*Por Brunna Condini
Um ano para ficar na história por termos de rever modos de existir e objetivos. E também, um ano para revisitar o entretenimento na TV aberta. Nesta onda de “flashback “Laços de Família”, um clássico da dramaturgia escrita por Manoel Carlos, está de volta ao Vale a Pena Ver de Novo, na Globo, a partir de 7 de setembro. Parte do elenco se reuniu em um papo virtual para relembrar a trama de 20 anos atrás, ambientada no Leblon, e que discute as relações humanas de forma única, propondo reflexões sobre o cotidiano e as escolhas, tudo envolvido em muito sentimento. No papo, Carolina Dieckman, Giovana Antonelli, Deborah Secco, Tony Ramos, Ana Carbati, Luigi Baricceli e Regiane Alves falaram com carinho do folhetim, que marcou a vida de todos.
Com a estreia de “Laços de Família”, Carolina Dieckman, Tony Ramos e Regiane Alves ficarão no ar duplamente em tramas de Manoel Carlos, já que “Mulheres Apaixonadas” estreou essa semana no canal Viva. “Em ‘Laços’, fiz a Camila, que marcou minha carreira”, diz Dieckman. “Mas ela sempre teve um peso, densidade. Primeiro rouba o namorado da mãe, depois tem a doença. Em “Mulheres Apaixonadas” ganhei a Edwiges, o oposto, a leveza, que tinha uma alegria para a vida. As duas foram presentes bem diferentes para mim”. Tony fazia coro, dizendo que seus personagens nas tramas de Maneco, o apaixonado Miguel, e o músico e bon vivant Teo, respectivamente, não podiam ser comparados, já que tinham perfis bem distintos.
Já Regiane Alves fez em ambos os folhetins personagens que provocavam irritação e até a ira do público. Pensando nisso, convidamos Regiane para falar com exclusividade ao site sobre as inesquecíveis Clara, da novela que será reprisada no Vale a Pena ver de Novo, e sobre Dóris, de “Mulheres”, que com a repercussão de seus atos com os avós idosos chegou até Brasília, misturando ficção e realidade, e inspirando a criação do Estatuto do Idoso.
Uma atriz corajosa
Aos 41 anos, Regiane recorda com carinho da Dóris, de “Mulheres Apaixonadas”, que estreou esta semana. Essa personagem a fez ser bastante odiada nas ruas. Acredita que hoje seria diferente, pior? “Pela repercussão no Twitter, sim! Ela já parou nos trending topics no primeiro dia da novela (risos). Eu aproveitei para comentar durante a exibição. Quando a novela foi exibida da primeira vez, a internet ainda não tinha essa força de hoje. E não tínhamos as redes sociais, que mudou muito a relação com os fãs e até mesmo o retorno que temos. Mas acho que Dóris continuará sendo odiada, porque ela tratava muito mal os avós. As atitudes dela já eram erradas há 17 anos. Hoje, então, mais do que nunca. Em 2003, eu gravava na rua, lá no Leblon, e as pessoas vinham comentar, falar comigo. Dóris tirou muita gente do sério”.
Na trama de Maneco que já está no ar desde a última segunda-feira, a Dóris de Regiane, se mostra intolerante na convivência com os avós Flora (Carmen Silva – 1916/2008) e Leopoldo (Oswaldo Louzada – 1912/2008). A forma como autor conduziu a história, sensibilizou o público, que chegou a “confundir” ficção e realidade, hostilizando inclusive a atriz, que na época tinha 25 anos. “Foi uma personagem que chamou muita a atenção do público e teve uma grande repercussão. E a maldade dela foi crescente. Ela era capaz de cometer muitos absurdos. As pessoas falavam comigo nas ruas, me sentia em um furacão. Isso, claro, quando eu conseguia sair, porque gravava bastante na época”. E como a sua família lidava com isso? “Todos já acompanhavam a minha carreira há alguns anos, sabiam que era mais um trabalho. Ficaram muito felizes com a repercussão do trabalho. Eu fui indicada a prêmio, ganhei alguns. E foi um trabalho muito prazeroso. Tive a honra de contracenar com Oswaldo Louzada e a Carmem Silva, dois grandes artistas e muito generosos. Tivemos uma troca muito especial”.
Para Regiane, Dóris e Clara, têm em comum o fato de serem “vilãs” da vida real. Aquelas pessoas que podemos facilmente conhecer, mesmo que com atitudes que reprovamos ou não queremos conviver em nosso cotidiano. Acha que Manoel Carlos via em você um potencial como atriz para a vilania? “Quando conversávamos, Maneco falava que eu era uma atriz que não defendia as personagens para mim, que eu defendia o que estava no papel. E que ele confiava muito no meu trabalho e, por isso, me dava esses papéis. Ele achava que outra atriz iria cair em uma defesa e ficaria com medo de fazer. Maneco é um autor tão inteligente, dono de um texto tão especial! É uma alegria ter feito esses trabalhos com ele. Foi desafiador fazer Dóris depois da Clara, porque apesar das duas terem o pé na vilania, elas são bem diferentes. E eu trabalhei para construir essa diferença das duas. Maneco não é um autor que cria aquelas vilãs mirabolantes. Ele retratava pessoas que andam por aí… Clara era ciumenta, egoísta, mimada… Dóris era inconsequente, mal-educada, arrogante. E, infelizmente, existem pessoas como elas. Dóris foi muito importante para a conscientização do respeito ao idoso. E o Manoel Carlos conduziu com maestria essa história”.
