*Por Brunna Condini
No elenco do remake de ‘Pantanal‘, que estreia no próximo dia 28, Juliana Paes volta ao horário nobre da Globo em grande estilo. A atriz que anunciou em seu Instagram há cinco dias que encerra seu vínculo fixo com a emissora após 21 anos – “Tornou-se plena a maioridade do tempo que passei nesta casa tão maternal, o que a Globo sempre foi pra mim. Sigo de uma nova maneira, não mais com contratos fixos, mas por obra. Minha decisão vem sendo conversada há um tempo e foi aceita com muito respeito e carinho pela direção” – é Maria Marruá na nova versão, personagem que foi imortalizado por Cássia Kis há 32 anos. “Sou fã da Cássia e topei na hora o convite. Como muitos brasileiros da minha geração, essa novela está em um lugar de memória afetiva, de conforto, de casa. Lembro de como meus pais ficavam sentados vendo. Da música ecoando pela casa, das araras voando, aquela atmosfera que se criava. Toca em um lugar de muita emoção. Tem um público novo, mas tem o espectador que vai sentir aquela nostalgia das boas”, contou a atriz, em coletiva realizada nesta terça-feira (15).
Sobre ser uma personagem emblemática e que pode, mais uma vez, marcar sua trajetória, Juliana se emocionou ao falar: “Maria Marruá foi forjada na dor, do que é antinatural. Perdeu três filhos. Forjada na dor de perder. Quando você não tem mais nada, você só tem a si mesmo, seus próprios instintos. Tentei trabalhar a Maria nesse lugar. Da dor, da solidão de perder coisas intrínsecas para o ser humano, como a identidade. Me senti conectada com os meus próprios desejos”.
Ela se transforma mesmo num felino? “Não vou dizer o que acho, dar spoiler. Mas talvez nesta versão, isso fique aí mais no mistério. Ela vira onça mesmo ou é falácia local? Ou as pessoas não estão acostumadas a ver uma mulher tão forte? Posso adiantar que não vamos ver nenhuma cena no estilo ‘XMen’ (risos), de transformação”.
“Conheci o Pantanal e foi maravilhoso. E começar as gravações lá foi fundamental. Vem uma energia contemplativa. O lugar te convida a isso: levantar as orelhas e lançar o olhar para fora. Isso fica impregnado. Tem muitos sons, é o tempo todo. A natureza chama e você silencia. Um silêncio preenchido de si mesmo. Você inevitavelmente entra em contato com sua natureza selvagem. Acho que o público vai se identificar com a redescoberta, que apesar de todas as dores, é possível encontrar um lugar de amor. Maria encontra esse lugar através do nascimento da Juma (Alanis Guillen), depois de perder o que lhe restava também, o companheiro da vida, Gil (Enrique Diaz). Minha identificação com ela vem através dessa necessidade de continuar, apesar de tudo”.
Juliana, conhecida pela entrega aos personagens, mas também pela atenção ao autocuidado na vida, mergulhou neste universo crú e de sofrimento da sua Maria Marruá, mãe da Juma (Alanis Guillen), abrindo mão de qualquer vaidade. “Vivemos dentro de um universo muito estético. Tenho recebido perguntas sobre isso, sobre a caracterização. Não é esforço nenhum para mim. É gratificante poder abrir mão da vaidade e da estética vigente. E ver beleza nisso. Vejo poesia nestas marcas do tempo, é um prazer poder abandonar essa mochila da vaidade, do perfeito. Me deleito vendo o resultado. O processo diário é catártico. Você senta com seu rosto de cidadã comum e depois está impresso no seu rosto aquele cenário”, divide.
“Ficamos imaginando como seria o rosto dessa mulher que nunca se protegeu do sol. Incluímos melasmas, marcas de expressão. Mas sem próteses, para ficar natural, por conta da definição de imagem que temos hoje. Maria tem cabelos brancos, que deixamos surgir. O cabelo meu natural, ficando branco, que ia dando a linha para os outros que estavam sendo feitos na caracterização. Sobrancelhas sem fazer, não de uma mulher maltratada, mas de uma mulher em que o sol agiu, o tempo agiu. A personagem acontece mesmo depois que você se vê pronto com a caracterização”.
Apesar de toda alegria com o trabalho, e os perrengues? “Para mim o mais difícil é quando dava vontade de fazer pipi à noite, voltando para a fazenda. Era abaixar atrás do carro e fazer (risos). E o medo de vir um bicho? (risos). Mas deu tudo certo”, revela. “Teve uma situação em cena também. Estava gravando como a Maria Marruá grávida, boiando, com os ouvidos submersos. Estavam mudando as câmeras, só escutava barulhos embaixo da água. Quando vi, já era a produção me tirando do rio correndo, tinha um jacaré na minha direção. Viu aquela ‘carcaça’ ali, boiando, aí já viu, né? Era muito jacaré para lá e para cá (risos)”.
E completa, falando sobre as expectativas com a estreia: “Cada personagem é uma gestação. Vai chegar um ‘filho’ novo, algo que nutriu e esperou, não sabe que cara vai ter, o jeito, porque essa recepção tem a ver com o público. Tem apreensão, nervosismo, ansiedade, e o desejo de ver essa ‘criatura’ ganhar luz, os olhos do público. queremos promover sentimentos, reflexão. Queremos emocionar”.
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