* Por Carlos Lima Costa
Longe das novelas desde Esmeralda, no SBT, quando interpretou Graziela, sua personagem de maior sucesso, a atriz Karina Barum está de volta à TV, onde até 2010 ainda fez algumas participações. Sempre lembrada também pela manca Shirley, de Torre de Babel, papel revivido por Sabrina Petráglia, em Haja Coração, reprisada recentemente, ela deseja retomar com força total a carreira na televisão. Desde o dia 5, ela pode ser vista em A3, seriado com 7 episódios, exibido, às segundas, às 18h45, no canal por assinatura Prime Box Brasil, e em breve, começará a gravar a novela Gênesis, da Record.
Animada com os projetos, lembra que se afastou para se dedicar mais a sua única filha, Manuela, atualmente com 17 anos, e por insatisfação com as personagens que estavam surgindo. “Juntaram essas duas questões. Eu realmente estava querendo um momento para cuidar da Manuela e havia uma frustração de não rolar papéis interessantes, então, me retirei”, recorda. Mas frisa que ficou distante da TV. Em nenhum momento, abandonou a área artística.
Na última década, ela foi morar em Florianópolis, onde produziu, por exemplo, o espetáculo Destempo, no qual também atuou, e ficou ministrando a aula Interpretação para Cinema – Humor Irlandês, que já dava em São Paulo. “Quer dizer, nunca parei. Mas, depois de um tempo, senti vontade de voltar para a televisão. Não vou só ficar dando aula, gosto de atuar, de ter boas histórias. Sou inquieta. Isso fez com que eu dissesse: ‘vou voltar’.” E falou sobre o assunto com o diretor de cinema Guilherme de Almeida Prado, que a comandou no filme A Palavra, em 2012.
Agora, está bastante entusiasmada com esta retomada. A série A3 é um drama cômico que toca em assuntos tabus da década de 50, época em que se passa a história, como o desquite (no Brasil, o divórcio só foi legalizado em 1977) e a homoafetividade. Sua personagem, a protagonista Adalgisa é manipuladora. “A série foi bem recebida. É um produto bacana, tem linguagem diferenciada. Tem esse charme de ser ambientada nos anos 50, com uma produção minuciosa nos detalhes. O Beto (Ribeiro, que assina roteiro e direção) não teve pudores de imprimir o que ele acredita. Ao mesmo tempo que é drama, deixa entrar um humor sarcástico. Os textos são verborrágicos, tensos. A minha personagem tem falas fortes e preconceituosas, mas com audácia, como sendo a verdade. A mentira dela se torna a verdade”, explica Karina, ressaltando que o produto tem uma mistura do texto forte de Plínio Marcos (1935-1999) com a sutileza do Nelson Rodrigues(1912-1980).
“Na série não há mocinhos. É um mais vilão do que o outro. É quase como se entrasse como um voyeur olhando um clima pesado que você consegue rir da tragédia. Minha personagem é uma vilã, a matriarca, que defende o filho homossexual (vivido pelo ator Tom Muszkat) com unhas e dentes, mas faz qualquer coisa para conseguir uma imagem que ela acredita ser a boa para ele”, explica sobre a produção rodada em 2019. E acrescenta: “O preconceito da mãe é falta de carinho e amor pelo filho. Apesar de defendê-lo, ela não o ama. Nem todas as famílias eram iguais a da Adalgisa. Mas o preconceito era latente. Hoje, vemos uma liberdade de expressão, mas ainda estamos engatinhando. Na minha casa sempre foi natural essa questão do homossexualismo”, assegura.
“Hoje, existem cada vez mais pessoas de idade respeitando o que quando eram jovens não achavam natural. Mudaram a mentalidade, evoluíram. Antes do preconceito vem o respeito. Mas ainda tem muito para caminhar. As pessoas não devem ficar jogando suas frustrações em cima de alguém. Esse é um assunto que não precisa ser mais tabu. Quando vejo alguém falando qualquer coisa sobre outra pessoa, isso diminui quem está falando”, acrescenta ela.
