“História da fada sensata é elogio, mas estou diante de sociedade machista e preconceituosa”, diz Marcela Mc Gowan


Após 12 semanas de confinamento, a médica ginecologista e obstetra deixou o BBB20, e fala aqui sobre sua trajetória no programa. Com exclusividade ao site HT, Marcela avalia como “divertida e honrosa” sua participação, fala de feminismo, posicionamento, altas expectativas, e do romance com Daniel, e também de Gizelly , sua amiga dentro do reality, com quem nem sabia que havia sido shippada aqui fora: “A Gi sempre se posicionou como hétero, então sempre foi uma posição de amizade. Vamos ter que conversar, mas foi uma amizade intensa. Minha torcida é para ela. Se tivesse tido vontade de estar com uma mulher lá dentro, provavelmente aconteceria. Mesmo sabendo que existe o medo do julgamento das pessoas quando você está em um programa como esse, e só conhecem você lá, não sabem quem você é na sua vida. O povo está doido para ter um casal de mulheres na casa. Entendo, é representatividade”

*Por Brunna Condini

“Fada sensata” é uma gíria usada para elogiar uma pessoa, dizendo que ela está correta sobre o que disse, é coerente. Fada sensata: aquela que busca a sensatez, bom senso, equilíbrio. Características que o confinamento e a exposição de um reality show como Big Brother Brasil, podem desconstruir rapidamente. Ou não. Até porque, toda sensatez sempre acaba dialogando com doses de insensatez e controvérsia. Marcela Mc Gowan, a 12ª eliminada do BBB20, falou com exclusividade ao site, e afirmou que apesar de entender que o “título” no reality veio carregado de bons significados – como representatividade feminina diante de atitudes machistas – identificou que também vinham no pacote cobranças e consequentes frustrações.

“A história da fada sensata é um elogio, recebo com carinho. Isso é bom, mas ninguém é perfeito. Me coloco diante de uma sociedade machista, cheia de preconceitos. Acho que tive atitudes consideradas sensatas, mas não estou acima de cometer erros”, avalia a médica.

“Acho que tive atitudes consideradas sensatas, mas não estou acima de cometer erros” (Foto: Victor Pollak/Globo)

No início do programa, Marcela confrontou o plano de alguns brothers que planejavam expor as participantes Bianca Andrade e Mari Gonzalez, “seduzindo-as” para tentar fazê-las traírem seus relacionamentos fora da casa. A obstetra conseguiu a adesão feminina, e os envolvidos foram saindo um a um. Marcela era uma das favoritas ao prêmio. O que aconteceu? “Acho que foi um conjunto de fatos. Isso ter acontecido com os meninos jogou uma expectativa grande em cima de mim. De ser perfeita e não sou”, observa.

“E acho que tem outra coisa. Quando sai, fiquei surpresa que esperavam que eu fizesse um casal com a Gi (a participante Gizelly Bicalho). Então, quando o Dan entrou (Daniel Lenhardt), acho que quebrou outra expectativa do público. Não concordavam muito com as atitudes dele. Foram expectativas muito grandes, cobranças. Acho que qualquer erro dentro da casa é pontuado, fica marcado, é um universo de confinamento”, conclui. “Cumpri o que eu tinha para cumprir, tentei conversar com os meninos. Não passava a mão na cabeça nem do Daniel sobre coisas que não achava bacanas. Tinha medo de virar a militante da casa, mas não tinha como não repassar o que acreditava para as pessoas. Tentei ser assertiva e me posicionei como pude, prezando o respeito mútuo, a troca, para quem queria trocar”.

Marcela no dia da eliminação: “Tentei ser assertiva e me posicionei como pude, prezando o respeito mútuo, a troca, para quem queria trocar” (Reprodução)

Marcela saiu de um isolamento total para um necessário, por conta da pandemia do Covid-19. Você é médica, então tem a real dimensão do que estamos vivendo com o novo Coronavírus. O que mais dá medo? “Tudo me assustou muito. Não temos noção da gravidade dentro da casa. Às vezes perguntavam lá quando ia ser liberado ter plateia de novo nas eliminações, por exemplo, então, apesar da informação ter chegado, de sabermos o que estava acontecendo, não dá para ter a dimensão”, diz.

