História de cinema: com direção da filha Camila, Antônio Pitanga é enredo de documentário sobre sua vida nas telonas. “Eu achei uma ousadia”


De acordo com ele, o longa, que foi lançado em abril e homenageado na edição deste ano do Festival de Gramado, foi uma surpresa. “Tudo o que a gente quer na vida é que sejamos homenageados, mas, quando essa hora chega, tomamos um susto”

São mais de 50 filmes, quase 60 anos de carreira, 78 anos de vida e muitas histórias para contar. Os números são de Antônio Pitanga em sua íntima e brilhante relação com as telonas. Na trajetória artística, o ator coleciona trabalhos, prêmios e personagens nos cinemas desde 1960 e, por essa riqueza de experiência, ele é o enredo de “Pitanga”. Dirigido por sua própria filha, Camila, o documentário é um compilado da carreira de Antônio Pitanga e uma prova para o próprio gênio de que sua história tem caldo e conteúdo. De acordo com ele, o longa, que foi lançado em abril e homenageado na edição deste ano do Festival de Gramado, foi uma surpresa. “Tudo o que a gente quer na vida é que sejamos homenageados, mas, quando essa hora chega, tomamos um susto”, contou.

Desse susto, Antônio Pitanga contou que não embarcou na ideia de sua filha, Para ele, apesar de ser reconhecido como um ícone do Cinema Novo e figura importante da arte, sua história não era boa o suficiente para ser contada. Mas, além de diretora de “Pitanga”, Camila também foi filha e responsável por convencer seu pai. “Eu achei uma ousadia, uma coragem e vontade dela me convencer que havia na minha carreira e vida pessoal um conteúdo interessante. E ela estava certa porque este documentário é a afirmação do cinema brasileiro em uma época que a sociedade não via com bons olhos”, explicou.

A partir daí, “Pitanga” passou a ser um misto de emoções para o homenageado. Mais do que ver sua história sendo contada pelos olhos da filha, Antônio ainda comentou o conteúdo do documentário neste momento das artes. “É uma produção que sai dessa caretice e entra em um universo quase ficcional. Para mim, isso foi uma surpresa porque eu não sabia que tinha tudo isso para falar de mim”, revelou sobre o trabalho que demorou um ano para ser editado. “Me deram asas para voar. Eu não tinha roteiro e materializei a história de acordo com as minhas lembranças e experiências. Então, esse documentário mostra os filmes que eu fiz e os diretores que estavam começando e hoje são consagrados, como o Glauber (Rocha) e o Cacá (Diegues)”, detalhou.

Nesta viagem pelo Cinema Novo, Antônio Pitanga também se torna o porta-voz das mudanças que ocorreram paralelas às películas na sociedade. Com a arte como um reflexo do comportamento de cada época, o documentário sobre seus quase 60 anos de carreira ganha status de material de estudo para os amantes do cinema. “Fazer o ‘Pitanga’ é trazer uma época de afirmação do cinema brasileiro para a atualidade”, apontou o ator que, além de seu filme, destacou a riqueza de possibilidades da atual geração. “Eu acho que a juventude de hoje tem muitas ferramentas para pesquisar e consumir arte. Na minha época, não existia Google e nem redes sociais. E, agora, qualquer um pode varrer todas as informações”, completou.

Camila Pitanga assina a direção do documentário sobre a carreira de seu pai no cinema (Foto: Reprodução)

Desta geração que tem o mundo na palma das mãos, o gênio do cinema apenas ressaltou a vontade atual por debater temas sérios e relevantes. Segundo análise de Antônio Pitanga, os trabalhos de hoje em dia estão cada vez mais engajados e como reflexos dos atuais questionamentos da sociedade. “É importante que essa juventude esteja preocupada e metendo o dedo em uma ferida. Essa é a função do cinema. Para mim, os filmes não devem possuir uma bandeira conclusiva e nem uma proposta de verdade. É uma janela para escolher democraticamente seu caminho”, argumentou.

Assim, seja no passado, no presente ou no futuro, Antônio Pitanga segue como nome ilustre no cinema nacional. Para aumentar sua lista de trabalhos nas telonas, o ator tem uma nova sequência de projetos e alguns já para estrear. Pelos próximos meses, Antônio está colhendo os bons frutos que “Pitanga” lhe trouxe, como contou, em viagens pelo mundo ao lado da filha e em novos trabalhos na arte que o consagrou. No total, o ator está mergulhado em três títulos que, em breve, ganham as telas do cinema. “Eu estou me mexendo”, brincou Antônio Pitanga. Saúde!

Antônio Pitanga como Firmino em “Barravento”, de Glauber Rocha (Foto: Reprodução)