Karine Teles: protagonista em ‘Elas por elas’ e estará em série como uma das vítimas de abuso sexual de João de Deus


Atriz dá vida à Carol no remake de ‘Elas por Elas’, novela das seis na Globo, e integra o elenco de ‘João Sem Deus – A Queda de Abadiânia’, série do Canal Brasil. Na produção, Karine interpreta Cecília, uma mulher que sofre abuso sexual do ex-líder espiritual. “Acho que não conheço nenhuma mulher que não tenha passado por alguma forma de violência ou de abuso. É um assunto doloroso, que traz muita mágoa, difícil, mas acho muito importante falar sobre ele hoje e sempre. E espero que um dia vire só um fato histórico, do tipo: “Houve uma época em que as mulheres sofriam violências sexuais e abusos, mas hoje em dia isso não é mais verdade”. Esse é o maior sonho”

*Por Brunna Condini

Amamos um novelão! E já estamos na expectativa para a estreia de ‘Elas por Elas‘ na segunda-feira, dia 25, na Globo. O folhetim exibido em 1982 originalmente no horário das sete, e escrito por Cassiano Gabus Mendes, ganhou um remake para o horário das seis. Se, na década de 80, a novela já transgrediu trazendo sete protagonistas femininas em um multiplot engenhoso, em 2023 passará por uma atualização em inúmeras abordagens. Karine Teles, uma das sete ‘mosqueteiras’, confessa estar emocionada no primeiro trabalho como protagonista. “As sete personagens são mulheres potentes, algo que temos visto cada vez mais na vida real. No entanto, ainda há algo muito desproporcional ao protagonismo masculino, tanto na literatura, quanto no audiovisual. E mais: somos personagens maduras. Isso é ótimo, porque a sociedade ainda vê o lugar das heroínas como as de mulheres mais jovens. Mais idealizadas romanticamente, fisicamente, em uma beleza padrão. E nós somos mulheres mais plurais neste aspecto. Acredito que isso é político, transformador e muito poderoso”, destaca Karine.

Em outra produção, que parece diametralmente oposta, mas não é – já que toca em temas sensíveis ao mundo feminino -, ela também protagoniza ao lado de Marco Nanini e Bianca Comparato, ‘João Sem Deus – A Queda de Abadiânia‘, minissérie do Canal Brasil que estreia em outubro. Karine reflete sobre a importância da ferramenta audiovisual para debater este tipo de tema: na produção ela vive Cecília, uma mulher que sofre abuso sexual do ex-líder espiritual. “Acho que não conheço nenhuma mulher que não tenha passado por alguma forma de violência ou de abuso. É um assunto doloroso, que traz muita mágoa, difícil, mas acho muito importante falar sobre ele hoje e sempre. E espero que um dia vire só um fato histórico, do tipo: “Houve uma época em que as mulheres sofriam violências sexuais e abusos, mas hoje em dia isso não é mais verdade”. Esse é o maior sonho”, deseja. 

 Karine Teles como Carol em 'Elas por elas': fisioterapeuta e neurocientista premiada, é professora universitária e vive para o trabalho (Foto: Divulgação/ Globo)

Karine Teles como Carol em ‘Elas por elas’: fisioterapeuta e neurocientista premiada, é professora universitária e vive para o trabalho (Foto: Divulgação/ Globo)

“Acontece todos os dias: assédios, abusos, estupros, feminicídios, é muito sério. Falar destes assuntos através da arte é importantíssimo, porque ainda existe um estigma muito grande de culpabilizar as mulheres pelo o que acontece com elas, o que dificulta muito ainda as denúncias. Então, nós precisamos dialogar para ter chances de curar e colocar um ponto final nesta realidade terrível. Os homens também precisam assistir esse tipo de trabalho e enxergar o tamanho do problema que temos que sanar”, frisa.

Somos mulheres maduras nesta novela, onde geralmente a sociedade não coloca o protagonismo – Karine Teles

"É político, transformador e muito poderoso fazer uma releitura dessa trama hoje" (foto: Reprodução/ Instagram)

“É político, transformador e muito poderoso fazer uma releitura dessa trama hoje” (foto: Reprodução/ Instagram)

