‘História de Amor’ no Top 5 do Globoplay! Angelo Paes Leme fala da novela e como está a vida depois de deixar a TV


Angelo Paes Leme é um dos principais nomes de “História de Amor”. No Globoplay, a novela está no quinto lugar entre os 10 mais vistos da plataforma. É algo de destaque, já que o folhetim da década de 90 está à frente de outros projetos inéditos da casa, como “Amor Perfeito” e “Todas as Flores”. Na trama de Manoel Carlos, Angelo vive Caio, um enfant terrible que movimenta a novela. Prestes a completar 50 anos, o ator revisita a própria vida, e carreira, passa pelas experiências da paternidade – tanto a sua com seu filho Caetano, como a perda do seu pai no último ano. O ator, que está fora da Record desde o início de 2023, relembra também seus personagens nas obras disruptivas da emissora – como em “A Lei e o Crime”, onde o crime organizado era o tema, e havia críticas duras ao Estado. Tal como o autor, Marcílio Moraes, o Angelo acredita que “há responsabilidade do Estado no bem-estar social, na educação, na saúde e nas condições básicas de moradia”

*por Vítor Antunes

Aquele garoto não vale nada, Joyce“, “Ele é um canalha!“, ou “O Caio me passou uma cantada na feira!“. As três frases, ditas por três personagens de “História de Amor“, definem bem o papel de Angelo Paes Leme na novela de 1995 exibida atualmente no Globoplay. Novamente um grande sucesso, a novela de Manoel Carlos figura desde a sua estreia no início do mês no Top 10 de produtos mais vistos da Globoplay. “História” é um sucesso tão grande que hoje está na quinta posição entre os produtos do player e tirou a atual novela das 18h do ranking do app global. Não apenas esta novela que conta com Angelo Paes Leme no elenco está em voga. Outra é “Chocolate com Pimenta“, em exibição na faixa de Edições Especiais na Globo e que está próxima ao término “Tanto “Chocolate” como “História de Amor” são sucessos incontestáveis na teledramaturgia nacional”.

Neste 2023, Angelo Paes Leme completa 50 anos. Um ano após a perda do seu pai e desde janeiro afastado da RecordTV, o ator tem feito destes últimos meses um momento mais introspectivo. “Tenho estado em um momento mais reflexivo”, diz o ator, que é marido da também atriz Anna Sophia Folch. Ambos possuem uma produtora de teatro e montam projetos autorais.

Angelo Paes Leme. Após sair da Record, no início deste ano, ator optou por um ano sabático (Foto: Edu Moraes/Divulgação RecordTV)

HISTÓRIA DE AMOR

Um dos maiores sucessos do horário das 18h, e da sua década, fortemente ligada ao telespectador noveleiro saudosista, não apenas por sua história cativante, mas também pelo clima solar e facilmente reconhecível, “História de Amor” voltou ao ar. Não na TV aberta, mas no Globoplay. E, desde a sua estreia no dia 5 de junho, a novela tem tido um fragoroso sucesso. Está no top 10 de produtos mais consumidos da Globoplay. Durante a escrita desta reportagem a novela ainda constava no quinto lugar entre os programas mais vistos do player, à frente, inclusive, de grandes produtos da Globo, como a novela “Todas as Flores” e o atual cartaz das 18h, “Amor Perfeito“.

28 anos depois, “História de Amor” segue sendo um sucesso (Foto: Reprodução/Globoplay)

Protagonizada por Regina Duarte, Carolina Ferraz e José Mayer – figuras hoje tidas como controversas pela emissora – coube a Angelo Paes Leme e Carla Marins ilustrar a thumbnail de “História de Amor” no Globoplay. Ao ator foi destinado o problemático Caio, bad boy que já no primeiro capítulo pede que a namorada aborte o filho deles e, numa briga, acaba por empurrá-la, grávida, de um jipe. Angelo disse haver se absurdado com o roteiro quando o leu: “A cena do jipe eu não entendi de cara, pois que era muito forte. Eu fui muito odiado no início da novela. Na época muita gente, muitas senhoras, brigavam comigo face a brutalidade do Caio, rapaz que tem um comportamento violento, e é polêmico. Essa era a proposta do Manoel Carlos”, relembra o ator, mas, no entanto, pondera: “Depois, Caio amadurece, se redime”.

Carla Marins e Angelo Paes Leme (Foto: Arley Alves/TV Globo)

Antes de “História de Amor”, Angelo já havia feito “Sonho Meu“, mas por conta de ser o co-protagonista Caio, foi creditado com destaque na novela de Manoel Carlos: “apresentando, Angelo Paes Leme“. Ele conta: “História me lançou através deste personagem polêmico”. Além de Caio, o ator pôde ser visto, na Globo, dando vida ao soldado Peixoto. “Chocolate” chegou ao fim na última semana e é, novamente, um grande sucesso. “São novelas que emocionam por serem bem desenvolvidas e realizadas. Soma-se a isso, a direção e o seu trabalho estético realizado pelos artistas. É uma novela que tem um lugar marcado no hall das grandes produções. Tanto “História”, como “Chocolate” foram reprisadas várias vezes. Fico feliz de ter feito dois personagens diferentes e me desenvolver, trabalhar com grandes atores”.

