*Com Domênica Soares
Às vésperas de embarcar para os Estados Unidos, onde vai acompanhar o Sundance Film Festival, o ator, diretor e roteirista João Côrtes se viu às voltas com sua conta no Instagram hackeada e várias fotos apagadas. “Felizmente já recuperei e voltamos à programação normal”, diz ele com fairplay sobre uma constante que está acontecendo em redes sociais em todo o mundo. Então vamos voltar à programação normal também. O que João fará em Sundance? Prestigiará o pai, o produtor musical Ed Côrtes, que faz parte da lista de indicados a Melhor Trilha Sonora pelo documentário “The Truffle Hunters”, dirigido por Michael Dweck e Gregory Kershaw. “Sempre tive vontade de acompanhar o Sundance. E será uma grande oportunidade também para apresentar o meu longa-metragem, “Nas mãos de quem me leva” (ele assinou a direção e roteiro) a produtores e prospectar o máximo possível nesse sentido”.
Em bate-papo exclusivo ao site Heloisa Tolipan, João lembra que sua paixão pelo cinema começou desde criança. Ele sempre amou assistir filmes e séries, mergulhando na história e vivenciando medos, angústias, tristezas e alegrias. Foi em casa que ele aprendeu a apreciar as trilhas sonoras, a atuação de atores, o jogo das câmeras e toda a estética cinematográfica. “Fluiu tudo muito naturalmente. O cinema sempre teve o poder de mexer muito comigo. Com muita potência. Eu me lembro de sempre sair das salas de exibição ainda completamente imerso no universo do filme. Eu ficava umas duas horas ainda pensando em cada cena. Processando mesmo tudo. Isso me fez, inconscientemente, perceber que eu precisava estar ali na tela. Precisava viver e contar histórias”.
Segundo João, viver de cinema no Brasil é uma luta diária, trabalho para os fortes e corajosos. Tarefa para quem ama a sétima arte. “Não é nem perto de ser fácil, tanto em questão de bilheteria, quanto de financiamento e apoio à nossa cultura. Temos vivido um desmonte um tanto quanto assustador, mas paralelamente, eu fico extremamente orgulhoso de ver o quanto nosso cinema está evoluindo, se expandindo, contando histórias cada vez mais abrangentes e ousadas que representam o nosso povo”, analisa.
Múltiplo como ele só – com carreira no teatro e TV -, opina sobre os caminhos da TV aberta: “Acredito que ela sempre terá seu espaço, valor, além da importância na história da nossa cultura. E tenho certeza que vai seguir assim. Mas, ao mesmo tempo, eu acho incrível essa nova fase que estamos vivendo, com várias outras novas plataformas, novos conteúdos, novos caminhos. Isso só é positivo para os atores, roteiristas e diretores pela abundância de oportunidades surgindo, além de ser ótimo para o público por ter cada vez mais possibilidades de escolha do que assistir”
Sobre o cenário político do Brasil em relação às artes, João Côrtes comenta que estamos vivendo em uma fase bastante delicada. “Ir ao cinema, por exemplo, engrandece a alma, nos ensina, nos faz refletir e olhar além dos nossos próprios umbigos. Acredito muito na força do povo brasileiro, na capacidade criativa de nossos atores, roteiristas, diretores, produtores… O cinema brasileiro está nadando contra a corrente, mas está indo para o lado certo! E eu quero cada vez mais fazer parte e contribuir com essa história”.
Pensar o social é vital para João. No final de 2019 investiu no espetáculo inclusivo “A Mochileira do Espaço”, abordando dois temas extremamente atuais e importantes: sustentabilidade e bullying. “Através de um espetáculo de dança, canto e teatro, nós levamos esses temas e discussões para várias escolas públicas e CEU’s do estado de São Paulo. Além disso, criarmos oficinas para reciclar o lixo e transformá-lo em objetos fantásticos. Em cada comunidade, nós deixávamos uma composteira, e ensinamos as crianças a usar. Unir a arte com educação é uma fórmula muito eficiente. Você diverte, emociona e ensina. Quero poder fazer ainda mais projetos sociais e culturais sempre”, afirma.
Sobre redes sociais, o artista que passou pelo episódio de invasão de privacidade no seu Instagram diz que tem repensado muito a maneira de usar as redes. “Você depende delas para trabalhar, faz parte do ofício, faz parte do processo de divulgação dos seus projetos. São plataformas de network. Ao mesmo tempo, temos que ter muito cuidado com o quanto da nossa vida pessoal estamos dispostos a expor. Isso tudo tem que ser encarado com equilíbrio”, pontua.
João fala que espera na vida menos julgamentos. Explica que quando as pessoas se colocam mais vulneráveis, elas mostram quem realmente são. E quando isso acontece há uma percepção do quanto todo mundo é igual diante do mundo. “Todo mundo sente, sofre, tem inseguranças.Quanto mais a gente se unir e se humanizar mais livre e oxigenada será nossa sociedade”. reflete.
Seu maior sonho é fazer alguns cursos intensivos de atuação e roteiro e conseguir mostrar sua arte internacionalmente. E, é claro, continuar escrevendo roteiros e dirigindo filmes. Agora, ele se prepara para lançar o longa “Nas mãos de quem me leva” e o curta “Flush“, que escreveu e atuou com Nicolas Prattes. “Em 2020, estarei também na série americana-brasileira “O Hóspede Americano” da HBO, que conta a história do presidente americano Theodore Roosevelt (Aidan Quinn) e Marechal Rondon (Chico Diaz), quando ambos partiram em uma expedição no Rio da Dúvida, em Rondônia, no começo do século 20, e na série “Sala dos Professores” do canal CineBrasil, no qual interpreto Daniel, um professor de literatura de 28 anos que acaba de ingressar no colégio. Além disso, vou lançar “Elevador Gourmet“, um disco que contará com músicas originais minhas, além de algumas conhecidas pelo público com rearranjos com big band e orquestra, versões bem diferentes da originais”.
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