Isis Valverde relembra suas dores, como a morte do pai, e passagens marcantes em 15 anos de TV


A atriz frisa que com ela também acontecem momentos ruins, por mais que possa transparecer o contrário. “Não sou uma pessoa que vive só na luz”, observou, em entrevista ao programa Conversa Com Bial. Além de relembrar grandes personagens que interpretou em seus 15 anos de televisão, a estrela comentou, sem meias palavras, momentos difíceis, além da morte do pai. Isis perdeu um tio avô para a Covid, teve depressão pós parto (em 2018, nasceu seu filho Rael) e lembrou o acidente de carro, em 2014, que poderia ter deixado sequela.

“Comigo também acontecem momentos ruins. Não sou uma pessoa que vive só na luz", frisa Isis (Foto: Globo/Divulgação)

“Comigo também acontecem momentos ruins. Não sou uma pessoa que vive só na luz”, frisa Isis (Foto: Globo/Divulgação)

*Por Carlos Lima Costa

Com 15 anos de atuações na televisão, desde que estreou interpretando a Ana do Véu de Sinhá Moça, em 2006, a atriz Isis Valverde viveu momentos de extremo sucesso na carreira que a elevaram ao posto de uma das principais estrelas de sua geração. Em entrevista ao programa Conversa Com Bial, ela relembrou momentos desse crescimento profissional, mas sem meias palavras abriu o coração sobre os reveses que a vida colocou em seu caminho, como a depressão pós parto, o acidente em que poderia ter morrido ou ficado paralítica, a partida do tio avô durante a pandemia e a perda do pai, Rubens, de infarto, em janeiro do ano passado.

“A morte é a única certeza que temos na vida e a única coisa que me deixa muito triste. Tenho que agradecer a Deus a vida que ele me deu, mesmo sendo simples, em uma cidade simples, Aiuruoca (MG), onde não tem nem cinema, nem shopping nem nada, mas tem vida, amor, beleza. Tive vontade de desistir quando meu pai morreu. Tive vontade de ficar trancada dentro de um quarto. Mas são escolhas. As dores da vida, se você decide arrastá-las ou que elas acabem te soterrando é uma opção sua. Mas não acho que seja a opção mais inteligente”, disse mostrando um certo otimismo com a vida. “Comigo também acontecem momentos ruins. Não sou uma pessoa que vive só na luz. Talvez o pensamento que eu tenha, seja transcendente. Acaba que as pessoas olham e falam ela é muito feliz, tem uma luz. O mundo precisa disso, de mais pessoas assim, sabe botar esses pensamentos para fora, dividi-los e exercitá-los. É o que tento fazer na minha vida”, ressaltou para o jornalista Pedro Bial.

No último mês de janeiro, quando completou um ano da partida do pai, Isis o homenageou em seu Instagram: “Você me ensinou a olhar para frente, mas, às vezes, os pés pesam. Há um ano atrás me sentei em lágrimas que não cessavam, hoje, meu choro foi de gratidão por ter tido você como pai…sinto esse dia e sei que será para sempre essa ferida, mas…você me ensinou força e resiliência.”

Isis se emocionou, então, ao relembrar um momento especial que pôde proporcionar ao pai, quando participou do especial de fim de ano de Roberto Carlos, em 2017, fazendo breve dueto na canção Emoções. E em seguida o Rei cantou Sereia, música tema de Ritinha, personagem interpretada por ela em A Força do Querer. “Ele era doente com o Roberto, era tipo Roberto na Terra e Deus no céu, juro por Deus. Imagina você ver sua única filha cantando com o seu ídolo e ele ficava assim: ‘Minha filha, será que ele vai deixar eu tirar uma foto com ele?’. Depois, me disse: ‘Você realizou o meu sonho’”, lembrou emocionada.

