* Por Carlos Lima Costa
Com uma vida profissional de grandes sucessos no teatro, no cinema e na TV, onde seu mais recente desempenho foi na série Magnífica 70, em 2018, na HBO, o ator Gracindo Junior vem se mantendo distante desse universo com uma vida pacata em meio às montanhas. Na companhia da paisagista Daisy Poli, com quem está casado há 46 anos, deixou a cidade do Rio, e foi viver na Casa da Colina, pousada que ele adquiriu em 1990, na Vila de Maringá, em Visconde de Mauá. “É um lugar que ele ama, seu paraíso particular. Quando comprou o terreno não tinha nem luz no local. A Daisy esteve sempre presente nesse sonho”, ressalta a filha, a produtora Daniela Gracindo.
Na propriedade, que possui oito chalés, o artista, que completa 78 anos na próxima sexta-feira, dia 21, vive em uma casa mais reservada. “Chegou nessa idade produzindo tanta arte, agora vem levando uma vida muito tranquila, quer um contato consigo mesmo, com a natureza, sabe, ele fica tocando o tempo todo, revisitando e estudando projetos para o futuro, que é o que ele mais faz na vida. Apesar dessa rotina atual, meu pai só pensa em trabalho, fica sonhando, planejando, reelaborando algo para o futuro”, acrescenta ela sobre o pai, que tem 59 anos de trajetória profissional.
Antes da pandemia, ele costumava receber com mais frequência a visita dos filhos e netos. Além de Dani, filha da atriz Débora Duarte, ele é pai de Yan (da relação com a psicóloga Vera Lucia), seu primogênito, profissional de marketing, pai de Maria Fernanda e João; e dos atores Gabriel (pai de João Gabriel, Leon e Amélie) e Pedro Gracindo (ele também é músico e faz parte da banda Os Trutas), que tem o pequeno Antônio. Os dois mais novos são do casamento com Daisy. “Minha relação com meus filhos não foi patriarcal e sim, mais anárquica. Sou um pai que aprendo muito com eles. Acima de tudo, somos amigos”, já contou ele.
Essa longa união com Daisy começou após Gracindo ter seis casamentos desfeitos. Ele, inclusive, já até declarou que “se assusta quando pensa que passou todo esse tempo”, que o segredo é a amizade, o respeito e o cuidado com a relação no dia a dia. Antes de começarem a namorar, Gracindo e Daisy já eram amigos. Ela era atriz e foi atuando na peça Corpo a Corpo, de Oduvaldo Vianna Filho (1936-1974), que se conheceram. Ela acabou deixando a profissão, e passou a ser secretária e administradora das peças de Gracindo durante quase três anos. Depois disso, ela, que já era mãe de Bernardo, e Gracindo começaram a namorar e após quatro anos de relacionamento decidiram morar juntos. “É sem dúvida uma grande amiga que eu tenho, pessoa que troca comigo, uma guerreira, está sempre me ajudando, quem cuida da pousada é ela”, disse Gracindo.
Entre os filhos, ele vem mantendo mais contato atualmente com Pedro. Na companhia da mulher, a atriz Júlia Fajardo (filha de José Mayer), Pedro foi morar em um terreno próximo à pousada, comprado por Gracindo, que sempre teve o sonho de construir um teatro na região. Com a ida de seu caçula para lá isso foi colocado em prática, surgindo o Vale Criativo, em Visconde de Mauá. No local, existe um palco montável, onde Pedro vinha dando aulas de teatro para crianças, realizando eventos culturais, monólogos de espetáculos menores. “Meu pai ajudou a construir, que ele adora uma obra, mas quem gerencia e cuida de tudo é o Pedro e a Júlia, que criaram a alma do negócio. Deu uma paradinha por conta da pandemia, mas aos pouquinhos já estão retomando. Virou até um Centro Cultural, levando teatro das capitais lá para a roça”, conta Daniela.
Na primeira década desse século, Pedro fez sua primeira parceria com o pai, projeto que contou também com Daniela. Em 2009, eles lançaram o documentário Paulo Gracindo – O Bem Amado, com o qual Gracindo Junior homenageou o pai, um dos maiores atores que o país conheceu, e que morreu em 1995, aos 84 anos. Na época, o projeto marcou uma tripla estreia. Daniela fez seu primeiro trabalho como produtora executiva, Pedro na montagem, e Gracindo debutou como roteirista e diretor de cinema. Todo o processo de realização do documentário levou cinco anos. Ele já era diretor de teatro desde 1976, quando levou aos palcos a peça Longa Noite de Cristal.
“O mais importante deste filme foi resgatar o meu pai, apresentá-lo às novas gerações que não o conheciam, afinal ele dignificou nossa profissão”, já destacou Gracindo, que também falou das semelhanças com o pai: “A gente se parece demais. Às vezes, me assustava quando me via de costas na televisão. Não precisava nem ser de frente. Eu via o meu pai em um jeito de ombro e a personalidade é muito parecida. Fui ficando mais velho e o meu tempo era para o trabalho como era o dele.”
Pai e filho se encontraram em cena, por exemplo, na novela O Bem Amado, onde Paulo Gracindo interpretou o inesquecível personagem Odorico Paraguaçu, político corrupto e demagogo. Recentemente, a trama de Dias Gomes (1922-1999) chegou ao Globoplay. “Meu avô vivia muito mais no trabalho. Eu o vejo como um patrimônio cultural que nós materializamos um pouco neste documentário. Meu pai se parece muito com ele na forma como sempre trabalhou com muito amor”, ressaltou Daniela. E acrescentou: “Tinha uma tradição de todo domingo ir almoçar na casa dele, a família toda junto. E, principalmente no Natal, ele escrevia algo para a gente fazer uma apresentaçãozinha. Eles gostavam muito dessa brincadeira, inventavam um evento para a criançada se apresentar. Lembro de uma vez que ele escreveu e eu e meus primos nos apresentamos. Lembro bem desses encontros familiares aos domingos, na casa dos avós.”
Em O Casarão, novela de 1976, Gracindo e o pai também emocionaram os telespectadores ao interpretaram o mesmo personagem, o pintor e escultor João Maciel, nas fases jovem e madura. Ao longo da carreira, Gracindo marcou presença também em tramas como Dona Beija, Mandala, O Salvador da Pátria, Rainha da Sucata, Celebridade e Milagre de Jesus, entre outras.
Curiosamente, antes da família ter vários integrantes na área artística, eles atuavam na política. O avô de Gracindo Junior, Demócrito Brandão Gracindo foi prefeito de Maceió, entre 1909 e 1911, onde inaugurou o Teatro Deodoro, e foi membro fundador da Academia Alagoana de Letras, ocupando a cadeira de número 1. Mas era totalmente contra o filho Pelópidas Guimarães Brandão Gracindo (nome de batismo de Paulo Gracindo) ser ator. O pai de Demócrito, aliás, o coronel Epaminondas Hipólito Gracindo, também foi um político influente na região.
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