Igor Cosso fala de sexualidade e revela: “Mais novo, meu crush famoso era o Fabio Assunção”

*Por Brunna Condini

Quase um ano após ter revelado ser gay, Igor Cosso conta que a vida ficou mais leve. “Também acabei tirando o Heron (Leal) ‘do armário’, quando postei nossa foto. Depois que nos demos conta”, diz, sobre o namorado que é o professor da atriz Claudia Ohana no programa ‘Super Dança dos Famosos’, do Domingão do Faustão. Ainda hoje, Igor se espanta com a repercussão: “Não tinha ideia que seria assim. Na época, minha primeira reação foi a de chorar, de medo, de alívio, mas, principalmente, para lavar a alma. E tenho ficado cada dia melhor desde então”.

“Se alguém deixar de me chamar por conta da minha sexualidade é porque não era para mim. Quem vai perder é o trabalho, a empresa” (Reprodução Instagram)

Em entrevista exclusiva ao site, na semana que marca o Dia Internacional Contra a Homofobia, o ator lembra da sua trajetória desde 2020. Igor recorda que postou a foto de dois homens se beijando em homenagem ao Mês do Orgulho LGBTQIA+. E logo depois, após repercussão negativa por parte de alguns seguidores, ele resolveu postar então uma foto com o namorado.

“Desde que comecei a trabalhar como ator não poder ser inteiramente quem eu sou me atormentava. Nas entrevistas me perguntavam sobre namoradas e eu não falava nada. Fora isso, vivemos em um país ainda muito machista. Então, ouvia muita piadinha, todo LGBT ouve. Sempre quis mudar isso, queria fazer a diferença. E fui amadurecendo. Ano passado, após fazer alguns trabalhos, estar em uma novela bacana na Globo, com quase 30 anos, pensei: ‘não vou me limitar de ser quem eu sou por medo de perder trabalho. Se eu ficar sem trabalho, crio algo para produzir e atuar. E se alguém deixar de me chamar por conta da minha sexualidade é porque não era para mim. Quem vai perder é o trabalho, a empresa”, analisa. “Amadureci e acabei falando da minha sexualidade de forma natural. Foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Há um ano eu fiz isso, com medo, mas com coragem. E pensei que portas iriam se fechar, mas outras também se abririam. E isso vem acontecendo”.

Igor e Heron Leal, seu namorado, há quase um ano, quando o ator contou que era um homem gay (Instagram)

Crush famoso

O ator viveu uma vida heteronormativa até os 18 anos e afirma que nunca teve problema em se relacionar com mulheres, mas se identificava na relação com homens. “Desde cedo eu sentia que existia  um afeto diferente em mim. E nesta época na TV não se via representatividade gay, era tudo muito estereotipado. Quando me vejo como um dos poucos atores gays jovens que falam sobre isso abertamente, percebo que já devíamos ter falado sobre sexualidade dessa forma há mais tempo. E isso em nada interfere no meu trabalho. Sou um ator e posso fazer qualquer personagem. Fico feliz de saber que as próximas gerações vão se sentir mais à vontade para ser quem são, serem mais felizes”.

“Fico feliz de saber que as próximas gerações vão se sentir mais à vontade para ser quem são, serem mais felizes” (Foto: Rafael Leal)

Além de bonito e simpático, respondendo a tudo sem rodeios, Igor revela para nós quem foi seu crush famoso na adolescência (aqui, pedimos licença a Fabio Porchat, que fez dessa pergunta um ótimo momento em seu programa): “Quando eu era bem novo, era o Fabio Assunção. Inclusive temos a mesma assessoria. Lembro que pensava: “Esse cara me desperta umas coisas”. Via filme com ele e pensava: pegaria. É divertido lembrar disso”.

Bem na própria pele

Ele conta que vem recebendo uma enxurrada de apoio e amor nas redes. “Tudo por ser quem sou, e isso, não escolhemos. Mas vou dizer que é tão bom, que se pudesse escolher, escolheria ser exatamente quem sou, um homem gay”. E diz que não fazia ideia que poder falar abertamente da sua vida lhe faria tão bem: “Até acontecer não fazemos ideia do peso que sai de cima. É sério. Minha família, amigos, pessoas do meu convívio já sabiam que sou gay, mas isso é completamente diferente do Brasil inteiro saber. Se você der uma busca no meu nome hoje é a primeira notícia que aparece. Mas tem sido essencialmente bom, porque identifiquei camadas em mim que não sabia que tinha, e isso também me aproximou da minha identidade como artista”.