No programa Conversa Com Bial, Isis relembrou personagens marcantes em seus 15 anos de televisão e de momentos difíceis na vida pessoal (Foto: Globo/Divulgação)

No programa Conversa Com Bial, Isis relembrou personagens marcantes em seus 15 anos de televisão e de momentos difíceis na vida pessoal (Foto: Globo/Divulgação)

Recentemente até dia 9 de abril foi exibida a parte final da novela Amor de Mãe, cujas gravações haviam sido interrompidas no início da pandemia, em março do ano passado. E no decorrer da reta final da trama de Manuela Dias, onde deu vida a enfermeira Betina, Isis passou por um novo contratempo. Quando a novela retornou ao ar, mostrou inclusive a rotina de um hospital em tempos de pandemia. A personagem dela, inclusive, ficou internada por conta do coronavírus.

“Foi muito forte aquilo, juro por Deus. Eu trabalhei no hospital desde o início da novela e mesmo que fake você tem que trazer essa persona inteira ali. Então, na hora que eu entrei com o personagem, me arrepiei dos pés a cabeça. As gravações nesse cenário para mim foram muito intensas, além de toda situação que eu passei em 2020 de perdas e de ter que lidar com isso de uma forma rápida, porque eu tinha que continuar a minha vida, eu não podia parar para sofrer, não tinha esse tempo. Acho que ninguém tem tanto tempo para ficar no luto a não ser que desista para a dor, que deixe que ela tome conta e você desista da luta, até um dia que meu tio avô entrou para o respirador (ele acabou morrendo de Covid-19) e eu estava em cena, onde  tinha que salvar um cara com uma parada cardíaca. Esse dia, vou te falar, não sei se era Betina ou se era a Isis, que mistura era aquela ali que estava em cena. Sei que chorei acho que todas as dores de 2020, mais as de 2021. Eu acho que foi uma catarse”, pontuou ela, que pouco tempo após a partida do pai, em março de 2020, sofreu ainda com a morte da avó materna.

Nessa trajetória, Isis tem a companhia do filho Rael. Fruto do casamento com André Resende, o menino nasceu em novembro de 2018. “Ele está uma máquina de falar, agora ele está no auge. Fala pelos cotovelos e é muito gostoso. Eu leio e canto para ele, que ama e fica doido”, contou ela, que apesar do momento lindo, teve uma adversidade. “Eu tive depressão pós parto, tive que fazer análise, que me cuidar, porque eu chorava assim a toa e eu não entendi o porque, mas tive uma tristeza profunda, vontade de sumir, ir embora. Então, também tem esse período da maternidade que muita gente não fala sobre, porque tem vergonha, porque quer se colocar naquela lugar da mãe socialmente aceita e não existe uma mãe ideal. É um assunto muito abrangente”, frisou para Pedro Bial. Em seu Instagram, onde tem mais de 25 milhões de seguidores, ela se desmancha pelo herdeiro, a quem já definiu como o “mais precioso presente” do casal.

Durante a entrevista, essa mineira relembrou a vida desde os tempos em que vivia em Aiuruoca, município de Minas Gerais, onde nasceu. O apresentador quis saber se ela ainda é aquele bicho do mato que precisa voltar de vez em quando para a terra natal. “Eu sempre busco esse bicho do mato. Toda vez que ele foge de mim eu acho que vou atrás dele. Tem uma frase que a minha avó falava que é muito linda e que foi passando de geração em geração: ‘Conheça o mundo, mas nunca esqueça do quintal da sua casa.’ Essa frase é o meu mantra. Se nem eu sei quem sou eu, se perder aquilo ali em que vou me apegar”, disse.