“As pessoas precisam se cuidar. Manter a calma e o isolamento. Lavar as mãos, seguir as orientações. Além disso, pensar que tempo de crise, também é tempo de refletir. Temos oportunidade na internet de mergulhar em histórias positivas e negativas. Nunca tanta coisa foi trazida à tona. É um momento de refletir, julgar menos, procurar entender, é uma boa oportunidade de crescer. Desejo para nós muito autoconhecimento e resiliência. Vou para casa do meus pais no interior (Rancharia, São Paulo) e ficar lá, trabalhar em casa”.

Pretende encontrar com o Daniel, mesmo na pandemia, dar seguimento à relação? “O Dan também está confinado, mas queremos nos ver em algum momento para conversar pessoalmente, tomando os cuidados devidos”, conta. “Ele foi uma surpresa boa. Tinha uma ingenuidade e pureza que há muito tempo eu não via em ninguém e é transparente em relação à visão de vida dele”.

“O Dan também está confinado, mas queremos nos ver em algum momento para conversar pessoalmente, tomando os cuidados devidos” (Reprodução)

Antes da eliminação, você estava já bem fragilizada, principalmente depois do voto da Rafa (Rafaella Kaliman), com uma justificativa que você não entendeu, e acabou buscando uma conversa. Se magoou ou sentiu-se julgada com as falas dela e da Manu Gavassi sobre as suas atitudes? “Acho que como elas têm mais experiência com a exposição aqui fora, talvez saibam mais o peso disso também. Acho que elas estavam tentando mais me alertar por isso”, justifica a loira, que fazia parte da chamada “comunidade hippie” no game.

“É que para mim, o objetivo era jogar me jogando naquela vivência, foi intenso. Eu tinha mais tesão pela experiência do que por qualquer coisa. Tem gente mais focada na carreira, visibilidade, prêmio, e tudo bem. Cada um com seus objetivos, o meu principal era me jogar. E essa história de ter feito parte da “comunidade hippie” foi muito lindo. Começou de uma maneira doida, comigo, Thelminha, Gizelly e Pyong excluídos da galera, Rafa e Manu perdidas. A gente se uniu brincando e quando vimos, as pessoas foram saindo e nós, os mais esquisitos, ficamos. Ficamos perto de pessoas que realmente tinham princípios em comum com a gente”.

Com Rafa Kalimann e Manu Gavassi: “Acho que como elas têm mais experiência com a exposição aqui fora, talvez saibam mais o peso disso também. Acho que elas estavam tentando mais me alertar” (Reprodução)

Muitos shipparam você e Gizelly como casal aqui fora, mas você já disse que são muito amigas, e que ela é do tipo de amiga ciumenta. Quando saiu, chegou a ver ela dizendo que era apaixonada por você? “A sensação para mim não foi de ter um interesse amoroso. A Gi sempre se posicionou como hétero, então sempre foi uma posição de amizade. Vamos ter que conversar, mas foi uma amizade intensa. Minha torcida é para ela. Se tivesse tido vontade de estar com uma mulher lá dentro, provavelmente aconteceria. Mesmo sabendo que existe o medo do julgamento das pessoas quando você está em um programa como esse, e só conhecem você lá, não sabem quem você é na sua vida. O povo está doido para ter um casal de mulheres na casa. Entendo, é representatividade”.

“Vamos ter que conversar, mas foi uma amizade intensa. Minha torcida é para ela” (Reprodução)

Marcela também é dona do curso online “O Prazer é Todo Meu”, que discute o autoconhecimento e a sexualidade das mulheres com videoaulas. Foi noticiado que enquanto você estava dentro do BBB, recebeu duas mil novas inscrições, e que o valor que vai ganhar já ultrapassaria um milhão de reais. Como pretende administrar isso tudo? “Não quero falar de valores, mas minha sócia disse que tivemos um boom. E isso já era um projeto grande, posso dizer que cresceu bastante e o valor foi expressivo”.

Qual seu maior sonho agora? “É continuar com esse trabalho e usar a medicina com uma ferramenta de comunicação”. Toparia fazer um programa de TV sobre o tema? “Claro! Super toparia trabalhar com comunicadora abordando temas tão importantes”.

O que ninguém te perguntou e você gostaria de falar? “Tenho muito orgulho da minha participação. Sei que frustrei expectativas. Parece clichê, mas dentro da casa é tudo muito diferente. A intensidade é diferente, não só porque fui julgada, mas precisam entender que aquilo é um jogo e as pessoas têm que dar a cara para bater. É uma situação de estresse, lá tudo tem outro peso: falas, paixões. Viver aquilo lá é muito mais louco do que observar”.

“Super toparia trabalhar com comunicadora abordando temas tão importantes” (Victor Pollak/Globo)