“Até acontecer, não fazemos ideia do peso que sai de cima, é sério. Minha família, amigos, pessoas do meu convívio já sabiam que sou gay, mas isso é completamente diferente do Brasil inteiro saber” (Foto: Rafael Leal)

Igor comenta ainda, que com a repercussão nas redes, acabou sendo ‘abraçado’ pela causa que já abraçava. “É impressionante a quantidade de relatos que recebo de pessoas que se encorajaram a falar da própria sexualidade a partir da minha experiência. Isso só mostra o quanto representatividade é algo importante. Dizem que eu e o Heron somos inspiração e fico feliz em mostrar uma coisa que é natural para mim. Então, tenho vontade de cada vez mais ajudar a naturalizar o amor entre dois homens, a sexualidade de cada um. Faz muito sentido para mim fazer a diferença e que seja neste momento através da representatividade. E tem outras artistas fazendo isso, como a Nanda Costa, que é incrível. A Marcela (Ricca) e a Vitoria (Strada), que são minhas amigas. É importante. É amor, é natural, é maravilhoso”.

Família é onde o amor está

Namorando Heron há dois anos e meio, o ator avalia que casamento ainda não é um plano imediato para os dois. “Estamos sempre juntos, principalmente no período de quarentena, que ficamos ‘casadinhos’. Mas cada um tem seu apartamento e tem sido ótimo assim. Mas desejamos casar um dia, com cerimônia, família, amigos, tudo que sonharmos”, revela.

“Desejamos casar um dia, com cerimônia, família, amigos, tudo que sonharmos” (Reprodução Instagram)

Natural de Belo Horizonte, de onde saiu em 2009 para estudar teatro no Rio de Janeiro, Igor também reafirma que filhos estão nos planos futuros do casal. “O Paulo Gustavo e o Thales (Bretas) nos inspiram muito. É muito triste a perda do Paulo, ainda não dá para acreditar. Me identifico com a história deles, viraram referência de família para nós. Conheci o Paulo e a existência dele só destaca ainda mais a importância de terem artistas que naturalizem a vida como é. Outro dia, ouvi no Jornal Nacional o Thales sendo chamado de marido do Paulo, que é o que ele é. Isso é maravilhoso. Quero isso para mim. Sou mineirinho, quero construir a minha família”.

“O Paulo Gustavo e o Thales Bretas nos inspiram muito. É muito triste a perda do Paulo. Me identifico com a história deles, viraram referência de família para nós” (Reprodução Instagram)

Apesar da repercussão ter assustado sua família, Igor afirma que todos o apoiaram, e divide aqui um acontecimento pós repercussão da sua sexualidade: “Tive a benção da minha avó de 86 anos. Ainda não tínhamos tido um momento nosso e ela me mandou uma mensagem linda. Disse que estaria sempre ao meu lado, que eu podia contar com ela. Quando li isso, pensei que tudo já tinha valido à pena. O universo faz tudo acontecer na hora certa”.

Sede de realizar

Vivendo o personagem Junior em ‘Salve-se quem Puder’, o ator fala do trabalho interrompido pela pandemia, que chega ao fim em 16 de julho. “Fomos privilegiados de poder terminar de gravar a novela. Gravamos no auge da pandemia, fomos os primeiros a retornar. Foi tudo muito novo. E no início deste ano veio outra onda da Covid, então tudo é uma incógnita, as coisas estão voltando aos poucos. Tem muita coisa esperando para acontecer, tenho planos adiados”.

Com Carolina Kasting, Vitoria Strada, de quem é amigo pessoal, e Valentina Bulc na trama das sete (Divulgação)

O fato de você vir falando da sua sexualidade pode influenciar na escalação de papéis neste momento. Está preparado? “Já vem acontecendo (risos). Tudo certo. Inclusive, eu já disse que tenho vontade de fazer um personagem gay na TV, se acontecer naturalmente, será ótimo, mas somos muitos. Vai ser uma honra representar muita gente. Vou de peito aberto”. E deixa escapar: “Digamos que já alguns fiz testes. Vamos ver o que vai rolar, já que muita coisa foi adiada”.

No momento ele deseja mesmo é concretizar o espetáculo ‘Xeque Mate’, que vem ensaiando desde o início do ano com Rosamaria Murtinho. “É uma honra trabalhar com ela. O texto é do Rodrigo Monteiro e a direção do Jorge Farjalla. Estamos em alguns editais e nosso objetivo é que role até o fim do ano”, torce. “Vai ser um sonho realizado fazer um trabalho com a Rosinha, que é grande e generosa. Fora que a história cabe muito em nós: é sobre uma rainha de um tabuleiro de xadrez e um jovem rei. É uma metáfora do jogo de xadrez com a vida, com as experiências e decisões que tomamos ao longo dela, da troca de experiências de uma rainha com um jovem rei. Se relaciona o tempo todo com o fim do jogo, o fim da vida, nos fazendo refletir sobre a necessidade de sair da zona de conforto. Temos que jogar, temos que viver. Nunca foi tão importante falar sobre a finitude e sobre viver a vida plenamente. Não vejo a hora de ver esse trabalho realizado”.

“Temos que jogar, temos que viver. Nunca foi tão importante falar sobre a finitude e sobre viver a vida plenamente” (Foto: Mo Almeida)