Isis em cena de Ti-Ti-Ti, que está sendo reprisada atualmente na Globo (Foto: TV Globo/Jo

Isis em cena de Ti-Ti-Ti, que está sendo reprisada atualmente na Globo (Foto: TV Globo/João Cotta)

Aos 15 anos, ela foi para a capital do Estado, Belo Horizonte. “Saí da minha cidade para estudar, pois lá não tinha segundo grau. E com 15 anos comecei a trabalhar com moda, um cara me descobriu em um shopping”, lembrou. E recordou momentos marcantes na televisão, como na estreia em Sinhá Moça, em que sua personagem passou quase toda a novela usando um véu que escondia seu rosto. “Eu bati tanto a cabeça nesse cenário com aquele véu. Era muito bizarro. E eu atuava no timbre de voz e no corpo. Foi uma experiência muito forte como atriz, de encontrar outras formas de atuar, de passar sentimento. Foi divertido, porque era muito legal as pessoas não saberem como eu era”, recordou. No remake de Ti-Ti-Ti, que atualmente reprisa no Vale A Pena Ver de Novo, deu vida a modelo Marcela, que na versão original tinha um acidente fatal. Em 31 de janeiro de 2014, Isis sofreu um acidente, quando fraturou  a vértebra C1 da coluna e precisou usar um colar cervical durante cem dias.

Um acidente que poderia ter sido fatal. “Minha mãe, que é a pessoa que mais me conhece no mundo, virou para mim e falou: ‘Minha filha, você mudou tanto. Você era muito impulsiva, estava vivendo uma fase que eu fiquei com muito medo, porque estava rebatendo as coisas que eu falava. Uma hora parece que você tirou aquilo que estava a sua frente, pessoas também que estavam muito próximas de mim e que não eram interessantes, que estavam me regredindo e eu acho que a gente tem que ter bons encontros e rezar para que isso aconteça mais vezes na nossa vida. Eu não percebo nitidamente olhando no espelho que eu mudei. Já a maternidade é algo que eu consigo olhar no espelho e falar ‘mudei’. Agora, o acidente, acho que me transformou na calma, na respiração, no tempo de elaboração das coisas”, observou no programa global. E acrescentou que a personagem Marcela era bem parecida com ela na doçura. “Eu acho que eu era bem mais doce antes de levar umas pancadas que a vida me deu, sabe. Acreditava em qualquer pessoa que eu via na minha frente, todo mundo era bonzinho, todo mundo quer meu bem, que eu podia me abrir para todo mundo”, completou, rindo.

Ela lembrou também a Sereia, cantora de trio elétrico, no seriado O Canto da Sereia. Na época, pediu ajuda a Ivete Sangalo e passou um tempo na casa da cantora, na Bahia, que lhe deu muitas dicas. E falou ainda sobre a Ritinha de A Força do Querer, também reprisada na pandemia, onde se vestia com cauda de sereia e nadava entre os peixes. “Minha cota de sereia já deu. Nas gravações na Amazônia, tinha uns bichos que pareciam da época dos dinossauros. Um dia, eu estava no meio da água, um peixe rasgou meu dedo, um cara gritou ‘olha que tem piranha’ e o cara falou ‘o boto te protege’. E eu mergulhava com tubarão de três metros. Faziam de tudo para ter segurança, mas realmente você tem que ter coragem”, disse.

Com cauda de sereia e nadando entre os peixes, Isis fez sucesso como a Ritinha da novela A Força do Querer (Foto: Globo/Estevam Avellar)

Com cauda de sereia e nadando entre os peixes, Isis fez sucesso como a Ritinha da novela A Força do Querer (Foto: Globo/Estevam Avellar)

No final da entrevista, Bial declamou um trecho do livro Camélias em Mim – Memórias, Inquietudes e Inspirações Poéticas, que Isis lançou em dezembro de 2019 e que teve o prefácio escrito por ele. “Este livro foi importante para eu me organizar, porque a minha cabeça é muito desorganizada. Eu sou muito imperativa, engraçado. Eu tenho obviamente DDA, que é distúrbio de atenção, mas o meu DDA é baixo, eu consigo ler, escrever. Na minha escrita parece que é de uma mulher muito mais velha. Eu acho que é essa ancestralidade que está presente na minha escrita, que é muito engraçada”, disse.