* Por Carlos Lima Costa
Ao longo da carreira, Henri Pagnoncelli sempre gostou mais de interpretar vilões do que mocinhos. E brilhou com vários deles. O de maior destaque foi na novela Laços de Família, reprisada na Globo. Orlando, seu personagem, tinha forte fixação por Capitu, prostituta de luxo, vivida por Giovanna Antonelli, sendo agressivo verbal e fisicamente. “Ele tinha obsessão por ela e usava das armas da violência, tudo que a gente combate e realmente teve uma repercussão muito grande na época. Ele era um vilão. Uma das funções da arte é mostrar certas situações e ensinar. Hoje, a mulher tem mais coragem e respaldo para denunciar e tomar atitudes, para evitar, responder e impedir assédio e violência. Basta de agressão às mulheres. Isso não pode mais acontecer”, pontua o ator, aos 67 anos.
Situações inusitadas e peculiares não faltaram devido a tremenda repercussão da trama. “Na época, eu era perseguido na rua. Passei um final de semana, em Búzios, e enquanto minha mulher olhava roupas em uma loja, fiquei esperando na Rua das Pedras. Nisso, veio uma senhora, me dando bronca, com o dedo em riste na minha cara e falando: ‘Larga essa menina, você não vale nada’. Ela foi vindo pra cima de mim, eu fui recuando, entrei na loja e fui para o provador para fugir da mulher que estava me ameaçando”, relembra. “Outra vez, em um supermercado, uma senhora ameaçou me bater com um guarda-chuva”, acrescenta sobre a repercussão deste trabalho, exibido inicialmente entre 2000 e 2001.
E frisa: “Foi estranho ser xingado. Quem vê algo assim pensa que você é um mau caráter que está importunando a pessoa, mas ao mesmo tempo, na verdade, este tipo de situação era um sinal de que a minha interpretação estava tocando as pessoas, surtindo o efeito que o autor, o diretor e eu queríamos”, afirma.
“A novela é boa e atual. O Maneco (o autor Manoel Carlos) sempre lidou bem com o lado humano dos personagens. Mesmo de máscara, me identificam pela voz. As pessoas veem e me falam: ‘como era incrível o personagem’. Não tem o impacto da novidade, mas tem ainda o reconhecimento pelo trabalho”, observa.
E Henri faz uma ressalva sobre esse seu emblemático papel. “Ele não veio pronto, era pequeno. Eu fui ganhando, tem um mérito gigantesco meu, fui conquistando com meu trabalho”, observa e cita outros dois vilões que também adorou fazer: O César, de Mulheres de Areia, também na Globo, e Chaim, em O Rico e Lázaro, na Record.
Em termos afetivos, na vida real, Henri tem uma vida oposta e pacata. Há 35 anos, ele está casado com a autora Teresa Frota, com quem namorou por dois anos. “Gosto muito, a gente divide bem a relação por igual de amizade, tesão, amor. Isso funciona. Acho que sou um sortudo”, ressalta sobre sua parceira de vida e trabalho. Os dois, inclusive, se apaixonaram no decorrer da temporada do espetáculo Caiu o Ministério, no qual ele interpretava o marido da personagem dela. “Encontrei a mulher que eu curto, que me atura e vamos até o final dos tempos”, acrescenta. Os dois são pais de João Pedro, de 31 anos.
Além de ator e diretor, Henri também é médico. Ele nunca abandonou essa outra profissão. Mas foi mudando de especialidade. Antes, lidava com doenças infecciosas, passou pela acupuntura até chegar na medicina estética. “Atendo em clínica de uma amiga”, conta ele que aplica botox, faz peeling, laser e preenchimento. “Uma vez, uma amiga colocou um pouco na minha testa, mas não tenho problema com ruga. A primeira pergunta que faço a um paciente é ‘o que o incomoda?’”, diz.
A dedicação a essa área ficou ainda mais reduzida depois de 2017, ano em que não foi renovado seu contrato com a Record. Agora, de volta à emissora, ele tem contrato por obra. Em 2018, uma mudança radical. Henri e Teresa foram morar em Lisboa. Em geral, ele vem ao Rio quando tem algum trabalho. Em 2019, gravou Jezabel. E está no Brasil desde 15 de novembro por conta da novela Gênesis, que estreia no dia 19. Ele vai dar vida a Isac. Na capital portuguesa, o ator já atuou no teatro e participou da novela Valor da Vida, na TVI, em 2018/2019.
“Nessa altura da vida me dei de presente morar um tempo por lá. Sempre curti demais Portugal. Aqui no Brasil está muito barra pesada. Brinco que Lisboa é o Rio de Janeiro que deu certo, tem o espírito carioca, sem falar na tranquilidade. Aqui, no Rio temos um nível doentio de estresse pela violência e pelo jeito que o país está largado, é uma decepção geral. Lá, nem tenho carro. Ando de ônibus, de trem sem problema. Se vou ficar mais dois, cinco, dez anos eu não sei. Mas vou e volto, vou e volto, trabalhando nos dois lugares”, assegura. “Os portugueses respeitam muito os atores, os professores, os médicos”, completa.
Quando a pandemia explodiu e veio a quarentena, Henri ia estrear, em Lisboa, a peça Os Impagáveis, escrita por sua mulher. Dois meses depois, quando os teatro foram reabertos, eles puderam encenar. “Lá, o presidente e o primeiro ministro foram à televisão e pediram para as pessoas se recolherem. Na minha família, ninguém testou positivo para Covid-19. Eu me cuido, ando direto com álcool gel, máscara, só saio para o que for necessário. Vamos ter que viver esse tempo. E com todos os cuidados e protocolos vou trabalhar”, conclui.
Artigos relacionados