Imperdível! Em “Kingsman”, Colin Firth personifica o esnobe agente secreto inglês na produção que homenageia 007 e seus similares!


Em competente adaptação dos quadrinhos, o diretor Matthew Vaughn dá cabo daquilo que a maioria dos filmes de espionagem atuais não alcançam: fazer genuína e eletrizante aventura com fina ironia, sem se levar a sério!

Em determinada parte do filme, o agente secreto Harry Hart ­(Colin Firth) – ou simplesmente Galahad – troca farpas dissimuladíssimas com o megalomaníaco vilão Richmond Valentine, interpretado por Samuel L. Jackson: “Os filmes de espionagem ficaram sérios demais”. Ou, mais adiante em uma situação limítrofe, o mesmo Valentine solta para o mocinho recém-capturado por ele: “Agora você vai achar que vou prendê-lo em uma armadilha esdrúxula da qual você vai conseguir se soltar usando uma estratégia igualmente esdrúxula. Mas, na vida real as coisas não acontecem assim”. Estes inspiradíssimos diálogos, repletos de metalinguagem e citações aos filmes de James Bond, conferem a exata tônica daquilo que representa “Kingsman: serviço secreto (Kingsman: The Secret Service, Twentieth Century Fox, 2014), esta deliciosa versão para as telas dos quadrinhos criados por Mark Millar e Dave Gibbons.

A competente direção de Matthew Vaughn, que já havia adaptado para o cinema com primor outra graphic novel do primeiro, “Kick-Ass” (Kick-Ass – Quebrando Tudo, Universal Pictures e Lionsgate, 201, explora um humor ímpar brincando com os arquétipos contidos nos longas-metragens de espião inglês, sem medo de ser feliz e se referenciando no gênero que se formatou a partir das produções protagonizadas pelo agente 007, assim como suas divertidas imitações, “Our Man Flint” e “O Agente Secreto Matt Helm“.

Foto: Divulgação

Até o cartaz emula os equivalentes de 007, com o mocinho sendo visto através do ponto de vista de quem olha através das longilíneas pernas da vilã (Foto: Divulgação)

E mais: como em Hollywood nada se cria e tudo se copia, esta nova empreitada no estilo ainda presta tributo ao seu mais clássico equivalente na TV, “Os Vingadores” (The Avengers, 1961-1969), a série britânica criada por Sydney Newman que abordava o mesmo universo. Do seu QG numa tradicionalíssima tailor shop de Saville Row, o personagem de Firth irrompe emoldurado por fina alfaiataria (de deixar Ricardo Almeida, Ivan Aguilar Alexandre Herchcovitch de queixo caído), gravata de seda, chapéu e guarda-chuva de dândi, praticamente uma cópia descarada do esnobe John Steed interpretado por Patrick MacNee no antigo seriado. E, antes que algum apressadinho se antecipe em detratar o filme por isso, que fique claro que seu charme reside justamente nessas homenagens e que desde a trilogia “Austin Powers” (de Jay Roach, New Line Cinema e outros, 1997-2002) não se fazia nada tão sensacional nesse campo da Sétima Arte.

No caminho inverso da série “007”, que procura se atualizar mantendo sua essência, “Kingsman” olha para o passado, mais especificamente os anos 1960, buscando alcançar a fleuma original deste tipo de realização e enfatizando o contraste entre a falta de charme do mundo moderno – condensada na figura do bad boy candidato a agente com estética de rapper ostentação, Eggsy (Taron Egerton, com corpitcho marombadinho e sex appeal de ator de “Malhação”), perfeito para atrair a atenção do público jovem – e a madura figura do espião elegante codificada pelo astro que melhor sintetiza atualmente o jeito de ser britânico na sua faixa etária, Colin Firth.

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Fotos (Divulgação)

No final, o diretor se esbalda lançando mão daqueles códigos que o público espera encontrar em produções como esta: a dobradinha da very british elegância inglesa com a modernidade das armas e gadgets mirabolantes (com menção ao sapatofone do Agente 86), o contraste entre a velha e a nova Inglaterra, carros fabulosos, arsenal embutido em itens e ambientes do cotidiano de lorde, criado por um engenhoso gênio das ciências (Mark Strong, ótimo e fugindo do papel de mau que habitualmente lhe é conferido), litros de Martini, um igualmente excêntrico e nouveau riche vilão, seu plano absurdo para destruir o mundo (digno de Blofeld, Goldfinger e Scaramanga), sua bela, obstinada e diabólica assistente com habilidades capazes de fazer a Uma Thurman de “Pulp Fiction” parecer uma freirinha de musical da Metro, mocinhas no estilo Bond Girl, cenas passadas em pubs e até um ícone como Michael Caine no papel do chefão da tal agência secreta. Ah, e uma dose incomensurável de cinismo brotando por paredes forradas com papel de parede.

Somam-se a isso tudo as mais recentes novidades tecnológicas do cinema digital e aqueles artifícios que não existiam na década de sessenta: coreografias de luta sofisticadíssimas, movimentos de câmera inebriantes – possíveis graças aos efeitos especiais – e a edição ágil e picotada, como a de um videoclipe. Está armado o espetáculo.


Trailer oficial (Divulgação)