Exibida na televisão na noite deste domingo (17/1), a cerimônia da 72ª edição do Globo de Ouro revelou o quanto bons redatores são iguaria fina, coisa mais rara que trufa branca. Atualmente, textos bem escritos são cada vez menos constantes na publicidade, no cinema e na TV, e quem conferiu a premiação pôde constatar que as piadas feitas pela terceira vez (e última, ao que parece) pela dupla de apresentadoras, Tina Fey e Amy Poehler, eram tão terríveis quanto um pronunciamento da presidente Dilma sobre a situação econômica do Brasil.
Monólogo de abertura de Tina Fey e Amy Poehler
Até mesmo as participações relâmpago de personalidades que subiam ao palco na hora de conferir estatuetas aos presentes foram vexaminosas, a ponto de um constrangido Don Cheadle proferir, ao lado de Julianna Margulies, a seguinte frase ao homenagear George Clooney com o Prêmio Cecil B. DeMille pelo conjunto da obra: “Esse texto que estou falando agora é meu!”. Quando se chega a esse ponto, está na hora de mandar o time de roteiristas para casa vestir o pijaminha de flanela listrado e procurar uma rapaziada nova com mais gás.
O Globo de Ouro não teve grandes novidades e os grandes premiados foram, aliás, as produções que investiram em roteiros primorosos ou argumentos dignos de tirar o chapéu. Merecidamente, “O Grande Hotel Budapeste” (“The Grand Budapeste Hotel”, Wes Anderson) emplacou ‘Melhor Filme – Comédia ou Musical” (por sinal já leu a crítica do filme?). “Boyhood”, declarado publicamente pelo presidente Barack Obama como seu filme preferido do ano, arrematou o prêmio de ‘Melhor Drama’ pela originalidade de Richard Linklater– também premiado como ‘Melhor Diretor” –, que levou 12 anos filmando seu longa para ter em mãos a veracidade de um protagonista que começa criança e termina adolescente na história. E “Fargo”, a fabulosa série inspirada no filme homônimo dos Irmãos Coen que consegue ser até melhor que o original, ficou com ‘Melhor Minissérie ou Filme para a TV’.
Dessa vez, “American Horror Story” ficou de fora e nem Kathy Bates nem Jessica Lange levaram para casa troféus por seus personagens na quarta temporada da atração, já que concorriam respectivamente pelas categorias de ‘Melhor Atriz Coadjuvante em Série, Minissérie ou Filme para TV’ e de ‘Melhor Atriz em Minissérie ou Filme para a TV’. Prova de que, quando o assunto é bizarrice, o cirquinho freak continua sendo tema maldito em qualquer mídia audiovisual, sobretudo desde os anos 1930, quando a obra-prima “Freaks” (Tod Browning, MGM, 1932) foi considerada proscrita logo após seu lançamento.
Mas, em compensação, Joanne Froggatt, a simpaticíssima chefe das camareiras Anna Bates de “Downton Abbey”, finalmente ganhou seu reconhecimento como ‘Melhor Atriz Coadjuvante em Série, Minissérie ou Filme para TV’. Era visível sua alegria no palco e foi possível conferir o quanto o visagismo é bom na série, já que ela estava linda na cerimônia e seu personagem é visualmente tão comum na tela, assim como sua colega de elenco, Laura Carmichael (Lady Edith Crawley) – presente na plateia –, que também provou-se uma linda mulher fora da série.
Outro que finalmente ganhou o prêmio foi Kevin Spacey por “House of Cards”, como ‘Melhor Ator em Série de TV – Drama’. Sua falta de cerimônia no palco foi enorme, mas, convenhamos, esse é um pecadilho menor considerando sua estatura profissional. Para um ator que está sempre em excelente forma, ele já deveria ter levado o prêmio em outras ocasiões. E olha que dessa vez a concorrência foi pesada, com outros atores excelentes: James Spader (The blacklist), Liev Schreiber (Ray Donovan), Dominic West (The Affair) e Clive Owen (The Knick).
