Helô Pinheiro, eterna Garota de Ipanema, sonha com programa na TV aberta e diz considerar-se “gatosa, uma gata idosa”


Não há no Brasil e no mundo quem não conheça a música “Garota de Ipanema”. De igual maneira, não há pessoa que não saiba que a homenageada é Helô Pinheiro. A canção de Tom Jobim e Vinicius de Morais foi gravada em 1962, mas só teve sua musa inspiradora revelada em 1965. E ela revela que “Garota de Ipanema” deve virar filme. A comunicadora e personalidade da mídia é também mãe da apresentadora Ticiane Pinheiro e comenta sobre o sonho de fazer não só o programa que já apresenta, o “Alô, Helô”, na Combrasil TV,  mas em ter mais um em rede aberta. Uma das mulheres mais bonitas do país, Helô ama moda e acaba de fazer a campanha da Flor de Lis, da qual a filha é embaixadora. Desde muito cedo fazendo editoriais, Helô acredita que “a moda é democrática”, assim como as redes sociais, onde no TIK Tok é presente: “Eu mesma adoro e escuto muito dizerem que se inspiram em mim. Isso me deixa orgulhosa”, diz

*por Vítor Antunes

A música “Garota de Ipanema” tem 62 anos. A revelação de que Helô Pinheiro era a musa de Tom Jobim (1927-1994) e Vinicius de Moraes (1913-1980) deu-se em 1965. E não apenas mudou os rumos da menina Heloisa, até então sem ser conhecida nacionalmente como “Helô Pinheiro” . A edição 700 da extinta Manchete, publicada em 18/9/1965, tornou pública a inspiração dos poetas cariocas. O tom de ineditismo se refletiu por várias páginas da revista, que alardeava: “Uma descoberta sensacional dos nossos repórteres: Ela, Heloisa Eneida de Meneses Paes Pinto“. Desde então, Helô segue consagrada mundialmente. O ano de 2024 para ela “sugere realizações de coisas sonhadas”. Um de seus projetos é o filme “Garota de Ipanema“, à espera de um patrocinador. E, outro, o de fazer não só o programa que já apresenta, o “Alô Helô“, na Combrasil TV,  mas em ter mais um em rede aberta:

Meu sonho sempre foi fazer Globo ou GNT, um programa de variedades ou de entrevistas. Voltaria a fazer trabalhos como atriz. Não recebi mais convites. Fiz algumas peças, mas a TV sempre me fascinou – Helô Pinheiro

Em 1999, Helô lançou a marca de beachwear que levava o seu nome, mas preferiu dar um tempo na empreitada. Agora, no início de 2024, protagonizou a campanha da Flor de Lis em dupla com Ticiane Pinheiro, sua filha e apresentadora do “Hoje em Dia“, da Record. Foi algo que “me deu grande prazer e ainda fui homenageada. Uma gentileza da grife e pela qual só tenho a agradecer”. Helô acredita que “a moda é democrática”, quando perguntada se crê haver um estilo específico para jovens ou mulheres maduras. “Não é a idade que irá ditar isso, o que pode ou não. As pessoas têm o direito de ter escolhas. Agora tudo precisa de bom senso para se sentir bem. Não cabe dizer que uma pessoa de idade não pode usar isso ou aquilo”, analisa.

A moda, aliás, é um espaço no qual Helô sempre transitou: “Comecei assim, fotografando com Elisabete Gaspar e outras pessoas de renome. Fiz desfiles beneficentes e sempre me relacionei bem”, sinaliza. Quanto ao tempo, ela diz encará-lo com naturalidade. “É a evolução da vida. É a fase que ganhamos mais experiência e nos sentimos mais úteis. Não me importo com os números da idade, enquanto eu tiver condições de fazer o que fazia anos atrás. Agora, porém, migrei de garota a gatosa – uma gata idosa”, assinala, bem humorada e próxima de completar inacreditáveis 80 anos.

