*Por Brunna Condini
Ele não quis um talk show, mas ganhou um, em plena quarentena. Eduardo Sterblitch comanda “Sterblitch não tem um Talk Show: o Talk Show”, programa que estará exclusivo na Globoplay, sempre às sextas-feiras e estreia amanhã. No primeiro episódio, o ator recebe o casal Michel Melamed e Letícia Colin e a cantora Ivete Sangalo. No bate-papo, Sterblitch levantou curiosidades como a lembrança do próprio casamento, em que Letícia fez o papel de mestre-de-cerimônias, já que é muito amiga dele e da esposa Loiuse D’Tuani; e também o fato de que Marcelo, filho de Ivete, é fã dele. Isso e outras revelações, foram extraídas em lives que aconteceram nesta semana. “A ideia é misturar famosos e anônimos. Os talk shows geralmente são pautados nas entrevistas com famosos, e é justamente isso que o programa não é. Uma grande inspiração para mim é o Jô (Soares), que trazia gente desconhecida também para contar suas histórias. A Hebe Camargo também é outra inspiração. Minha ideia é recriar um pouco esse conceito, trazendo essas pessoas do Brasil inteiro para dar protagonismo ao público. É uma mistura bem boa”, avalia o ator, em coletiva realizada através de teleconferência. “Quero ouvir o maior número de pessoas que conseguir, saber o que a galera está pensando. Gostaria de juntar as pessoas. Tem muita gente tensa, se odiando. Já pensou que bom seria falar com um eleitor do Bolsonaro (o presidente Jair Bolsonaro) e ele também poder conversar de boa, com um eleitor do Lula (o ex presidente Luiz Inácio Lula da Silva), por exemplo?”.
Sterblitch conduz a atração diretamente da sua casa, e conta que além de realizar entrevistas, games e dinâmicas, ele também colabora na edição do programa. “Infelizmente, hoje as pessoas estão muito mais dentro de suas ‘bolhas’ nas redes sociais, o que não permite muitas trocas. Em tempos de isolamento social, poder conectar gente através do humor vai ser muito legal. O talk show é uma desculpa para as pessoas terem curiosidade para assistir, para juntar as pessoas, num momento que todo mundo está distante”, detalha. E fala da amiga Tatá Werneck, que também tem um talk show, no formato convencional na emissora. “Sou muito fã da Tata. Ela é uma referência para quem faz humor no país. Então, o que perceberem de Tatá em mim, é bem-vindo. Mas estou ligado até para não repetir, porque ela conduz muito bem do jeito dela. Meu programa é muito mais como se fosse algo “deep web”, como se fosse um vírus ali, um programa que nem a Globo sabe que tem (risos). É um conceito diferente”.
O combustível da atração serão as duas lives semanais que vão acontecer nos perfis do GShow no Twitter e no Facebook, sempre às segundas e terças, às 22h. Nelas, o público – que pode se inscrever para participar através do site do GShow – poderá interagir através de comentários, com o ator e seus convidados. “Gosto muito de conversar e levo muito em consideração o que cada um tem a dizer. A nossa intenção é criar e desenvolver conteúdo da internet junto com a plateia. Quando brinco dizendo que não é um talk show convencional, é porque não é mesmo, não tem essa responsabilidade”, avisa. Na verdade, o ator começou a brincar com a possibilidade de ter um programa assim, no teatro, quando criou o espetáculo “Sterblitch Não Tem um Talk Show”. “Fazia isso na peça. Falava que tinha entregado meu projeto para todas as emissoras e ninguém quis, mas levei para o teatro e o povo ia. Fazia um talk show no teatro. Aliás, para mim é muito mais uma peça do que um programa de TV. E as lives são um braço que vai resultar neste programa”.
