*Por Brunna Condini
Como demanda do público, a diversidade vem ocupando também cada vez mais espaço nas produções audiovisuais, como em “Tudo Igual… SQN”, da Disney+, que tem no elenco Guilhermina Libânio vivendo uma ativista ambiental e lésbica na série. Com o trabalho, a atriz vê uma oportunidade de ampliar as vozes da representatividade. “Essas pessoas existem e merecem ser legitimadas, terem suas histórias contadas, e com normalidade. A minha personagem é uma pessoa, que, por acaso ama outra, que é uma menina. Isso não é colocado como uma questão, como de fato não é”.
Aos 24 anos, Guilhermina também divide: “Nunca namorei meninas, já beijei. Digo que sou hetero, porque meus relacionamentos sempre foram com homens até então. Aí fico pensando, até já conversei sobre isso com algumas amigas, tem que ter um nome para o que eu sou? O que me interessa é o ser humano. Você é uma boa pessoa? Trata bem quem está à sua volta? Você me encanta? Isso é o importante para mim”, diz.
“O resto não passa de um nome. A não ser que você esteja usando-o para uma luta específica. Quando uma pessoa lésbica diz que é lésbica, isso representa muitos pontos. Como quando falo que sou gorda, é uma palavra que carrega representação de identificação, de entender quem sou, e da luta. Mas vivendo em um futuro, que espero que esteja mais próximo do que distante, os nomes serão bobagens. O importante será se você ama, está feliz. Serão só nomes”.
E acrescenta: “Acredito que se me apaixonasse por uma menina viveria isso. Na ‘hora do vamos ver’, é que a gente sabe, né? Porque vivemos em uma sociedade ainda muito preconceituosa. Mas acredito que sim, não me permito que me coloquem rédeas. Sou virginiana, já penso muito, racionalizo tudo, me imponho muitas rédeas que vou tirando na terapia (risos). Então, não permito que o outro diga o que eu posso ou não fazer, quem posso ou não amar”.
Papel dos sonhos
Aguardando a estreia de ‘Fim’, série baseada no romance de Fernanda Torres, para a Globoplay, com direção de Andrucha Waddington, ela celebra a conquista. “É diferente de tudo que fiz até agora. Faço Samira, uma secretária executiva, e contraceno o Fabio Assunção, que interpreta Ciro na história. Participar desta série é muito importante. Li o livro da Fernanda aos 16 anos. E quando surgiu o teste, falei pra minha empresária, a Carol Condé, que gostaria de fazer nem que fosse para segurar uma toalha no fundo do cenário (risos). Deu certo e está incrível”, conta.
Com cinco anos de uma carreira ascendente, Guilhermina avalia que a TV está mais inclusiva, mas ainda tem que caminhar muito. “Representatividade não se faz com uma única pessoa ocupando um lugar. É importante, claro, mas a representatividade não está exposta na mesa, se tem uma única pessoa gorda, preta, em um elenco, por exemplo. Precisamos de mais do que isso. Até porque, muitas vezes é bem solitário. Não porque as outras pessoas não são bacanas, mas porque são vivências diferentes. Caminhamos, mas ainda temos muita estrada. Não é mais aceitável um elenco sem diversidade, porque o mundo é diverso. E acho que nem sempre quando colocamos uma pessoa que não é padrão, precisamos falar do tema. Só a existência daquela pessoa ali, já representa muita coisa”, observa.
“Até me emociono falando. Durante muito tempo achei que não seria atriz por ser gorda. Penso o tanto de tempo que perdi, mesmo hoje achando que me tornei atriz na idade certa. Ainda assim, acho que deixei de acreditar em mim, porque não me via lá. Assistia atrizes gordas fazendo humor, um papel ou outro, mas eu amava novelas, e a mocinha nunca era gorda. Por isso achei que não conseguiria, mas quando tive uma oportunidade, acreditei que era possível. E quando me viram na TV, outras meninas também acreditaram. A televisão no Brasil ainda é o veículo de massa. Então, o papel dos sonhos na TV é deixar a gente sonhar, e para gente sonhar, a gente tem que se ver, poder contar a nossa história”.
Corpo livre
Para além da arte e dos sonhos profissionais, Guilhermina usa sua visibilidade para colocar temas relevantes em pauta, como feminismo, e body positive, movimento que preza pela aceitação do corpo sem a necessidade de se enquadrar em um padrão. “Dizer não a pressão estética é um processo diário. Até porque nem todo dia a gente acorda se sentindo bem, linda e tal. Temos que entender que o processo de aceitação é desafiador porque é muito longo. Venho evoluindo, ganhando cada vez mais autoconfiança. E quando estamos seguras, isso explode em nossa presença, beleza. As pessoas percebem, vem falar. Acabamos brilhando quando estamos mais felizes e tranquilas com quem somos”, afirma.
“Tenho ganho a coragem de ser exatamente quem eu sou, e isso tem a ver com não me importar tanto com essas pressões externas, é uma desconstrução diária. Amar o meu corpo como é, não quer dizer que ele não possa ser outro amanhã, o corpo é flexível, a vida muda, a rotina se transforma. Se eu quiser emagrecer, vou, e tudo bem. Hoje, por exemplo, tenho cuidado mais do que como, e como de tudo. Mas consegui, digamos, uma ‘paz’ de espírito (risos), para comer com mais responsabilidade. Tentando um equilíbrio. Por conta dessa pressão social em volta, a relação que temos com a comida é muito intoxicada. Colocam comidas como ‘boas’ e como ‘vilãs’, quando na verdade, moderação é bom com tudo. Afinal, até água demais afoga (risos). Então, me ocupo de ter uma vida mais equilibrada, em que eu faça exercício porque sei que me faz bem, onde eu escolho o que comer, nutrindo o meu corpo com carinho, não com ódio”.
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