João Sem Deus – A Queda de Abadiânia‘ tem predominância feminina na equipe, principalmente nas posições de liderança, nas quais as decisões criativas e executivas foram tomadas por mulheres. Além da direção de Marina Person, também se destacam por trás das câmeras a direção de fotografia assinada por Janice D’Avila, e a direção de arte por Fernanda Carlucci. O projeto também contou com o acompanhamento da Bem Querer Mulher, iniciativa de acolhimento integral às mulheres que sofrem violência no Brasil, para a leitura sensível dos roteiros e apoio presencial no set durante as filmagens das cenas mais delicadas. “Acho que a maior dificuldade deste trabalho é que a minha personagem é um compilado de algumas vítimas. Então, de alguma forma, ela tem essa responsabilidade de representar várias mulheres. A abordagem e a preparação foram feitas com muito respeito e cuidado, porque mexe com a dor de muita gente. As cenas nas quais eu relato os abusos foram extremamente fortes. E a do abuso foi filmada com a sensibilidade da direção. Acho que isso é mérito das mulheres que entendem esse lugar. Porque, às vezes, quando queremos falar de um tema dolorido, acabamos provocando dor nos outros”.

Karine Teles e Bianca Comparato são irmãs na série 'João Sem Deus - A Queda de Abadiânia' (Foto: Mariana Caldas)

Karine Teles e Bianca Comparato são irmãs na série ‘João Sem Deus – A Queda de Abadiânia’ (Foto: Mariana Caldas)

Descobrindo a televisão

Como uma longa trajetória artística, já que começou a carreira no teatro em 1993, e no cinema nos anos 2000, Karine fala da primeira protagonista. “Ela chega em um momento em que estou descobrindo a televisão na minha vida. Me criei no teatro, que fiz muito, depois encontrei o cinema, onde construí um relacionamento muito sólido. E a televisão desta maneira mais intensa chegou recentemente. Sinto que chega em um momento em que já tenho uma certa maturidade, experiência e uma bagagem como atriz, mas ao mesmo tempo é um lugar novo. Então tem essa excitação da descoberta, o frio na barriga, que está sempre presente, mas nesse caso com mais intensidade. E me coloca em um lugar fresco, inovador. Acredito que não poderia ser em um projeto melhor e nem em companhia melhor. Estou muito feliz mesmo”.

Karine Teles é uma das protagonistas de 'Elas por Elas', próxima trama das seis da Globo (Foto: Divulgação/ Globo)

Karine Teles é uma das protagonistas de ‘Elas por Elas’, próxima trama das seis da Globo (Foto: Divulgação/ Globo)

Sobre a releitura do novo folhetim das seis, que mostra o reencontro de sete amigas depois de uma separação de 25 anos, a artista pontua: “São sete mulheres bem diversas e vão gerar identificação e empatia em muita gente. Isso me emociona, porque acredito no poder de comunicação do audiovisual. Acho uma ferramenta linda para nos sentirmos menos sozinhos, nos enxergarmos, nos questionarmos. Quando vemos os vilões, por exemplo, identificamos comportamentos que muitas vezes discordamos, e isso diz muito sobre nós. Ou quando vemos as heroínas e protagonistas, e também percebemos semelhanças a esse respeito. E isso te fortalece, te empodera. Por isso, que acho que neste nosso grupo plural e interessante, temos muita chance de chegar nas pessoas. É bem difícil que quem assista não se identifique com alguma delas”.

"São sete mulheres bem diversas e vão gerar identificação e empatia em muita gente. Isso me emociona porque acredito no poder de comunicação do audiovisual" (Foto: Reprodução/ Instagram)

“São sete mulheres bem diversas e vão gerar identificação e empatia em muita gente. Isso me emociona” (Foto: Reprodução/ Instagram)

Na pele de Carol em ‘Elas por Elas‘, uma neurocientista premiada e professora universitária, Karine constata onde a personagem a desafia: “Acho que ela não questiona as coisas e aos poucos vai descobrindo que tem muito a viver. Vai encarar isso de peito aberto. Com amor, honestidade, vontade. Carol é uma pessoa solar, feliz”. E destaca pontos de identificação: “Nos encontramos em muitos aspectos. Sou uma pessoa que também gosta de cuidar dos outros, das amizades. Tenho uma timidez parecida com a dela em alguns momentos, de ser uma pessoa muito bem resolvida no trabalho, mas que, muitas vezes na vida social, pessoal, é mais recolhida, reservada. Mas eu já vivi muito mais coisas que ela, já casei, tive filhos (ela é mãe dos gêmeos Francisco e Artur, de 12 anos). Tenho mais experiência de vida, neste sentido. Estou usando a minha memória da juventude, de quem eu era antes de viver essas coisas todas, e emprestando para essa mulher, que tem praticamente a mesma idade que eu, mas não viveu tudo o que eu já experimentei”.