Apesar dessa liberdade para se falar, Karina percebe ainda o preconceito em redes sociais. “Existe a liberdade. Mas quando alguém se expõe, vem a reação adversa, muitos vão te julgar, o que não gosto é de xingamentos. Temos dimensões grandes nas redes sociais. Me lembro quando eu era mais nova, quando ainda nem existia rede social, por eu ser pequena e magra, ganhei um apelido ofensivo. Eu tremia e suava quando o cara falava”, frisa.
No momento, ela está no Rio, fazendo a caracterização da novela Gênesis, da Record. Ela será Lia, mulher de Jacó (Petrônio Gontijo). “Enquanto Adalgisa é a capeta em pessoa, Lia é a unção, a paciência, a fé”, reflete ela, que ainda não começou a gravar. “Toda essa iluminação da Lia eu estou aprendendo e não tenho vergonha de dizer que aprendo com as personagens para a minha vida. Eu sempre procurei ser positiva, brincalhona, humorada. Sou muito família”, explica, ela que mora com a filha, Manuela, e com Lorde, seu cachorro da raça Golden Retriever.
Nascida em Brasília, Karina ainda engatinhava quando a família mudou-se para Porto Alegre. Depois, viveu anos entre São Paulo e Rio, mas não perdeu o forte sotaque do Sul do país. Há quase dez anos, ela está em Florianópolis. “Isso aqui é um paraíso, moro em vila de pescadores, é bom para descansar, refletir. No início, os mais velhos me falavam ‘você não era aquela manca da novela’. Aí depois viraram amigos. Os jovens, esses não lembram”, diz.
Sobre a retomada da dramaturgia na televisão, ela assegura que está sendo tranquila. “Não sinto dificuldade em retornar. Hoje, busco trabalhos de qualidade. Mas nada cai do céu, você tem que ir atrás, se mostrar. Estou aprendendo a me mostrar nas redes de forma positiva. Não sou muito ativa, mas preciso estar em movimento”, explica.
Segundo ela, a filha Manuela, que completa 18 anos em setembro, leva jeito para ser atriz, mas ainda não definiu que faculdade pretende cursar. “Ela chegou a fazer teste com o Guilherme de Almeida Prado para interpretar a filha da minha personagem. Ele gostou, mas era um diretor contratado. Uma produtora já havia escolhido outra jovem. “Se a Manuela quiser seguir a minha profissão, vou dar apoio necessário”, assegura. À princípio, Karina não planeja deixar Florianópolis, mas quer ter uma base no Rio para ficar quando tiver outros trabalhos. Em São Paulo, ela tem a casa da irmã, a cantora Vanessa Barum.
No momento, Karina está solteira. “É clichê, mas estou focada no trabalho, na família, para poder estar inteira. Sempre gostei de estar casada, mas o ideal agora é dar uma reconectada comigo mesma”, frisa ela, aos 50 anos. “Com muito orgulho. Parece que é o despertar para se cuidar mesmo. A pele já não é tão rígida, mas estou cuidando do corpo e da mente. Prospecto sempre uma Karina nova em vez de ficar velha, fico sempre melhor. É a minha tendência. Já decidi que vou morrer com 110 anos. Minha expectativa de vida é longa. Me sinto sempre renascendo como uma fênix. Hoje, eu vivo uma fase feliz, de descoberta, Não me vem o pensamento ‘ah, estou cada vez mais próxima da morte’. Eu não penso nela. Como disse, minha expectativa de vida é longa. Se você busca isso, fica mais sábia”, observa.
A pandemia, tem sido um período de certa forma turbulento. “Perdi o tio Gerson, irmão da minha mãe, e o Leo Douglas de Resende, que foi meu padrasto, que terminou de me criar. “Me entristece muito ver minha filha sem poder estar com os amigos. Acho que minha filha teve os sintomas da Covid-19, tinha perdido olfato, paladar, mas fiquei cuidando dela em casa. Passaram-se meses, também me senti mal, perdi o paladar, mas em dois dias estava bem, o corpo reagiu. Tenho horror de hospital”, lembra ela, cuja mãe, Leone, de 76 anos, contraiu o vírus da Covid-19, mas se curou.
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