JFK tomava testosterona sim, e daí? Só isso justifica o fato de ele ter sido garanhão?


Apesar dos medicamentos, John F Kennedy fazia o tipo “o homem que amava as mulheres” e não perdia uma bocada, polarizando atenções, em seu casamento de vitrine, com o casal Taylor e Burton

Considerado uma das grandes personalidades do século XX, John F. Kennedy completou 50 anos de sua morte neste final de semana. Eleito em uma das disputas mais acirradas nos anos 1960, Kennedy foi o presidente mais jovem da história norte-americana, submeteu a Casa Branca aos cânones da sociedade do espetáculo e teve um mandato quase relâmpago, com apenas dois anos de duração (1961 a 1963). Por conta do cinquentenário de sua morte, em 22 de novembro de 1963, especiais da televisão, como a série de documentários que estão passando no GNT.Doc, têm pipocado a programação. E, entre todos os registros da data e especiais que celebram a sua vida na televisão, surgiram rumores, nos últimos dias, de que o presidente, conhecidíssimo pelos seus flertes e casos extra-conjugais, era refém de sete medicamentos diários, inclusive uma dose altíssima de testosterona (10 mg) o que, segundo noticiários – como o da CNN mexicana – talvez justificasse as famosas puladas de cerca. Todo esse tititi se deve à revelação ao público dos receituários fornecidos ao político pelos médicos da presidência.

Hoje em dia, é sabido que o político-sátiro flertou com quem pode e com quem não pode, e que seu caderninho de telefones era variadíssimo, com os os números particulares de atrizes, modelos, secretárias, jornalistas, enfermeiras, aeromoças, estudantes, prostitutas, estagiárias, casadas, solteiras, divorciadas e viúvas. Para ele, caiu na rede é peixe, e qualquer uma facilmente se deixaria levar pelo seu papo de galã canastrão, fossem elas virgens ou experientes. Quando ainda atuava no Senado, metade dos telefonemas recebidos em seu gabinete vinham de mulheres interessadas em um encontro com o poderoso político, segundo sua secretária na época, Evelyn Lincoln. Depois, quando já estava empossado como presidente, a coisa só piorou. A Casa Branca poderia facilmente mudar seu nome para Casa da Luz Vermelha ou, quem sabe, Casa da Mãe Joana, tal a quantidade de ninfômanas, starlets e wannabes loucas por prestígio que passaram por lá, dispostas a arrancar uma casquinha do garanhão presidencial.

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Entre todas elas, quem acabou sendo taxada, no final, como a vagabunda suprema foi a pobre Marilyn Monroe, uma vítima das anfetaminas e do desgastante e enlouquecedor star system de Hollywood. Kennedy se encontrou com a loura apenas quatro vezes, mas o famoso “parabéns para você”,  que ficou para a posteridade, se encarregou de fazer todo o resto. Fazer o quê, não é mesmo? Duas décadas antes de o caubói Ronald Reagan transformar o reduto presidencial em uma espécie de filial de Hollywood na Corte, JFK já havia sucumbido ao estrelato, e seu casamento de semi-fachada com a elegante Jacqueline Kennedy tinha se tornado tão estelar quanto a união de algumas duplas do cinema, como Katherine Hepburn e seu eterno amante Spencer Tracy ou o duradouro matrimônio da divertida Lucille Ball com o astro latino Desi Arnaz, entre outros. Cá entre nós, nenhum desses duos tão glamoroso quanto o primeiro casal, of course!

O escritor Gore Vidal que, por suas posições democratas, sempre foi muito próximo do casal Kennedy, foi um dos que logo percebeu que Jacqueline, cujo sonho, negado pela família, era ser atriz, foi quem catapultou o dia a dia da mansão presidencial a um patamar de cenário cinematográfico, tornando o cotidiano do casal número um em uma espécie de plôt, exibido não nos cinemas, mas nos telejornais e veículos de comunicação. Mas, a despeito desse roteiro de fantasia, JFK era um galanteador contumaz, daquele tipo de macho pegador.

No final, foi a maior loura do cinema em todos os tempos, a conturbada Marilyn, quem caiu na teia de Pan armada por Kennedy e seus asseclas-cafetões para se divertir às custas de um mito. Carente, a bombshell deve ter sofrido o diabo quando descobriu que era apenas uma espécie de boneca Barbie para marmanjos nas mãos do homem mais poderoso do planeta, e há quem afirme, entre seus biógrafos, que este fato colaborou para a derrocada final da estrela. Sua morte, aliás, ocorreu poucas semanas depois do tal aniversário e de ela, em seguida, ter sido demitida da Fox, por ter desobedecido as ordens superiores de não cantar na cerimônia do niver de JFK, já que as filmagens de “Something’s got to give”, estrelado por ela, Dean Martin e Cyd Charisse, estavam atrasadas. Pobre Marilyn.

Ainda assim, sempre havia quem dissesse, no meio artístico, que a estrela não passava de um depósito de fluidos masculinos. A sempre ácida Bette Davis – que contracenou com ela no início de carreira, no clássico “A Malvada” – afirmava com todas as letras que ela era uma vagabunda e havia quem fosse ainda mais sincero que Bette, espalhando aos quatro ventos que a louraça tinha se deitado com todos os astros de Hollywood, exceto a Lassie.  Pura maldade.

