O diretor Diretor James Gunn já tinha demonstrado talento dirigindo curtas trash de baixo orçamento e em “Super” (idem, com Ellen Page, Kevin Bacon e Liv Tyler, Ambush Entertainement e outros, 2010) e, por isso, acabou sendo a escolha perfeita da Disney para dirigir “Guardiões da Galáxia” (Guardians of the Galaxy, Marvel Studios, 2014), que entra nesta quinta-feira (31/7) em cartaz. O longa é entretenimento da melhor qualidade que resgata a dobradinha de aventura com humor em uma ficção científica que lembra muito aqueles filmes de médio orçamento feitos nos anos 1980, quando a computação gráfica ainda engatinhava, tiradas inteligentes dos roteiristas compensavam alguma maquiagem tosca aqui e ali e os efeitos especiais já impressionavam, mas ainda não haviam chegado ao requinte da tecnologia atual. Manter-se preso a esta estética, mas amplificá-la pelo que há de mais moderno hoje em dia em se tratando de recursos visuais 3D é estratégia certeira para agradar não só à Geração Y (e às idade subsequentes), mas aos marmanjos de quarenta e cinquenta anos que se criaram através do sopro de criatividade invadiu Hollywood após a consagração de gente como Steven Spielberg e Joe Dante. E, por isso mesmo, a enorme soma de dinheiro empregada pela Disney na produção desta delirante fantasia espacial está mais do que justificada.
Fotos (Divulgação)
Os personagens, saídos de obscuros quadrinhos da Marvel só conhecidos por aficionados dos comics, compõem uma panorama que se assemelha à babel de tipos de histórias em quadrinhos cult, como “O Incal”, clássico criado por Moebius e Alejandro Jodorowsky para a revistinha francesa Metal Hurlant, um ícone para os nerds dos anos 1970/1980. A diversidade de figuras estranhas, alienígenas e animais falantes (que poderiam dar as caras nas produções quadrinescas dos oitenta ou em filmes que procuravam faturar na esteira dos grandes blockbusters tipo “Star Wars”) surge aos borbotões em “Guardiões da Galáxia”, provando que o químico Antoine Laurent Lavoisier – autor da máxima que diz “na natureza, na se cria, nada se perde, tudo se transforma” – poderia perfeitamente fazer parte do board de executivos dos grandes estúdios. Assim, comparecem neste longa astros como Glenn Close, Djimon Hounsou e John C. Reilly em caracterizações ótimas, atores como Zoe Saldanha, Michael Rooker e Benicio Del Toro em maquiagens inacreditáveis e estrelas como Bradley Cooper, Vin Diesel e Josh Brolin (não creditado) conferindo credibilidade com suas vozes a criaturas feitas em computação gráfica. Tudo um primor porque, afinal, o duo Marvel/Disney tem uma missão a cumprir e não vai deixar a peteca cair.
Mas é o bonitão Chris Pratt, na pele do mocinho Peter Quill, que segura o filme. Ele tinha tudo para dar errado e ser mais um canastrão no pedaço cinematográfico. Mas tem aquele tipo de carisma de um Brendan Fraser em “A Múmia” e é justamente essa pecha que confere charme ao personagem do terráqueo que viu a mãe morrer e foi abduzido ainda criança e levado direto para o espaço sideral. Com esse argumento, está dada a largada para a sucessão de referências que vão desde as músicas dos anos 1970/1980 que são ouvidas pelo protagonista em um walkman (!), passando por sua levada de anti-herói oportunista de bom coração (como Han Solo, mas com direito a silhueta de caubói espacial de jaqueta, tipo a Ripley de Sigourney Weaver em “Aliens, o resgate” ou Rocketeer) e pelas menções a Michael Jackson, até chegar ao visual de metrópole cosmopolita do futuro, como nos episódios de “Star Trek The Next Generation” ou nas histórinhas da Legião dos Super-Heróis. E, entre todos os créditos da competente equipe de direção de arte, Alexandra Byrne merece destaque. Desde “Thor”, ela vem se superando na difícil transposição do figurino concebido no papel para a realidade fílmica. Delicioso!
Trailer oficial do filme (Divulgação)
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