Terapia de grupo
O ator está aberto a todos os temas que surgirem, sem espaço para tabus, mas também, sem objetivo de polemizar. “Não sou intelectual, não consigo dissertar sobre muitos assuntos de forma profunda. Vou tentar levar da melhor forma os temas que surgirem. Se alguém ficar pelado na live, eu continuo, não erotizo nudez, mas talvez possa ser um problema para a emissora”, diz, bem-humorado. “Mas a ideia é essa. Se alguém falar “Globolixo” podemos fazer um rap juntos, com isso e os principais xingamentos dos haters. Vou lidar com naturalidade com o que pintar”. E se rolar gente falando do governo, de política? “Provavelmente vai rolar, né? Pintando o assunto, vou falar. O público vai falando, e se ele quiser, o assunto será. Mas o que queremos, é juntar a galera para dar um respiro, propondo algo para iludir o nosso tédio neste momento”. A produção do programa é virtual, mas existem planos dele ir para grade da TV depois? “Não tenho a menor ideia. Eu e a Globoplay estamos aprendendo a fazer isso juntos. Combinamos de ser 12 episódios semanais na plataforma, e para isso, vou fazer 24 lives. Estou entendendo aqui durante o processo. Depois, não sei”, diz.
Entusiasmado com a liberdade do projeto na internet, ele também reconhece o alcance da TV, como instrumento de expressão: “Quando vou no programa da Fátima (Bernardes), por exemplo, que gosto e vou muito, sempre penso nas pessoas que estão assistindo de manhã, em hospitais, por exemplo. E hospital é um lugar que mexe muito comigo, tem muita gente sozinha, mal. E geralmente, as TVs ficam ligadas na Globo, a não ser que a pessoa seja fã do Bolsonaro, aí deve estar na Record ou SBT. Então, olha o meu pensamento: quando participo de algo, sempre dou o meu melhor, pensando nas pessoas que precisam melhorar. Não faço para mim. Quero ver as pessoas bem, quero que curtam”.
Edu diz que a vivência na quarentena tem sido desafiadora. “Esse projeto tem sido minha salvação. É onde estou jogando minha energia. O programa é minha terapia em grupo, uma dinâmica de grupo. Gosto de conversar com as pessoas e tenho muito amor, muita entrega. O programa sou eu em todos os lugares possíveis, conectando as pessoas. A ideia é eu me sentir presente pra caramba e à vontade”, detalha. “Quando veio a pandemia da Covid-19, eu ia fazer um filme, “O Grande Sertão Veredas”, ia viver o Hermógenes, meu primeiro vilão. Mas veio a necessidade do isolamento, minha mãe também está doente, então saio de casa para fazer exames com ela. Além disso, minha avó teve a Covid-19 e uma pneumonia, mas elas estão se recuperando. Então, tenho me dividido na quarentena, cuidando delas, editando o programa. É uma fase difícil, mas vai passar. Tem muita gente sofrendo por muitas outras questões. Temos que tentar ser calmos, práticos e lidar com afeto com tudo. Quero fazer a minha parte, me comunicar, como for. Seja na internet, no teatro ou no cinema. Olha a sorte que tenho neste momento, poder jogar minha energia em um novo trabalho”.
Tem alguém que não gostaria de entrevistar? “Não. Tem muitas pessoas que não gosto, mas acho que mesmo assim entrevistaria. Sou mais curioso que raivoso”. E fica nervoso de pensar em entrevistar alguém? “Sempre penso que sim. As grandes celebridades. Fiquei nervoso de gravar com a Susana Vieira (em “Éramos Seis”). Mas quanto mais importante, mais tento quebrar o gelo, talvez seja uma defesa. Que ver uma pessoa que me deixa nervoso? Caetano Veloso. Para mim, o Caetano é mais que o John Lennon. Poeta fodão, maravilhoso, brasileiro”.
E qual faceta o público pode esperar do Eduardo no programa? “Tem muito do “Edu raiz”, do cara que fez Tablado, isso traz o improviso”, diz. “Não me achava engraçado, no “Pânico” é que disseram que eu era. Nunca quis fazer TV, eu era esse garoto, tinha esse preconceito. A televisão aconteceu para mim, nunca esperei isso. O “Edu raiz” é meio insuportável (risos). Vi num filme essa frase e adorei: “depois que você descobre quem é você, você tem que ser você de propósito”. Já fiz tanta coisa e quero experimentar ainda mais. Claro que se o público não me “cancelar”, né? Mas se isso não acontecer, vou sempre continuar alçando outros voos. Só consigo fazer algo bom, se eu for confiante. Preciso estar gostando e ser gostado. Sei tratar bem as pessoas, sou fofo e sei ser artista. Nem sei se sou bom, mas tento fazer o meu melhor. Não me acomodo”.
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