Ivete Sangalo vive professora no cinema: “Minha participação em ‘De perto ela não é normal’ foi intensa. Arrasei”


Cantora interpreta a professora Dayse Aparecida no filme baseado em peça de Suzana Pires (a protagonista também), que chega aos cinemas sexta-feira (29) e formato multiplataforma a partir de 5 de novembro pelo selo Première Telecine. “Tinha acabado de ter minhas filhas quando gravamos. Foi intenso”, disse. A comédia dirigida por Cininha de Paula traz no elenco nomes como Angélica, Marcelo Serrado, Heloisa Perisse e Gaby Amarantos, que destaca o fato de o longa ter sido escrito, protagonizado e dirigido por mulheres, e comemora: “Minha personagem faz o que as mulheres na vida real cada vez mais reforçam: o apoio umas às outras. Sororidade, feminismo. E essa discussão vem para o cinema de uma forma leve, mas com representatividade”

*Por Brunna Condini

A comédia ‘De Perto Ela Não É Normal’, dirigida por Cininha de Paula e protagonizada por Suzana Pires, traz um time estelar em seu cast, que inclui Ivete Sangalo, Gaby Amarantos, Angélica, Marcelo Serrado, Heloisa Perissé, Ricardo Pereira e Jane Di Castro, que morreu sexta-feira (dia 23), vítima de um câncer, Chega, enfim, aos cinemas (abertos)  sexta-feira (dia 29), além de também ser lançado em formato multiplataforma a partir de 5 de novembro pelo selo Première Telecine, trazendo questões como feminismo e diversidade em seu roteiro, com leveza e humor. A estreia aconteceria inicialmente em fevereiro deste ano, mas por conta da pandemia da Covid-19 foi adiada.

A comédia, adaptada da peça homônima de Suzana é seu primeiro roteiro para cinema em parceria com Martha Mendonça e Renato Santos, e foi filmada em 2018, contando a história de Suzie, uma mulher infeliz no casamento e com sua a vida, que decide buscar outro caminho de realização. “Foi um investimento de 3 mil reais em 2005, passou pela peça e chegou a esse filme. Acho esse projeto um baita case de sucesso e de negócio dentro do que fazemos”, diz Suzana, que além de atriz é fundadora da ONG Dona de Si, que empodera outras mulheres que buscam empreender.

“Foi um investimento de 3 mil reais em 2005, passou pela peça e chegou a esse filme. Acho esse projeto um baita case de sucesso e de negócio dentro do que fazemos” (Divulgação)

A atriz e roteirista interpreta três personagens no longa e conseguiu levar para a telona um time de peso. Em coletiva nesta terça-feira Suzana brincou ao responder como conseguiu juntar tantas estrelas no mesmo filme: “Não tinha um orçamento muito grande, mas eles são meus amigos, foi uma ação entre amigos”. Em tempo, o filme rodado em 2018 custou 7 milhões de reais e teve como principais os pontos turísticos do Rio de Janeiro.

O filme é a primeira produção brasileira a formalizar o comprometimento com a cláusula de inclusão (“inclusion rider”), que ficou mundialmente conhecida após o discurso de agradecimento da atriz Frances McDormand no Oscar de 2018. A medida determina um nível de diversidade de gênero, racial e de portadores de deficiências tanto no elenco quanto na equipe técnica. “Diversidade e inclusão são temas seríssimos para mim. É preciso quebrar estas barreiras. Trilha sonora, por exemplo, no Brasil, só tinha homem fazendo, e a Gaby Amarantos nos ajudou a encontrar a Anna Tréa. Não é fácil mudar o padrão no mercado e é preciso estar comprometida. E descobrimos talentos na parte técnica”, diz Suzana, que também exalta as bandeiras importantes que o filme traz, como o feminismo. “A peça já tinha todos estes temas, já falava de coisas que as outras mulheres não estavam falando. Mas o mundo mudou, e que bom. Hoje os temas do filme estão sendo todos debatidos na vida real”.

