*Por Jeff Lessa
No mês passado, o bailarino Wesley Schmitt fez sua primeira aparição na TV como ator. Foi na novela “As Aventuras de Poliana”, que vai ao ar diariamente às 20h50, no SBT, interpretando o tímido Jerry, rapaz com alma de artista que curte poesia e cinema, além de fazer parte de uma banda de rock. Nascido em Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, Wesley tem 23 anos, mas já pode exibir um currículo repleto de trabalhos e ótimas histórias para contar. “Jerry é introspectivo, mas me identifico muito com a sua vocação para as artes. Está sendo muito boa a experiência de fazer a novela”, diz o artista, que desde 2018 vem investindo tudo na carreira de ator.
Maduro e tranquilo, a entrevista com Wesley é como uma conversa com um veterano na carreira. O jovem é centrado, fala extremamente bem e tem seus objetivos traçados com clareza assombrosa, além de ser simpático, sincero e entusiasmado – características das quais nem todos os artistas de sua geração podem se orgulhar. “Fiz questão de ter uma conversa franca com o diretor para saber como estava me saindo. Nunca tinha trabalhado em televisão. No cinema, tem um diretor e um assistente, enquanto na TV são quatro diretores. É diferente do que eu imaginava”, revela. “Eu tenho acesso à direção, é tranquilo. Tive dúvidas em relação à entonação do personagem, se estava chateado, triste, indiferente e fui lá conversar”.
Gravando desde o dia 2 de abril – ou seja, com quatro meses e tanto de frente – a tranquilidade para “sentir” a história de Jerry é bem maior do que em produções apressadas e tensas, nas quais a equipe recebe os roteiros com dois ou três dias de antecedência: “Dá para entender o arco do personagem e perceber qual é a proposta dele. De qualquer forma, quando fizemos o ensaio geral, acertamos de primeira”. O jovem conta que, ao longo do tempo, desenvolveu um sentimento forte pelo trabalho na TV: “Hoje sinto um amor muito grande pelo set de gravação”.
Esse amor, porém, é um sentimento diferente do que emerge pelo trabalho em teatro, por exemplo. Diferente, veja bem, não estamos falando maior ou menor. Sem julgamentos: “A primeira diferença notável é a velocidade da troca de energia. No teatro, quando a gente encara uma cena triste, o choro vem na hora. Não dá para conter. Na TV, essa energia chega depois, quando nos vemos. E, atualmente, vem também através da rede social. No palco não tem como fugir da emoção, é na hora mesmo”.
Honesto, Wesley não se esconde atrás de falsas modéstias quando falamos sobre a autoavaliação do trabalho: “Eu gosto de me assistir. No dia 20 de agosto, eu me vi e depois verei de novo. Daqui a um ano, já não vou estar olhando esse trabalho, mas na TV você precisa ver o que criou – opina. “Já me questionei muito se essa disposição para me ver era uma questão de ego. Não é. É bacana se ver para poder se corrigir”.
“Se ver” é algo que o rapaz vem exercitando desde muito novo. Talvez venha daí sua autoconfiança e sua postura madura, que tornam a conversa tão agradável. Ele conta que seu começo na dança se deveu à hiperatividade. “Chegava a noite e eu estava cheio de energia. Minha mãe me dizia para fazer alguma coisa para gastar aquele excesso, embora nunca tenha me tratado como um problema. Eu tinha aulas pela manhã na escola pública quando a diretora anunciou que teríamos atividades extraclasse. Basquete, futsal, handebol, vôlei e dança. Aguentei o vôlei, mas optei pela dança”, conta Wesley. “Eu era o único menino entre dez meninas. Os colegas pegavam no meu pé, mas eu estava apaixonado pela dança contemporânea. O cheiro do carpete do teatro da minha cidade me dá saudade”.
Longe de desistir por conta de colegas, digamos, menos sofisticados intelectualmente, Wesley conta que não se importava com o bullying. “Eu não ligava. Dizia: ‘Eu sou o viado, mas são vocês que estão correndo suados atrás de uma bola e se abraçando, enquanto eu estou levantando garotas que se agarram em mim…’ Sempre fui rápido nas respostas”, dispara, rindo. Sua persistência o levou a se formar em atuação e direção para TV, cinema e teatro no Latin American Film Institute, em São Paulo, e a fazer oficinas com o ator e diretor Ciro Barcelos e com Marcio Rongetti. Também é possível conferir o trabalho de Wesley Schmitt em curtas-metragens como “Última Noite em Viena”, de 2018, dirigido por Daniel Faustino.
A indiscutível beleza física também levou o bailarino e ator a atuar como modelo. Hoje as portas estão abertas. Morando em São Paulo há quatro anos, mais precisamente no Butantã, o rapaz conta que está vivendo um sonho. “Quando vim para cá, não passava pela minha cabeça fazer TV. Fiquei pensativo quando peguei o personagem. Mas estou aprendendo e gosto de aprender. Estou vivendo. Sinto-me feliz por mim e pela equipe. Entrei sabendo que ia gravar um certo número de capítulos e decidi me entregar à televisão. Estou aproveitando a vida”, resume.
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