 

Helô Pinheiro em ensaio para a Flor de Lis: “A moda é democrática” (Foto: Renam Christofoletti)

 

“LOVELY, THE GIRL FROM IPANEMA”

Vinícius de Morais revela quem é a verdadeira garôta de Ipanema“. Este foi o título de uma das principais matérias da Revista Manchete, de setembro de 1965, inclusive com o acento circunflexo na palavra garota, tão extinto quanto a própria publicação da Bloch. Acima, em inglês, um trecho da música que foi versionada para ser gravada por Frank Sinatra (1915-1998). Um sucesso abismal e até hoje a canção brasileira mais gravada e conhecida. Será que hoje em dia essa música existiria? A própria Manchete de 1979 diz que “uma garota de 14 anos, passava na porta do bar e ouvia, encabulada, as poéticas piadas que a dupla da Bossa Nova lhe falava”. Helô passava naquele caminho, necessariamente, conforme declarou à mesma revista no fim dos anos 1970: “Aquele era o meu caminho, também para poder comprar cigarros para a minha mãe”. Helô nos conta, inclusive, que não tinha muito contato com os deuses da Bossa Nova, senão pelas brincadeiras que eles lhe faziam à beira do Bar Veloso – Hoje Bar do Vinícius, em Ipanema. “Nunca havia tido contato com eles, mas Vinícius quis revelar que eu os havia inspirado e a Manchete promoveu o nosso encontro, que resultou num texto lindo. Eu já fazia comerciais de TV e desfilava. Depois da revelação fiquei mais conhecida e comecei a dar autógrafos e ter mais procura para trabalhos”.

Tom e eu emudecíamos à sua vinda maravilhosa. O ar ficava mais volátil como para facilitar-lhe o divino balanço do andar (…). Seu balanceio era quase samba,  cuja fórmula teria escapado aos egípcios, teria escapado ao próprio Einstein. Era preciso um Antonio Carlos Jobim pedir, em grande e religiosa intimidade, a revelação do seu segredo (… ). Para ela, com todo o respeito e mudo encantamento, fizemos o samba que a colocou no mundo inteiro e fez de nosssa querida Ipanema uma palavra mágica para os ouvidos  estrangeiros – Vinícius de Morais,  à Revista Manchete (1965).

Primeiro encontro formal entre Vinicius de Morais e uma tímida Helô, em 1965 (Foto: Revista Manchete/Biblioteca Nacional)

Diante da importância em sua vida, Tom e Vinicius “foram convidados para serem meus padrinhos de casamento que aconteceu na Igreja da Candelária. Tom e Thereza Hermanny, sua primeira esposa, me deram esse prazer. Vininha (apelido de Vinícius de Morais) pediu para que eu mudasse a data do casamento para que ele estivesse presente, mas já era impossível. Estive com ele no Festival de Cannes. Quanto ao pessoal da Bossa Nova, acabei por ter contato também, com Roberto Menescal, Carlinhos Lyra (1933-2023), Pery Ribeiro (1937-2012) e o Quarteto em Cy”, relembra.

Helô Pinheiro foi “descoberta” por Tom e Vinicius e até hoje é reconhecida pela música composta em sua homenagem (Foto: Renam Christofoletti)

 

CARA A CARA

Cara a Cara” foi a primeira novela de Helô Pinheiro. Exibida pela Bandeirantes em 1979, foi, a última novela inteira a ser escrita por Vicente Sesso. Por acaso, única novela inteira feita por Helô também. Encarando o tempo e a beleza da juventude, junto ao “sentimento de mocidade que passa”, como disse Vinicius no texto em homenagem a ela escrito em Manchete, Helô questiona o excesso de procedimentos estéticos em pessoas que não querem aceitar que o tempo é implacável. “Há pessoas que se transformam a ponto de não serem reconhecidas. Lastimo esses tratamentos exagerados. Tudo na vida tem que ter harmonia para dar certo”.

A cobrança estética sempre irá existir, mas o ser humano tem outras qualidades invisíveis a olho nu, como as ações e considerações que admiramos. A beleza externa acaba, mas o conteúdo é eterno – Helô Pinheiro

Ainda entre esses diálogos entre modernidade e tradição, Helô acredita que as redes sociais ou plataformas como o TikTok representam “uma nova fase que dá oportunidade aos jovens de se mostrarem de várias formas. Acho que a internet veio trazer possibilidades. É o bom que faz o bem. As dancinhas fizeram as pessoas se descontraírem, principalmente as vovós. Eu mesma adoro e escuto muito dizerem que se inspiram em mim. Isso me deixa orgulhosa”.

Casada desde 1966, há 68 anos, portanto, com Fernando Pinheiro, Helô crê que o segredo de um casamento longevo está na paciência e no respeito. “Acredito muito no respeito e na torcida que um tem pelo outro. Não pode existir competição e, sim, cumplicidade. Mas o segredo maior é a paciência que precisa se ter SEMPRE, para muita das vezes acalmar a relação de um desentendimento que poderia resultar em um estresse a ponto de chegar a separação, muitas vezes resultado de arrependimento e orgulho. Isso é o que pode atrapalhar um casamento”, frisa.

Fernando e Helo Pinheiro. Quase 60 anos juntos (Foto: Reprodução/Instagram)