*por Vítor Antunes
A novela das 19h, “Família é Tudo” uma característica diferente das outras igualmente no ar. É uma trama pop, animada, feita para descontrair, e por isso, aclamada na audiência na TV e na Internet. Há inclusive aqueles que dizem ser ela uma trama “farofa”, ou seja, intencionalmente divertida. A proposta vem dando certo. Tanto que a novela suplantou a média de “Fuzuê” e lidera o horário com folga. Henrique Barreira é um dos poucos atores da trama a estar num núcleo que não é o cômico. Para o ator, “‘Família é Tudo‘. “tem uma dramaturgia solta e leve, que acabou se refletindo na minha composição. O Daniel Ortiz, autor, ressaltou que meu personagem estaria num núcleo mais dramático e envolvido num crime, periférico a outros com comédias. No começo eu me cobrava sobre achar que iríamos carregar o drama da novela e ficar isolado na linguagem, mas está sendo interessante esse equilíbrio e profundidade trazida pelo nosso núcleo”. Barreira também destaca as contradições que a sociedade moderna precisa enfrentar no lidar com as redes sociais. “Ainda que elas sejam ultra necessárias, elas são um ambiente perigoso. Nós como artistas precisamos saber separar o que é crítica vinda da internet, das opiniões direcionadas ao seu trabalho. O Twitter é apenas uma porção pequena quando comparada ao público geral da novela.
Eu não lido bem com as redes sociais, não sou instagramável ou twitteiro e lanço mão dessas redes apenas por questões de trabalho. Nesse sentido, prefiro que falem através do meu trabalho, que ele fale por mim. Ainda que a bolha noveleira seja importante, não me perco achando que aquilo é o Brasil. O Twitter (atual X), inclusive, pode ser muito cruel com as pessoas – Henrique Barreira
Além da novela, Henrique integra o elenco do longa, “A Solidão dos Jovens Atores“, dirigido por Márcio Reolon e Filipe Matzembacher e que deve estrear no começo do próximo ano, quando pretende ainda voltar aos palcos com o ator Rafael Saraiva, atualmente em “No Rancho Fundo“, com uma peça sobre paternidade dirigida por Pedro Brício. “Quero voltar aos palcos, retomando o processo com o teatro. Me sinto em dívida com o gênero, que foi a minha primeira expressão enquanto artista”.
PERSONAGENS, O DIREITO, A SENSIBILIDADE
A primeira novela de Henrique Barreira foi “Vai na Fé“. Nesta, vivia o redpill Fred, um homem bruto, machista. Diferentemente de Murilo, um homem sensível. Um ponto em comum entre eles? Ambos são advogados. Na maior parte da novela, Fred é acadêmico de Direito e se forma, ao fim dela. Já Murilo, é advogado formado. Daí, acabou surgindo nas redes sociais a brincadeira que o próximo personagem de Henrique será… um juiz. Será que mesmo de profissões semelhantes esses rapazes se conheceriam? “Não. Fred é da pá virada. E ainda que se conhecessem seriam advogados diferentes”.
Henrique segue estabelecendo diferenças entre os personagens. “Está sendo incrível viver o Murilo, porque ele me deixa experimentar. Um personagem maduro, um bom profissional, e que, ao mesmo tempo, tenta equilibrar o sentimento dele com o seu lado racional, que entende ser tudo muito perigoso, inclusive apostar no amor da Electra (Juliana Paiva). Ele é um cara digno, que faz tudo com o coração. Já o Fred era o machista sem noção, de masculinidade toxica. Outra energia. Tanto que há quem acredite que eu sou mais velho do que sou de fato. Acho isso um grande elogio, que é dar a ele dignidade e maturidade, fazê-lo humano no lugar da paixão, dos seus desejos e vontades”. Segundo ele, uma das grandes características das novelas das 19h é, justamente, a assinatura de cada autor que “tem uma peculiaridade e cada autor e diretor faz com que seja uma linguagem diferente”.
Tal como os personagens principais de “Família é Tudo”, Henrique também tem uma família numerosa. “Tenho cinco irmãos e somos muito unidos, especialmente depois da morte do meu pai. Hoje, eu sou tio e sempre gostei dessa convivência, da sensação de casa cheia, de viagem em família, de piadas internas”, salienta. Inclusive, muito da sua sensibilidade atística vem de sua família. “Um legado dos meus pais o gosto pela escrita. Comecei a escrever e vi que gostava de expurgar sentimentos através da palavra, da construção. Já fiz poema, crônica e cheguei a pensar ser jornalista. Durante a pandemia comecei a pirar em roteiro de curta e longa, analisar roteiro de série e pensar como vender projetos e escrever histórias a partir do zero, mas sempre deixo o meu lado ator ir à frente”.
Além do gosto pelas palavras, o pai de Henrique deixou a ele outra herança. Esta rubro-negra e emocionada: O Flamengo. É possível ser flamenguista e não ser apaixonado? Muito dificilmente. E no caso de Henrique pensar em Flamengo é contactar-se com a mais doce memória. O pai do ator faleceu em 2020, durante a pandemia. “No meu primeiro jogo fui nas costas do meu pai, em 2007, onde o Flamengo ganhou do São Paulo, num placar de 1×0. Lembro de ter ficado assustado e encantado com tanta gente e foi assim que me apaixonei pelo Flamengo. Trago comigo esse legado deixado pelo meu pai. Mas, sem dúvida, o momento mais catártico foi a vitória do Flamengo, na Libertadores. No segundo gol, ficamos eu, o Rafael Saraiva e mais um amigo emocionados, na rua”. A frase a seguir, utilizada para traduzir o Fla, não teriam tradução melhor senão para definir uma pessoa que usa a própria emoção como ferramente de trabalho: “Os sonhos são os melhores”. Que é Arte é generosidade? Que é o Flamengo, senão uma fé que move devotos convictos? E, porque não dizer que, para Henrique, que é amor, senão saudade.
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