*Por Brunna Condini
A comédia ‘De Perto Ela Não É Normal’, dirigida por Cininha de Paula e protagonizada por Suzana Pires, traz um time estelar em seu cast, que inclui Ivete Sangalo, Gaby Amarantos, Angélica, Marcelo Serrado, Heloisa Perissé, Ricardo Pereira e Jane Di Castro, que morreu sexta-feira (dia 23), vítima de um câncer, Chega, enfim, aos cinemas (abertos) sexta-feira (dia 29), além de também ser lançado em formato multiplataforma a partir de 5 de novembro pelo selo Première Telecine, trazendo questões como feminismo e diversidade em seu roteiro, com leveza e humor. A estreia aconteceria inicialmente em fevereiro deste ano, mas por conta da pandemia da Covid-19 foi adiada.
A comédia, adaptada da peça homônima de Suzana é seu primeiro roteiro para cinema em parceria com Martha Mendonça e Renato Santos, e foi filmada em 2018, contando a história de Suzie, uma mulher infeliz no casamento e com sua a vida, que decide buscar outro caminho de realização. “Foi um investimento de 3 mil reais em 2005, passou pela peça e chegou a esse filme. Acho esse projeto um baita case de sucesso e de negócio dentro do que fazemos”, diz Suzana, que além de atriz é fundadora da ONG Dona de Si, que empodera outras mulheres que buscam empreender.
A atriz e roteirista interpreta três personagens no longa e conseguiu levar para a telona um time de peso. Em coletiva nesta terça-feira Suzana brincou ao responder como conseguiu juntar tantas estrelas no mesmo filme: “Não tinha um orçamento muito grande, mas eles são meus amigos, foi uma ação entre amigos”. Em tempo, o filme rodado em 2018 custou 7 milhões de reais e teve como principais os pontos turísticos do Rio de Janeiro.
O filme é a primeira produção brasileira a formalizar o comprometimento com a cláusula de inclusão (“inclusion rider”), que ficou mundialmente conhecida após o discurso de agradecimento da atriz Frances McDormand no Oscar de 2018. A medida determina um nível de diversidade de gênero, racial e de portadores de deficiências tanto no elenco quanto na equipe técnica. “Diversidade e inclusão são temas seríssimos para mim. É preciso quebrar estas barreiras. Trilha sonora, por exemplo, no Brasil, só tinha homem fazendo, e a Gaby Amarantos nos ajudou a encontrar a Anna Tréa. Não é fácil mudar o padrão no mercado e é preciso estar comprometida. E descobrimos talentos na parte técnica”, diz Suzana, que também exalta as bandeiras importantes que o filme traz, como o feminismo. “A peça já tinha todos estes temas, já falava de coisas que as outras mulheres não estavam falando. Mas o mundo mudou, e que bom. Hoje os temas do filme estão sendo todos debatidos na vida real”.
Furacão Ivete Sangalo
No meio de outro trabalho, Ivete Sangalo entrou e saiu da coletiva feito o furacão que é, mas deixou seu carinho e deu seu recado. “Faço uma professora, a Dayse Aparecida. Eu e Suzie somos amigas há muito tempo, sempre pedi para ela fazer um papel para mim, que eu desse conta, lógico”, recorda a baiana. “E ainda disse à ela que embora eu seja muito bem-humorada, não sabia se teria timing de humor, que é difícil de fazer. E ela fez essa personagem deliciosa para mim: uma mulher inteligente, mas muito dentro de um universo de conteúdos, suas filosofias, teorias. Muito do devaneio, mas doce, amorosa, querendo passar conhecimento para esses alunos”, detalha.
“Mudei a voz, quis fazer algo diferente. Me inspirei em um maquiador amigo meu, o Silvio, nós fazemos uma voz muito nossa (faz a voz). E fiz isso saboreando o texto. Pensei: vou me divertir. Sem vergonha. Isso é ser ator”.
A cantora falou também do processo de composição da personagem. “Vou dizer que quem me ajudou a compor personagem foi Antônio Fagundes, quando fizemos a novela ‘Gabriela’ (2012). Ele me disse: ‘Ivete, quando você tiver uma personagem e tiver que se distanciar para fazer, crie um subtexto, uma historia para ela. Então, quando me falaram da personagem neste filme, a imaginei como uma mulher doce, que simplesmente quer que você aprenda, deseja passar conhecimento. É uma mulher que se basta com ela e seus livros”.
Falando de atuar como uma de suas paixões, Ivete brinca dizendo que busca oportunidades para interpretar mais: “Estou aqui buscando, gostaria muito. Se tem uma coisa que gosto é de atuar. Tive imersões muito importantes nesta área. Quero estudar e aprender. É uma das minhas facetas como artista. Gosto de contar histórias, de gente”.
E avalia seu desempenho: “Vou lhes dizer uma coisa: eu arrasei. Acho que arrasei muito. Tinha acabado de ter minhas filhas quando gravamos. Foi intenso. Filmamos em um dia o que filmaríamos em três”.
Ivete também defende a liberdade das escolhas femininas, uma das pautas do longa. “Cada mulher precisa reconhecer de fato o que a faz feliz. Não é um modelo. Se perguntar: você está bem na sua vida, com o que faz? Se você está feliz limpando a sua casa, cuidando dos filhos, cozinhando, um trabalho exaustivo, tudo bem. É isso. Mas por outro lado, se você trabalha fora, não tem tempo nem para um drink com as amigas, mas também está feliz, ok. A felicidade está naquilo que estamos conscientes de ser felicidade. E quanto mais gente feliz, menos dedos apontando os outros”.
Potência
Em um filme escrito, protagonizado e dirigido por mulheres, além de ter um elenco majoritariamente feminino, Gaby Amarantos faz Maria Pia, uma advogada poderosa e bem-sucedida. “Só posso agradecer de fazer parte desta história. Eu como uma mulher negra, que veio do Norte. Lembro que quando conversei com a Suzie sobre fazer a Maria Pia, perguntei: ‘mas será que essa mulher existe?’. E ela falou uma coisa muito linda: ‘Se não existir, vamos inspirar para que ela exista. Minha personagem faz uma coisa que nós mulheres estamos fazendo cada vez mais na vida: apoiando umas às outras. Sororidade, feminismo. E essa discussão vem para o cinema de uma forma leve, mas com representatividade”, diz Gaby, que também tem na trilha do filme a canção ‘Eu sou mais eu’. “Contei para a Suzana que a minha primeira aspiração artística foi como atriz, fazia teatro em Belém, mas aí veio a música de uma forma muito arrebatadora”.
A cláusula de inclusão fez uma mulher negra e amazônica se sentir mais à vontade, pela representatividade? “Sim. É muito importante esse olhar. E entendermos a continentalidade deste país, que é tão enorme. É importante olhar para o Brasil como um todo e não só neste eixo Rio –São Paulo”, observa. “Além disso, o filme toca em vários temas importantes com leveza. Acho que essa é a melhor militância que podemos fazer, com humor, alegria e amor. Sou na base do amor e do time do amor”.
Artigos relacionados