Mas, entre todos os premiados, haja cabelo ruivo! É possível dizer que a noite foi vermelha: cinco talentos foram contemplados por seus magníficos trabalhos, revelando que não importa a nuance, madeixas rubras estão na ordem do dia, para a alegria da Majirel. Julianne Moore (“Para Sempre Alice”) como ‘Melhor Atriz – Drama’ (HT já havia previsto que essa era a temporada de Julianne, lembra?); Amy Adams (“Grandes Olhos”) como ‘Melhor Atriz – Comédia ou Musical’, Eddie Redmayne (“A Teoria de tudo”) como ‘Melhor Ator – Drama’; Ruth Wilson (“The Affair”) como ‘Melhor Atriz em Série de TV – Drama’; e o bonitão Matt Bomer (“The Normal Heart”) como ‘Melhor Ator Coadjuvante em Série, Minissérie ou Filme para a TV’.
Este aliás, além de lindo de doer e ótimo ator, é gay e confirmou outra tendência capaz de deixar de orelha em pé aquela turma reacionária da política brazuca, pontificada por Jair Bolsonaro e Marco Feliciano: sim, as minorias sexuais estão em evidência e o Globo de Ouro até pode ter levado isso em conta ao premiar, mas não há como negar a qualidade desses trabalhos. Além de Bomer, o veteraníssimo (e sempre ótimo) Jeffrey Tambor finalmente ganhou um prêmio – ‘Melhor Ator em Série TV – Comédia ou Musical’ –, agora por “Transparent”, atração cujo enredo versa sobre um pai de família que reúne os filhos para dizer que quer se assumir como transgênero. A atração também arrematou ‘Melhor Série de TV – Musical ou Comédia’ e é um primor. Constatação de que este tipo de assunto já não é mais tabu, pelo menos na telinha.
Mas, entre todos os vencedores, a noite foi de Michael Keaton, avassalador em “Birdman”, o longa dirigido por Alejandro González Iñárritu. Excelente intérprete com estrada desde os anos 1980, ele finalmente é coroado com um prêmio importante e espera-se que sua carreira seja ressuscitada para valer, assim como aconteceu com John Travolta a partir de “Pulp Fiction”. Agora, resta esperar o Oscar, que acontece no dia 22 de fevereiro.
Confira abaixo a lista dos candidatos por categoria, com os vencedores em destaque:
Melhor ator coadjuvante (cinema)
Robert Duvall (“O juiz”)
Ethan Hawke (“Boyhood”)
Edward Norton (“Birdman”)
Mark Ruffalo (“Foxcatcher”)
J.K. Simmons (Whiplash”)
Melhor minissérie ou filme para TV
“Fargo”
“The Missing”
“The normal heart”
“Olive Kitteridge”
“True detective”
Melhor atriz coadjuvante em série, minissérie ou filme para TV
Uzo Aduba (“Orange is the new black”)
Kathy Bates (“American horror story”)
Joanne Froggatt (“Downton Abbey”)
Allison Janney (“Mom”)
Michelle Monaghan (“True detective”)
Melhor ator em minissérie ou filme para a TV
Martin Freeman (“Fargo”)
Woody Harrelson (“True detective”)
Matthew McConaughey (“True detective”)
Mark Ruffalo (“The normal heart”)
Bob Thornton (“Fargo”)
Melhor atriz em série de TV – Comédia ou musical
Lena Dunham (“Girls”)
Edie Falco (“Nurse Jackie”)
Julia Louis-Dreyfus (“veep”)
Gina Rodriguez (“Jane the virgin”)
Taylor Schilling (“Orange is the new black”)
Melhor série de TV – Musical ou comédia
“Girls”
“Jane the virgin”
“Orange is the new black”
“Silicon valley”
“Transparent”
Melhor trilha original para filme
Johann Johannsson – “A teoria de tudo”
Alexandre Desplat – “O jogo da imitação”
Trent Reznor & Atticus Ross – “Garota exemplar”