Curiosamente, um dos momentos mais tensos da passagem de Kennedy pela presidência americana – a crise dos mísseis soviéticos em Cuba, com a invasão da Baía dos Porcos que quase levou o mundo à Terceira Guerra Mundial – acabou eclipsada pelo tumultuado affair entre duas estrelas do cinema de visibilidade igual à do casal Kennedy: Elizabeth Taylor e Richard Burton. Os dois, de fato, tiraram um pouco os holofotes da Casa Branca.

Como todos sabem, Liz Taylor estava em temporada em Roma, filmando sua Cleópatra em Cinecittà, quando conheceu Burton e, em pouquíssimo tempo, o espaguete que os dois comiam pelas cantinas romanas começou a ficar um pouco mais melado de burro & sálvia do que o do resto do elenco. Taylor, que marcava presença nas front pages dos diários desde quando desabrochou para valer, no início dos 1950’s, andava comendo um dobrado para conseguir um pouco de privacidade, sobretudo depois de ter roubado o maridão Eddie Fischer da sua melhor amiga, Debbie Reynolds, a eterna mocinha ingênua de filmes-pipoca como “Cantando na Chuva”. No início , o novo casal (Liz e Burton) se encontrava às escondidas para flertar na Cantina Flavia, na Via Flavia. Mas, óbvio, o segredo durou pouco e, logo, os paparazzi apareceram. Naturalmente, a imprensa fez a festa e, desde então, a atriz não podia sequer bocejar que um fotógrafo enlouquecido saía de trás de um poste pronto a flagrar a diva e o galã, qualquer que fosse a situação.

Quando Liz chegou a Roma, cedida pela MGM aos estúdios Fox para estrelar “Cleópatra”, existia uma certa eletricidade estática no ar. Ao invés de priorizarem a crise dos mísseis, acontecimento gravíssimo, os tablóides há muito já se dividam entre enquetes sensacionalistas, tomando partido entre a loura-vítima (Reynolds) e a morena fatal de olhos violeta (Taylor). O próprio Papa havia declarado, indiretamente, através de um artigo da cúria publicado no jornal L’Osservatore Romano, seu repúdio à estrela destruidora de lares e dizem que ela, quando gravou a famosa cena da entrada da soberana egípcia na Roma clássica, sentada na liteira com aquela cabeça carnavalesca em forma de águia, temia que a multidão de 7 mil figurantes a vaiasse. Felizmente, nada disso aconteceu e Liz, apesar de ter acabado com a alegria de Debbie Reynolds, magnetizou a multidão que, ao invés de dizer “Cléopatra!“, bradava “Liz!”, provando que o Papa tinha menos força que a estrela. Foi ali, segundo alguns especialistas, que começou a revolução sexual, e a atriz logo recompôs a energia para consolidar o pé na bunda de Eddie Fischer e engatar de vez o romance com o sedutor Richard Burton.

Curiosamente, é neste momento, após a revelação ao público do tórrido enlace entre os dois atores, que a mídia se polariza entre os casais Taylor-Burton e JFK-Jackie.  Afinal, era a primeira vez na história que romances passados na vida palaciana tinham o mesmo apelo – e destaque – daqueles surgidos no show business, iniciando um novo momento na sociedade do espetáculo, aquele que introduzia uma alta dose de espetaculosidade ao universo da política. Coisa inédita, até então. E, se o pseudo conto de fadas de Kennedy e sua esposinha de vitrine já ocupava as manchetes há alguns anos, naquele momento já não era mais novidade nenhuma que ele se entregava às festinhas de cabide. Até Marilyn havia se encarregado de trazer isso à tona com o apagar de velinhas mais sexy da historia. Ela nunca mencionou uma palavra, mas precisava? Ótimo enredo, assim como o caso de amor surgido nos bastidores de uma mega produção de cinema na Itália. Tudo perfeito, portanto, para que a imprensa deitasse e rolasse nesses dois roteiros da vida real, apenas com o agravante que, como todo poderoso do mundo, JFK tivesse suas aventuras abafadas na mídia naquele momento.

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Voltando à revelação desta semana, é interessante salientar, contudo, que o comportamento sexual de Kennedy, a despeito de possíveis influências por medicamentos milagrosos, capazes de transformar políticos enfadonhos em latin lovers, era doentio por si só e que o presidente poderia facilmente se inserir como personagem da mitologia greco-romana, onde os heróis e deuses se dedicam compulsivamente ao sexo com quem come deliciosos bolinhos defronte da tevê, sem parar, em uma noite chuvosa. Sim, condicionar o voraz apetite por sexo de JFK aos comprimidos é, antes de qualquer coisa, tampar o sol com a peneira, coisa que não cabe bem historicamente, ainda mais quando o distanciamento do tempo possibilita uma análise mais seca – sórdida, mas real – dos acontecimentos, sem necessidade de panos quentes. O historiador Michael O’Brien escreveu em seu livro “John F. Kennedy’s Women” (Now and Then Reader, 2011) que JFK “era um namorador patológico e, normalmente, incapaz de ver uma mulher de outra forma senão a de objeto sexual”. E, se tanto JFK como Jackie Kennedy já viraram poeira há muito, não há motivo para não enxergar aquilo que todo mundo sempre soube: o bonitão da Casa Branca era comedor sim!

Fotos: arquivo

* Com Rafael Moura