Juliano Cazarré fala de vilão em ‘Fuzuê’, de conservadorismo, paternidade e diz que família numerosa pode aumentar


Depois do sucesso de ‘Pantanal’, o ator volta à TV com papel totalmente diferente em ‘Fuzuê’, nova trama das sete que estreia em 14 de agosto. Cazarré celebra a estreia no horário e o personagem que promete causar. “O Pascoal tem uma alma podre”, diz. Neste bate papo, ele também discorre sobre sua fé católica, posicionamento político, anseios artísticos, a relação com os cinco filhos, os desafios e conquistas com a caçula, Maria Guilhermina, nascida com Anomalia de Ebstein, que afeta as válvulas do coração, e divide: “Somos um casal aberto à vida. Essa é uma proposta que parece meio anacrônica nos dias de hoje, mas o que falamos quando casamos no religioso, que vamos ter todos os filhos que Deus mandar, estamos vivendo. Não evitamos”

*Por Brunna Condini

Um animado Juliano Cazarré conversou com o site na festa de lançamento de ‘Fuzuê’, próxima novela das 19h da Globo. Na trama de Gustavo Reiz, o ator vive o vilão Pascoal, um personagem bem diferente do seu Alcides de ‘Pantanal’. “Ao contrário do Alcides, o Pascoal tem uma alma podre. É inescrupuloso, não vai medir esforços para conseguir o que deseja”, define. Pai de cinco (Vicente, 11, Inácio,10, Gaspar, 3, Maria Madalena, 2, e Maria Guilhermina, 1), Cazarré comentava sobre a tranquilidade de voltar ao trabalho em plena recuperação da caçula, nascida com Anomalia de Ebstein, que afeta as válvulas do coração. “Maria Guilhermina está bem, em casa, se desenvolvendo, um passinho de cada vez. A situação dela é delicada, mas está muito bem, forte. Voltou muito melhor desde a última intervenção em São Paulo. E claro, isso me dá um pouco mais de tranquilidade para trabalhar. Foi bem difícil fazer ‘Pantanal’ neste sentido. Era a Letícia, em São Paulo, e eu aqui no Rio, com as crianças. Dessa vez espero que seja mais calmo. Eu já estava louco para trabalhar. Ator em casa, depois de um certo tempo, começa a ficar maluco (risos). Está sendo ótimo fazer algo tão diferente”.

O ator salienta que ama ser pai e não descarta que a numerosa família aumente. “Somos um casal aberto à vida. Essa é uma proposta que parece meio anacrônica nos dias de hoje, mas o que falamos quando casamos no religioso, que vamos ter todos os filhos que Deus mandar, estamos vivendo. Não evitamos”.

Juliano Cazarré fala de vilão em 'Fuzuê' e diz que a família numerosa pode aumentar (Divulgação/ Globo)

Juliano Cazarré fala de vilão em ‘Fuzuê’ e diz que a família numerosa pode aumentar (Divulgação/ Globo)

Fé e posições

Aos 42 anos, o ator é casado com a bióloga, stylist e editora Letícia Cazarré desde 2011, e faz questão de falar da fé que norteia a vida do casal. “Temos uma família católica. Me sinto no direito total de ensinar meus filhos dentro dessa mesma fé. Vamos à missa juntos, fazemos catequese no lar, mas respeitando uma coisa fundamental que é a liberdade de cada um. Deus nos faz livres. Como pai católico apenas dou a formação que tenho. Inácio, por exemplo, pediu para ser coroinha, ele escolheu. Ficamos felizes, claro”.

Ele comenta ainda o fato de ser considerado conservador por muitos. “Não me incomoda. todo mundo é conservador com aquilo que ama. Sou conservador com aquilo que amo: a família, o Brasil, a religião católica. Temos uma compreensão muito ruim do que é ser um conservador. Geralmente ligam a ser quadrado, retrógrado, ultrapassado, anacrônico. E não é isso. Alguém conservador preza pela prudência. Entende que a sociedade pode melhorar, mas deseja isso de uma forma paulatina. Não quer abandonar o que a gente tem de bom, por uma revolução que promete que tudo vai ser melhor se a gente deixar o passado e começar do zero. Sou prudente”, analisa.

Juliano Cazarré posa com a esposa Letícia e os cinco filhos do casal (Foto: Reprodução/ Instagram)

Juliano Cazarré posa com a esposa Letícia e os cinco filhos do casal (Foto: Reprodução/ Instagram)

O conservadorismo foi muito associado recentemente à extrema direita e ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Te incomoda a comparação? “O que me incomoda é o termo ‘bolsonarismo’ ser usado para todo mundo que está no espectro conservador ou está na direita. Tem gente que está na direita e não tem nenhuma admiração pessoal ou idolatria pela pessoa do ex-presidente. Acho que isso é um jeito de ‘demonizar’ quem pensa diferente. Chama logo de ‘bolsonarista’ e essa pessoa merece ser calada, perseguida, tirada do debate público. É preciso esclarecer isso. Não tínhamos um movimento conservador no Brasil, havia pouca gente falando de liberalismo econômico no país, isso vem aparecendo de poucos anos para cá. É preciso poder falar de tudo e toda posição merece ser escutada. Não dá para ‘cancelar’ ninguém por visão política. Nunca apoiei Bolsonaro claramente. É algo até engraçado, porque desde o último governo do PT, parei de falar de política. Durante os quatro anos de governo do ex-presidente jamais falei de política no meu perfil pessoal. Muito menos citando o nome dele. Mas, claro, as pessoas veem um homem católico, religioso e isso já me coloca no grupo conservador. Existem muitas posições na direita. Não sou ‘bolsonarista’. Quero que meu país mude, sonho ver um Brasil mais próspero, mas não sou de esquerda. Desejo um país mais igual, mas por outros caminhos”.