Antonio Sanchez – “Birdman”
Hans Zimmer – “Interestelar”
Melhor canção original para filme
“Big Eyes” – “Big Eyes” (Lana Del Rey)
“Glory” – “Selma” (John Legend, COmmon)
“Mercy Is” – “Noé” (Patty SMith, Lenny kaye)
“Opportunity” – “Annie”
“Yellow Flicker Beat” – “Jogos Vorazes: A esperança – Parte 1” (Lorde)
Melhor ator coadjuvante em série, minissérie ou filme para a TV
Matt Bomer (“The normal heart”)
Alan Cumming (“The good wife”)
Colin Hanks (“Fargo”)
Bill Murray (“Olive Kitteridge”)
Jon Voight (“Ray Donovan”)
Melhor atriz coadjuvante
Patricia Arquette (“Boyhood”)
Jessica Chastain (“A Most Violent Year”)
Keira Knightley (“O jogo da imitação”)
Emma Stone (“Birdman”)
Meryl Streep (“Caminhos da floresta”)
Melhor atriz – Comédia ou musical
Amy Adams (“Grandes olhos”)
Emily Blunt (“Caminhos da floresta”)
Helen Mirren (“A 100 passos de um sonho”)
Julianne Moore (“Mapa para as estrelas”)
Quvenzhané Wallis (“Annie”)
Melhor filme de animação
“Operação Big Hero”
“Festa no céu”
“Os Boxtrolls”
“Uma aventura Lego”
“Como treinar seu dragão 2”
Melhor roteiro
Wes Anderson (“O grande hotel Budapeste”)
Gillyan Flinn (“Garota exemplar”)
Alejandro González Iñárritu (“Birdman”)
Richard Linklater (“Boyhood”)
Graham Moore (“O jogo da imitação”)
Melhor filme estrangeiro
“Força Maior” (Suécia)
“Gett” (Israel, Alemanha, França)
“Ida” (Polônia)
“Leviatã” (Rússia)
“Tangerines” (Estônia)
Melhor série de TV – Drama
“The affair”
“Downton Abbey”
“Game of thrones”
“The good wife”
“House of cards”
Melhor ator em série TV – Comédia ou musical
Louis C.K. (“Louie”)
Don Cheadle (“House of lies”)
Ricky Gervais (“Derek”)
William H. Macy (“Shameless”)
Jeffrey Tambor (“Transparent”)
Melhor atriz em minissérie ou filme para a TV
Maggie Gyllenhaal (“The honorable woman”)
Jessica Lange (“American horror story”)
Frances Mcdormand (“Olive Kitteridge”)
Frances O’Connor (“The missing”)
Allison Tolman (“Fargo”)
Melhor ator em série de TV – Drama
Clive Owen (“The Knick”)
Liev Schreiber (“Ray Donovan”)
Kevin Spacey (“House of cards”)
James Spader (“The blacklist”)
Dominic West (“The affair”)
Melhor diretor
Wes Anderson (“O grande hotel Budapeste”)
Ava Duvernay (“Selma”)
David Fincher (“Garota exemplar”)
Alejandro González Iñárritu (“Birdman”)
Richard Linklater (“Boyhood”)
Melhor atriz em série de TV – Drama
Claire Danes (“Homeland”)
Viola Davis (“How to get away with murder”)
Julianna Margulies (“The good wife”)
Ruth Wilson (“The affair”)
Robin Wright (“House of cards”)
Melhor ator – Comédia ou musical
Ralph Fiennes (“O grande hotel Budapeste”)
Michael Keaton (“Birdman”)
Bill Murray (“Um santo vizinho”)
Joaquin Phoenix (“Vício inerente”)
Christoph Waltz (“Big eyes”)
Melhor filme – Comédia ou musical
“Birdman”
“O grande hotel Budapeste”
“Caminhos da floresta”
“Pride
“Um santo vizinho”
Melhor atriz – Drama
Jennifer Aniston (“Cake”)
Felicity Jones (“A teoria de tudo”)
Julianne Moore (“Still Alice”)
Rosamund Pike (“Garota exemplar”)
Reese Witherspoon (“Livre”)
Melhor ator – Drama
Steve Carell (“Foxcatcher”)
Benedict Cumberbatch (“O jogo da imitação”)
Jake Gyllenhaal (“O abutre”)
David Oyelowo (“Selma”)
Eddie Redmayne (“A teoria de tudo”)
Melhor filme – Drama
“Boyhood”
“Foxcatcher”
“O jogo da imitação”
“Selma”
“A teoria de tudo”
Artigos relacionados