentar. Mesmo que você ache pouco, muitas vezes isso é a única coisa que aquela pessoa tem”. (Reprodução instagram)

“É importante procurar um projeto e ajudar, de alguma forma precisamos nos movimentar. Mesmo que você ache pouco, muitas vezes isso é a única coisa que aquela pessoa tem”. (Reprodução instagram)

Feliz no caminho em que está, a atriz finaliza: “Ainda quero conquistar muitas coisas como artista e multiplicadora da minha arte. A minha meta além de avançar na carreira, é estruturar cada vez mais meu projeto em Caxias. Poder dar a eles a oportunidade que tive no Nós do Morro. Sonho também em dar uma casa para a minha família, para que a gente saia do aluguel. Esse é o maior sonho hoje, meu e da minha mãe, porque nunca tivemos um espaço nosso realmente. Fora isso, me sinto em um bom caminho. Tenho conseguido fazer cinema, TV, mas quero trabalhar cada vez mais, para ser mais reconhecida na minha área”.

“Ainda quero conquistar muitas coisas como artista e multiplicadora da minha arte" (Foto: Mabru Rodrigues)

“Ainda quero conquistar muitas coisas como artista e multiplicadora da minha arte” (Foto: Mabru Rodrigues)