Sobre o segredo que faz “História” estar novamente fazendo sucesso, Angelo diz que “esta é uma novela com grande solidez, com história, personagem e, claro, muitos talentos envolvidos. O resultado é uma soma de fatores que contribui para que a novela tenha essa projeção”. O ator também está em outros projetos que constam do panteão de ícones da teledramaturgia nacional, como “A Muralha” e “Por Amor“. Além disto, ele esteve num momento importante da História da Globo: a inauguração do Projac, atualmente chamado de Estúdios Globo. A novela na qual deu vida ao Caio foi uma das primeiras a ser gravada no novo espaço. “Foi uma das primeiras novelas do Projac. Começamos a gravar no Jardim Botânico, na Rua Von Martius [espaço atualmente ocupado pela Globo News e pelo jornalismo] e depois fomos para lá [para o Projac]”, relembra.

 

Ângelo Paes Leme em sua primeira novela, “Sonho Meu”, de 1993 (Foto: Reprodução)

Fora da Globo desde 2006, o primeiro trabalho de Angelo na Record foi em “Vidas Opostas“, novela de Marcílio Moraes que objetivava tratar de forma nua e crua a vida numa comunidade e os dilemas inerentes desta. A novela foi um grande sucesso e solidificou a proposta de retomada da Record na produção de teledramaturgia iniciado em 2004. “Tudo na novela era muito forte. Meu personagem saía da cadeia para tomar o morro e cuidar do tráfico, porém ele morria numa ação policial. Esta novela foi um trabalho muito legal que acabou desembocando num outro, também com a mesma tônica que foi a série “A Lei e o Crime“. Ambas são do mesmo autor. As série era muito contundente e a emissora pisava fundo e não tinha dedos para tocar no assunto da criminalidade ou falar de temas polêmicos”, observa. E continua: “falava-se a sério no assunto, de falta de oportunidades, de corrupção da polícia, de miséria”. “A Lei e o Crime” falava de um cara desempregado, Nando que após “agir impulsivamente arrumava um problema para si e virava um foragido da lei”, define.

O artista prossegue dizendo que “A Lei e o Crime” mostrava “cenas, discutia isso e proporcionava reflexões de situações dramáticas”. O ator acredita que “há responsabilidade do Estado no bem-estar social, na educação, na saúde e nas condições básicas de moradia. O Estado é regulador social do bem estar comum, é veículo de promoção da vida em sociedade. Quando há esse desequilíbrio todo, acaba-se mexendo num ninho de aranhas, em coisas que fogem ao controle e para explicar é preciso criar relação com outras coisas complicadas”.

Angelo Paes Leme. Em “A Lei e o Crime”, o desempregado Nando vira o bandido Nandinho da Bazuca (Foto: Reprodução/RecordTV)

ANGELO, PAIS E LEMES

És um senhor tão bonito quanto a cara do meu filho“. A frase anterior, de Caetano Veloso, é intencionalmente aqui citada. Para aperceber-se da passagem do tempo, Angelo Paes Leme diz observá-lo através do crescimento de seu filho com a atriz Anna Sophia Folch. E, não apenas esta razão justifica a presença do cantor baiano neste parágrafo. O filho do ator também chama Caetano. “Desde que saí da Record tenho me dedicado à minha casa. Tenho aproveitando esse ritmo mais tranquilo”.

Por vezes a sociedade cobra-nos que estejamos fazendo coisas úteis, ou trabalhando, mas a maior parte das coisas inúteis para ela são as que mais fazem sentido na nossa vida – Ângelo Paes Leme

Angelo Paes Leme está às raias dos 50 anos e vê com serenidade a idade (Foto: Edu Moraes)

O leme é um dispositivo de controle da direção de embarcações ou aeronaves. Há um ano, Angelo perdeu o pai. E diante da complexidade que isso reflete, o ator diz que viver “isso mexe muito, além das mudanças da vida. Estamos aqui de passagem e temos mais que nunca, que aproveitar nossas relações com o outro, tendo as pessoas que amamos ao nosso lado, criando vínculos generosos e profundos, escutando quem estar perto e perceber quem estar perto. Me relaciono bem o com o tempo, com o silêncio, com a tranquilidade”. Como no poema de Quintana, é possível dizer que há nas mãos dos pais, essa beleza que se chama, simplesmente, vida. No velho entardecer do tempo, elas repousam nos braços, na cadeira predileta, na luz, na chama que alimenta a terrível solidão do mundo. E essa chama apaga, tão peremptoriamente como quando tentamos acender gravetos contra o vento. A quem tem o leme no nome, viver é uma direção.