Sonho

Com mais de 20 anos de carreira, Juliano Cazarré pretende experimentar outras versões artísticas.  “Gostaria de escrever, mas ainda não encontrei essa força de vontade em mim. Sei que é um movimento da minha alma, que preciso melhorar. Tenho que me disciplinar a sentar e escrever, porque as ideias estão aqui. Acabei de fazer um livro de poesia com meu pai. Mas quero ter força de vontade para dar cabo de outras ideias. Uma das coisas que gostaria de falar, é essa luta do brasileiro contra o estado, que muitas vezes atrapalha a gente. É burocrático, um universo quase kafkiano. Acho que essa bagunça do nosso país daria um bom pano de fundo para uma história, sabe?”.

É um sonho conseguir escrever, um livro, roteiro, peça de teatro. Produzir algo meu, mais autoral. Embora eu tenha muito prazer em trabalhar no produto dos outros – Juliano Cazarré

Paternidade à flor da pele

Prestes a comemorar o Dia dos Pais com todos os filhos em casa, Juliano se declara: “Nunca sonhei ser pai de tantos, mas fico muito feliz de ver a família numerosa que temos. Nos abrimos para a vida e para família que tivéssemos que ter. Tem sido uma jornada gostosa, edificante. Ter uma família grande dá trabalho, mas a recompensa é incalculável”.

Ele também fala abertamente sobre a situação da caçula hoje, celebrando os avanços. “Maria Guilhermina está em homecare, com enfermeiro 24 horas, comigo ou Letícia em casa sempre. Ela faz três vezes fisioterapia por dia, fonoaudióloga, terapia ocupacional e toma suas medicações. Se alimenta por gastrostomia, uma sonda que vai direto na barriga, e continua com a traqueostomia, sem o suporte de oxigênio, mas precisa do respirador para fazer a expansão dos pulmões. A princípio, não vai mais precisar ir para São Paulo”, comemora.

Juliano Cazarré com a filha Maria Guilhermina (foto: Reprodução/ Instagram)

Juliano Cazarré com a filha Maria Guilhermina (foto: Reprodução/ Instagram)

“Os nossos filhos vivem plenamente a recuperação da Maria Guilhermina. Os Gaspar e a Maria Madalena são menores, os mais velhos entendem melhor que ela tem uma situação delicada. Mas todos passam pelo quarto dela, se comunicam como podem, brincam. Ela já reconhece os irmãos e sente o amor que recebe. Minha fé e da Letícia é o que mais nos segurou até aqui. entendemos que Deus apresenta a cruz pra quem ele ama. E não perdemos a fé quando soubemos que nossa filha viria com esse problema de coração. Entendemos que o sofrimento faz parte da vida. Não nos desesperamos, sabemos que cada pessoa tem ou terá seu momento difícil. Passamos por tudo com fé e esperança de que nossa filha vai superar o que vive e vamos vê-la sorrir, brincar, crescer”.

Letícia e Juliano Cazarré, com a caçula Maria Guilhermina (Foto: Reprodução/ Instagram))

Letícia e Juliano Cazarré, com a caçula Maria Guilhermina (Foto: Reprodução/ Instagram))

Vivendo intensamente a paternidade, Cazarré adianta: “Passaremos o Dia dos Pais em família, em casa. Provavelmente fazendo um churrasquinho, ficando com as crianças, e isso já está bom demais. Sou um pai presente. Estou com eles, vendo-os crescer de perto. Sei que o mais velho quer ser jogador de futebol, que o Inácio tem os dramas dele, mas é um menino muito intelectual, ama ler. Sei que o Gaspar é um menino muito inteligente e preciso ajudá-lo a canalizar essa energia para o bem. Eles sabem que podem contar comigo. Também sou muito carinhoso, dou muitos beijos e abraços neles. Muitas vezes, mais do que uma palavra ou discurso, o que precisam é somente de um abraço”.

E a nosso pedido fala diretamente para os pais de primeira viagem: “Calma. As coisas passam mais rápido do que você pode imaginar. Esteja sempre presente e ao lado da sua parceira o máximo que conseguir. Pegue seu filho ou filha no colo o máximo que puder. E aproveite a viagem, que dá trabalho, mas a vida é serviço, amor, então trabalhe pelos seus que terá uma família linda. Uma criança é sempre uma oportunidade de começarmos um relacionamento com um ser que nos ama incondicionalmente desde o primeiro dia de vida. Batalhe para não estragar essa amizade e ela vai durar a vida toda”.

Juliano Cazarré abraça os filhos Maria Madalena e Gaspar (Foto: Reprodução/ Instagram)

Juliano Cazarré abraça os filhos Maria Madalena e Gaspar (Foto: Reprodução/ Instagram)