*Por Brunna Condini
A arte como instrumento para abrir cabeças e corações. É nesse mood que o ator Guilherme Magon vem trabalhando nos últimos anos. E como é “junto dos bão que a gente fica mió” (frase de Guimarães Rosa), ele ‘colou’ nos feras Antonio Fagundes e Miguel Falabella, abrindo 2023 do jeito que mais gosta: trabalhando. Na próxima semana, estará em cena com Fagundes em ‘Baixa Terapia‘, no Teatro Clara Nunes, no Shopping da Gávea, além de integrar o elenco do musical da Disney+, ‘O Coro: Sucesso, Aqui Vou Eu‘, escrito por Falabella, que também dirige e atua na produção. Magon vive um diretor gay, trazendo representatividade LGBTQIA+ para uma série do canal Disney+, e fala da importância da naturalização, desde sempre, de toda forma de ser e de amar. “Penso que chegamos em um momento em que não é mais possível não enxergar e assumir a diversidade de corpos, gêneros, etnias e orientações sexuais que existem no mundo. Isso é assim e é muito bonito. Aqueles que não acompanharem esta obviedade ficarão para trás com o tempo”.
Leia mais: Antonio Fagundes estreia peça, tem projeto no streaming e diz que voltaria às novelas na Globo
Sobre o trabalho com Antonio Fagundes, o ator celebra: “Essa é a segunda peça de longa duração que faço com ele. Aprendo muito em cena por dividir o palco com esse cara que é um patrimônio nacional. E fora de cena, aprendo sobre a dignidade da nossa profissão, tenho muito mais visão sobre o meu trabalho e a nossa indústria, por ter convivido esses anos todos com Fagundes”. Magon também divide aqui uma curiosidade dos bastidores com o Fagundes: “No teatro ele não decora nada na hora ou com muita rapidez, como é famoso por fazer na televisão. Prefere ficar um bom tempo com o texto na mão de propósito, extraindo tudo o que pode dele, sem a pressa por decorar”.
Naturalizando a diversidade
O ator de 36 anos grava no momento outra série de Miguel Falabella, ‘O Som e a Sílaba’, também do Disney+, ao lado de Alessandra Maestrini, projeto que traz o espectro autista para o centro da narrativa. “Faço o irmão da personagem da Alessandra (Sarah), que é seu maior apoiador. Ela é autista e, entre suas super capacidades, canta ópera, alimentando o sonho de ser uma cantora lírica profissional. John, meu personagem, é quem cuida de Sarah há muitos anos e ela é o maior elo amoroso de sua vida. Miguel aborda o autismo de uma forma muito humana, leve e sem tom capacitista”, detalha sobre a produção que tem previsão de estreia no segundo semestre de 2023.
Destacando que a arte e a cultura são instrumentos para refletir um mundo plural, Guilherme acredita que o audiovisual brasileiro deve ter o compromisso de não propagar preconceitos. “Acho importante considerar o público que você se comunica, não deixar de lado. Isso serve justamente para entender de que forma podemos tocar cada um, abrindo suas cabeças e seus corações para um novo olhar sobre eles e sobre o mundo. Sem estereótipos. Existem nichos do audiovisual que fazem isso muito bem. O que precisamos é ter essa maestria em todos os nichos”, avalia.
Ele também atribui ao humor – presente nas produções que tem participado nos últimos tempos – ser outra poderosa ferramenta de transformação: “O humor desarma as pessoas e aí fica muito mais fácil acessá-las e provocar algum tipo de mudança. Mesmo no mundo de hoje. Quando conseguimos rir das nossas precariedades também fica muito mais fácil superá-las. Em um momento, onde o lugar de fala de cada um está cada vez mais consolidado, torço para que o humor continue a ser esse instrumento que nos faz avançar e que assegure esse novo status. Torço para que não o percamos para o politicamente correto e nem para o humor destrutivo e raivoso que não quer unir, mas sim, separar”.
Mais sobre ele
Guilherme Magon descobriu o fascínio pelo ofício aos 7 anos, ainda no colégio. Anos mais tarde, aos 15, começou a fazer teatro profissional. “Essa coisa de ser ator aconteceu desde sempre, não foi nada muito racional, quando vi eu estava no palco, mesmo sem ter nenhum artista na família. Hoje percebo que sou ator, porque tenho um fascínio pelas pessoas, em observá-las e imitá-las, desde pequeno. Com o tempo, também fui entendendo a função que nós artistas temos ao sermos veículos de outras mentalidades e sensações. Isso nos cura e salva, e também aos outros. Se eu não fosse ator provavelmente seria algum tipo de terapeuta”, diz.
O ator é cria do teatro, apesar de no ano passado, com as produções Disney +, ter dado continuidade à relação de amor com o streaming, que começou com a minissérie ‘Assédio’ (2018) na TV Globo, e com a série ‘Hard‘ (2020), na HBO. Um ator que não está na TV, consegue viver bem da profissão hoje? “Eu vivi bem de teatro nos últimos 15 anos. E repito, tive a sorte de estar em produções que duraram um bom tempo, porque foram sucesso. Tenho noção de que essa não é a regra do ator de teatro em geral, ainda é um desafio produzir no Brasil. Por muito fatores, mas, principalmente, pelo teatro não ser mantido como uma forma de política de estado, independente de quem está no governo – como é em muitos países. Também pesa o fato de não aprendermos desde pequenos que ser ator é uma profissão tão importante para a sociedade como qualquer outra, e ir ao teatro significa ver esses profissionais ao vivo e em ação, oferecendo um serviço que vai te fazer bem. Sempre tive o audiovisual me acompanhando em paralelo, mas recentemente decidi adentrar mesmo. Foi muito legal, porque as oportunidades começaram a chegar. Quero fazer tudo: novela, mais séries e mais cinema”.
Com experiência em grandes musicais como ‘Mamma Mia!‘, ‘Cabaret‘, ‘Tribos‘ e ‘Meu Amigo Charlie Brown‘, além de ‘Hebe – O Musical’, ele é um ator que canta e dança, mas diz que em breve pode fazer da música um caminho mais profissional também: “Através do reconhecimento do meu trabalho como ator, vou deixar as pessoas saberem que eu canto e ver o que pode surgir a partir daí – sem que uma coisa anule a outra. Estou aberto!”.
Artigos relacionados