*por Luísa Giraldo
Esta é a terceira vez que o ator cearense Igor Jansen interpreta o jovem sertanejo João Barros em um produto audiovisual. Ao longo das duas fases da novela “As Aventuras de Poliana”, ele conquistou o coração do público infanto-juvenil com a resiliência do personagem migrante. O longa “As Aventuras de Poliana – O Filme” apresenta uma versão mais madura do nordestino. Encantado com a oportunidade de encarnar o papel pela última vez, o ator se coloca como um potente símbolo nordestino e reflete sobre as narrativas estereotipadas relacionadas à população do Nordeste. Em entrevista exclusiva ao site, ele também revela planejar lançar as primeiras músicas autorais no ano que vem.
O ator reforça a potência do personagem como símbolo nordestino. “Ele trouxe uma identificação gigantesca para quem é de lá, já que ‘As Aventuras de Poliana’ se trata de uma novela de TV aberta. Não davam espaço para as histórias nordestinas, apenas para as cariocas e paulistas. Quando colocavam um personagem do Nordeste, o roteirista não era de lá e não fazia ideia de como eram as coisas por lá. Fazer, finalmente, uma história que traz essa identificação do povo nordestino é maravilhoso”, afirma.
Segundo Igor, João tem uma força “gigantesca” nas cidades do Nordeste, como Recife, Bahia e Fortaleza. Ele teve a oportunidade de visitá-las para fazer shows e foi recepcionado com muita emoção pelo povo nordestino. Após o sucesso das novelas, o jovem intérprete viajou o Brasil ao lado das artistas Sophia Valverde e Duda Pimenta.
Ainda no tópico, o ator aproveita a oportunidade para alertar o povo não-nordestino dos mitos propiciados pela propagação de estereótipos por meio do audiovisual brasileiro. “Só escuto histórias do Sertão sobre a seca. A galera não tem ideia de como realmente é por conta da falta de estudo e pela falta de olhar para os jornais e para os próprios nordestinos. O João vem com essa força que faz com que as pessoas procurem, leiam e estudem mais sobre o Nordeste”, pontua.
Tenho muito orgulho de dizer que sou do Nordeste. Necessito falar disso, sobretudo para dar força e alimentar o sonho de muitos outros nordestinos que desejam, um dia, estar no meio artístico ou trabalhar com o ramo cultural – Igor Jansen
Por outro lado, o ator recorda da mudança que fez para São Paulo no início da adolescência para iniciar a carreira de ator. Igor descreve que as personalidades dele e do personagem se desenvolveram juntas ao longo dos anos de gravação. “Na primeira fase, o João tinha 11 anos e eu tinha 13. Já na segunda, ele tinha 15 e eu 16 anos. No filme, ele tinha 18 enquanto eu estava completando 19. Muito dessa relação nos ensinou sobre as vivências de cada um. Foi uma trajetória de adição com esse personagem”.
Animado, Igor relembra que gravou, em certos momentos, cenas parecidas com aquelas vividas simultaneamente por ele durante a adolescência. O artista avalia que, atualmente, os dois formam uma só pessoa com personalidades e vivências próximas. Ele brinca ainda que o João se tornou um alter ego, já que interpretava o personagem por cerca de um terço dos dias.
Em consonância, o artista ressalta o orgulho por ter interpretado o nordestino durante os períodos da infância, adolescência e início da vida adulta. “Levo em consideração as vivências e trajetória de vida que fizeram dele o mais maduro do grupo. Desde pequeno, ele passou por situações muito extremas que o prepararam para a vida adulta. A experiência de viver o João adulto foi maravilhosa porque pude me descobrir em uma pegada mais madura – não de uma forma superficial, mas na forma em que ele trata as pessoas e lida com certas situações do dia a dia”.
Ao se mostrar grato pelo papel, ele ressaltou estar finalizando um processo com “chave de ouro”, já que correlaciona o personagem à própria personalidade. O desejo de levá-lo para sempre na carreira artística motivou o galã de 19 anos a tatuar o personagem no corpo, momento esse que ele está esperando ansiosamente.
Migrantes nordestinos
Um dos temas centrais dissecados pela novela “As Aventuras de Poliana” é a migração de João do Sertão nordestino para a capital de São Paulo, em busca de oportunidades de vida para seguir os sonhos como artista. Ao buscar conscientizar e educar sobre a cultura do Nordeste o público infanto-juvenil, a telenovela aborda o processo migratória de forma extremamente sensível.
Por ter saído da cidade natal em busca da realização dos sonhos, o João me ensinou muito a dar valor às coisas que realmente importam. Enquanto a gente acaba supervalorizando os bens materiais, ele está lá tocando a violinha dele, grato por ter um aconchego da casa e uma cama quentinha para dormir – Igor Jansen
Impacto durante a infância
Aos 13 anos, Igor Jansen não tinha a dimensão da complexidade das temáticas sociais abordadas pelo papel do pequeno João. O processo de envolvimento com o personagem, marcado por anos de exibição das novelas, fez com que ele percebesse a importância do personagem aos poucos. Atualmente, o ator se mostra ciente do impacto de um protagonista sertanejo, migrante e artista em uma novela de exibição nacional.
“A novela conseguiu abordar de uma forma tão boa que se tornou imperdível para os adultos e, ao mesmo tempo, delicado para as crianças. Era interessante acompanhar como crianças da classe média de uma cidade como São Paulo começavam a entender que a vida não era repleta apenas de pessoas como elas. Elas passaram a entender e refletir sobre questões muito mais relevantes na vida, passadas pela novela de uma forma tão leve que elas poderiam conversar com os pais e os amigos”, recorda.
Projeto musical
Com exclusividade à Heloisa Tolipan, o galã revela estar envolvido com o lançamento de músicas compostas por ele. O projeto tem sido preparado por ele com a gravadora Mousik. “Estou lapidando esse início de carreira como cantor, um ramo que sempre amei também. Nas minhas músicas, vou falar um pouco sobre a minha experiência [como artista] e das vivências que toda pessoa já passou um dia. Tenho certeza que o público vai se identificar bastante. Tirei ainda o estereótipo que o nordestino só canta forró: vou cantar um pop-rock, uma pegada bem balada”, descreve.
O Primeiro Natal do Mundo
Igor participa do recém-lançado longa-metragem “O Primeiro Natal do Mundo” como o personagem Arthur, filho do casal de protagonistas interpretado por Ingrid Guimarães e Lázaro Ramos. Após o pedido de Natal de uma das crianças, a trama de humor retrata o mundo sem a existência do feriado natalino. Outros grandes nomes do elenco são os atores Rafael Infante, Fabiana Karla e Stella Miranda.
O artista descreve as diferenças entre ele o personagem na trama. “O Arthur não tem nada de mim. Nós somos o completo oposto um do outro. Não nos identificamos em absolutamente nada. Ele tem pais separados, é introspectivo e sarcástico, não gosta do contato com as pessoas: nada a ver comigo. Foi um processo muito gostoso de se viver e leve”, comenta, ao frisar o sentimento de honra por contracenar com “gênios da comédia brasileira”.
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