Ela também salienta que há duas décadas o autor já priorizava em suas tramas o protagonismo feminino: “Manoel Carlos já falava muito da alma feminina. É incrível como ele construía a relação dos personagens. Suas mulheres protagonistas sempre foram muito fortes. Suas Helenas já eram empoderadas há tanto tempo. Fora as outras personagens. Ele estava à frente, com o olhar feminino no centro de tudo”, analisa Regiane. E observa ainda: “Saí de uma personagem chata, a Clara, que não se encaixava naquele núcleo, em “Laços de Família”, e fui viver em “Mulheres Apaixonadas” outra menina mimada. Então, sempre precisei ficar atenta aos caminhos, para não ficarem similares. E depois ainda teve a Alice de “Páginas da Vida”, também do Maneco. Preciso dizer, que sempre tive apoios de fora, um coach, uma fonoaudióloga, para dar diferencial aos personagens. E espero que tenha conseguido”.
A repercussão da trama da Dóris foi tão grande na época que a levou ao Senado Federal. Você foi convidada para o lançamento da Subcomissão do Idoso junto a outros atores de “Mulheres Apaixonadas”, e foi promulgado o Estatuto do Idoso, impulsionado pela novela. O que isso significou para você como artista e cidadã? “É muito especial quando você faz um trabalho que tem esse poder de mobilizar a sociedade e, com isso, trazer algum benefício para quem precisa. O Estatuto do Idoso foi uma conquista importante demais. Estamos falando de cidadãos que contribuíram uma vida inteira com o país, e na maior idade, não tinham seus direitos garantidos. Fico muito feliz de ter feito parte desse momento e saber que um trabalho que fiz trouxe à luz esse tema”.
De bem com a vida
Regiane se prepara para viver uma psicóloga na próxima temporada de “Malhação”, e enquanto as gravações não são retomadas, a atriz aproveita para curtir os pequenos João Gabriel, de 6 anos, e Antônio, 5. “Temos ficado em quarentena em casa, aqui no Rio de Janeiro. Ainda estamos saindo bem pouco. Andamos mais pelo condomínio, que é bem amplo e arborizado. Mas a maior parte do nosso tempo é na nossa varanda, que virou um lugar de respiro nesse período de isolamento”, diz sobre os filhos da união com o ex-marido João Gomez, filho de Regina Duarte.
Com o passar dos anos, você mudou pouco fisicamente e está cada dia mais bonita. A que atribui essa plenitude? “Obrigada pelo elogio! Acho que tem a ver com a nossa cabeça, com a mente. Os anos vão passar e é inevitável. A questão é como você vai passar por eles. Eu busco me cuidar, tenho minha dermatologista, sigo as recomendações. Tenho uma alimentação saudável também, mas sem ser radical. E busco nutrir minha mente, meus pensamentos. Amadurecer é muito bom. Você vai se conhecendo mais, entendendo os seus limites, o que gosta e o que não gosta. As coisas vão ficando mais claras para nós. Vamos ficando mais sábios e, com isso, damos o valor exato as coisas, sem aumentar ou diminuir”.
Você está solteira? Pretende ter mais filhos? “Eu estou feliz! Bem comigo! Isso é mais importante do que estar namorando ou não (risos). Eu sou muito realizada como mãe. João e Antônio me preencheram por completo quando chegaram na minha vida. Estou bem satisfeita com a minha duplinha”.
Também empreendedora, Regiane fala da situação dos negócios, diante do cenário do cenário atual: “Ser empreendedora é um desafio. E, com a pandemia, o desafio foi potencializado. Fomos pegos pela pandemia. Tivemos muitas perdas. Tive que fechar o Restaurante Puro. Com a Ella Pizzaria, nós apostamos no delivery. E estamos ainda estudando os próximos passos, acompanhando esse atual momento em que tudo é tão incerto”, lamenta.
Otimista, mas pé no chão, a atriz fala sobre os planos em meio às incertezas do período: “Amo o que eu faço, com certeza seguirei atuando. Tenho muitas personagens para fazer. Ainda sinto frio na barriga, o que eu acho um bom sinal”, conclui. “Hoje desejo mesmo é que meus filhos cresçam em segurança, saudáveis. Quero estar presente para vê-los crescer e ser apoio para eles. Acho que meus medos caminham por aí. Sonhos, eu tenho muitos, eles impulsionam a gente. Quero muito conhecer o Japão ainda”.
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