Furacão Ivete Sangalo

 No meio de outro trabalho, Ivete Sangalo entrou e saiu da coletiva feito o furacão que é, mas deixou seu carinho e deu seu recado. “Faço uma professora, a Dayse Aparecida. Eu e Suzie somos amigas há muito tempo, sempre pedi para ela fazer um papel para mim, que eu desse conta, lógico”, recorda a baiana. “E ainda disse à ela que embora eu seja muito bem-humorada, não sabia se teria timing de humor, que é difícil de fazer. E ela fez essa personagem deliciosa para mim: uma mulher inteligente, mas muito dentro de um universo de conteúdos, suas filosofias, teorias. Muito do devaneio, mas doce, amorosa, querendo passar conhecimento para esses alunos”, detalha.

“Vou lhes dizer uma coisa: eu arrasei. Acho que arrasei muito. Tinha acabado de ter minhas filhas quando gravamos. Foi intenso” (Divulgação)

“Mudei a voz, quis fazer algo diferente. Me inspirei em um maquiador amigo meu, o Silvio, nós fazemos uma voz muito nossa (faz a voz). E fiz isso saboreando o texto. Pensei: vou me divertir. Sem vergonha. Isso é ser ator”.

A cantora falou também do processo de composição da personagem. “Vou dizer que quem me ajudou a compor personagem foi Antônio Fagundes, quando fizemos a novela ‘Gabriela’ (2012). Ele me disse: ‘Ivete, quando você tiver uma personagem e tiver que se distanciar para fazer, crie um subtexto, uma historia para ela. Então, quando me falaram da personagem neste filme, a imaginei como uma mulher doce, que simplesmente quer que você aprenda, deseja passar conhecimento. É uma mulher que se basta com ela e seus livros”.

Falando de atuar como uma de suas paixões, Ivete brinca dizendo que busca oportunidades para interpretar mais: “Estou aqui buscando, gostaria muito. Se tem uma coisa que gosto é de atuar. Tive imersões muito importantes nesta área. Quero estudar e aprender. É uma das minhas facetas como artista. Gosto de contar histórias, de gente”.

E avalia seu desempenho: “Vou lhes dizer uma coisa: eu arrasei. Acho que arrasei muito. Tinha acabado de ter minhas filhas quando gravamos. Foi intenso. Filmamos em um dia o que filmaríamos em três”.

“Se tem uma coisa que gosto é de atuar. Tive imersões muito importantes nesta área. Quero estudar e aprender” (Divulgação)

Ivete também defende a liberdade das escolhas femininas, uma das pautas do longa. “Cada mulher precisa reconhecer de fato o que a faz feliz. Não é um modelo. Se perguntar: você está bem na sua vida, com o que faz? Se você está feliz limpando a sua casa, cuidando dos filhos, cozinhando, um trabalho exaustivo, tudo bem. É isso. Mas por outro lado, se você trabalha fora, não tem tempo nem para um drink com as amigas, mas também está feliz, ok. A felicidade está naquilo que estamos conscientes de ser felicidade. E quanto mais gente feliz, menos dedos apontando os outros”.

Potência

Em um filme escrito, protagonizado e dirigido por mulheres, além de ter um elenco majoritariamente feminino, Gaby Amarantos faz Maria Pia, uma advogada poderosa e bem-sucedida. “Só posso agradecer de fazer parte desta história. Eu como uma mulher negra, que veio do Norte. Lembro que quando conversei com a Suzie sobre fazer a Maria Pia, perguntei: ‘mas será que essa mulher existe?’. E ela falou uma coisa muito linda: ‘Se não existir, vamos inspirar para que ela exista. Minha personagem faz uma coisa que nós mulheres estamos fazendo cada vez mais na vida: apoiando umas às outras. Sororidade, feminismo. E essa discussão vem para o cinema de uma forma leve, mas com representatividade”, diz Gaby, que também tem na trilha do filme a canção ‘Eu sou mais eu’. “Contei para a Suzana que a minha primeira aspiração artística foi como atriz, fazia teatro em Belém, mas aí veio a música de uma forma muito arrebatadora”.

Gaby Amarantos em cena: “Só posso agradecer de fazer parte desta história. Eu como uma mulher negra, que veio do Norte” (Divulgação)

A cláusula de inclusão fez uma mulher negra e amazônica se sentir mais à vontade, pela representatividade? “Sim. É muito importante esse olhar. E entendermos a continentalidade deste país, que é tão enorme. É importante olhar para o Brasil como um todo e não só neste eixo Rio –São Paulo”, observa. “Além disso, o filme toca em vários temas importantes com leveza. Acho que essa é a melhor militância que podemos fazer, com humor, alegria e amor. Sou na base do amor e do time do amor”.