Globo confirma remake de “Vale Tudo”, porém das 9 regravações exibidas ultimamente, apenas 3 foram sucesso absoluto


A produção de remakes tem gerado intensa discussão entre internautas que criticam a suposta falta de criatividade e apontam que essas novas versões raramente superam as originais. A Globo investe em “Vale Tudo”, praticamente o terceiro remake consecutivo no horário nobre, o que evidencia o apelo ao fator nostalgia e a ausência de medalhões na escrita de novas novelas. Nos últimos 20 anos, a Globo e o SBT somados exibiram nove remakes, dos quais apenas três foram grandes sucessos, uma teve recepção morna e cinco foram fracassos. Exemplos de sucesso como “Ti-Ti-Ti” (2010) contrastam com fracassos como “Guerra dos Sexos” (2012) e “Vende-se um Véu de Noiva” (2009), ressaltando os riscos de apostar em remakes e a possibilidade de um eventual fracasso com “Vale Tudo” manchar a memória do clássico

Ao longo dos anos, a televisão brasileira produziu diversos remakes de novelas, com resultados variados. Nos últimos vinte anos, considerando apenas os horários típicos de novelas da Globo e uma novela do SBT, foram nove novelas exibidas. A elaboração de remakes tem gerado grande discussão atualmente, especialmente sobre se há algum excesso. Mas, das nove últimas novelas, apenas três foram grandes sucessos. Uma passou em brancas nuvens e cinco não se deram bem.

Ti-Ti-Ti” (2010), por exemplo,  repetiu o sucesso da versão original de 1985, ao combinar elementos de “Plumas e Paetês” (1980) para enriquecer sua narrativa. Em contraste, “Guerra dos Sexos” (2012) foi um retumbante fracasso, com discursos anacrônicos e problemas de adaptação que não conseguiram conquistar o público, apesar das atuações de Irene Ravache e Tony Ramos. Similarmente, “Vende-se um Véu de Noiva” (2009), tentativa do SBT de revisitar a obra de Janete Clair, também fracassou em termos de audiência e crítica, desestimulando a emissora a adaptar outras obras da autora. No caso de “Ti-Ti-Ti“, a reprise no “Vale a Pena Ver de Novo” não teve bons resultados. A análise desses exemplos evidencia os perigos de produzir remakes, como o receio de fracasso em um eventual remake de “Vale Tudo” (1988), um clássico cujo insucesso poderia manchar a memória de uma das mais icônicas produções da teledramaturgia brasileira.

Glória Pires foi Maria de Fátima na versão original de “Vale Tudo” (Foto: Arquivo/Globo)

SUCESSOS

Pantanal (2022)

A versão de 2022 de “Pantanal”, exibida pela TV Globo, foi um sucesso de audiência e crítica, quando optou por resgatar o clássico da teledramaturgia brasileira exibida em 1990 pela extinta TV Manchete. A trama, que tinha uma mulher-onça como protagonista, Juma (Alanis Guillen), conquistou uma nova geração de telespectadores, além de agradar os fãs da versão original – ainda que não tenha apelado para a nudez, como a trama original. A produção foi elogiada pela qualidade cinematográfica, cenários deslumbrantes e atuação do elenco, destacando nomes como Alanis Guillen e Jesuíta Barbosa, além de apresentar uma atmosfera nostálgica e envolvente. A novela gerou ampla repercussão nas redes sociais, consolidando-se como um dos maiores sucessos da televisão brasileira recente.

Juma (Alanis Guillen), a protagonista de “Pantanal” (Foto: Divulgação/Globo)

 

TI TI TI (2010)

O remake de “Ti-Ti-Ti” (2010), inspirado na trama original de 1985, repetiu o sucesso de seu antecessor, cativando uma nova geração de telespectadores. Esta nova versão incorporou elementos de “Plumas e Paetês” (1980), enriquecendo a narrativa com mais camadas e complexidade. Claudia Raia destacou-se brilhantemente com sua interpretação histriônica de Jaqueline, cuja personalidade excêntrica e vibrante tinha “Ilariê” como música-tema. Contudo, apesar do êxito inicial, a reprise no “Vale a Pena Ver de Novo” não obteve a mesma repercussão, resultando em índices de audiência abaixo das expectativas. Este contraste sublinha as mudanças no gosto do público ao longo do tempo e os desafios das reprises em um cenário televisivo em constante evolução.

Edgar (Caio Castro) e Marcela (Isis Valverde), foram os protagonistas de Tititi 2010 (Foto: Reprodução/Globo)

Paraíso (2009)

A novela “Paraíso”, exibida em 2009 pela TV Globo, marcou a estreia de Eriberto Leão e Nathalia Dill como protagonistas, trazendo frescor à teledramaturgia brasileira. Ambientada no interior, a trama envolveu o público com sua narrativa romântica e a busca espiritual de seus personagens. Cássia Kis destacou-se com uma atuação magistral, interpretando a beata Mariana. A produção, repleta de paisagens bucólicas e uma trilha sonora sertaneja, capturou a essência da vida rural. Apesar de seu sucesso inicial, “Paraíso” ainda não foi reprisada, permanecendo como uma joia rara não revisitada pela emissora. A novela continua a ser lembrada por sua combinação de talento emergente e veterano, consolidando-se como um capítulo memorável na história da televisão brasileira.

 

Nathalia Dill e Eriberto Leão em “Paraíso” (Foto: Acervo/Divulgação/Globo)

NA MÉDIA:

Éramos Seis (2019)

A novela “Éramos Seis”, exibida em 2019 pela TV Globo, conquistou elogios pela sua adaptação cuidadosa do romance homônimo de Maria José Dupré (1898-1984). Ambientada no início do século XX, a trama seguiu a trajetória da família Lemos, destacando a resiliência de Lola (Gloria Pires). A produção esmerou-se em detalhes históricos, cenografia e figurinos impecáveis, transportando o público para a época retratada. As atuações destacaram-se pela profundidade e autenticidade, através dos atores Antonio Calloni, Nicolas Prattes e Julia Stockler. Chamou a atenção também o encontro das três atrizes que viveram a personagem principal, nas duas outras versões da trama: Irene Ravache, em 1994, e Nicette Bruno (1933-2020), em 1977. Além disso, a trama foi a última a ser exibida completa em decorrência da pandemia e seus últimos capítulos sofreram ajustes por conta disso. A novela não foi um fracasso, nem sucesso. Só “existiu”.

Dona Lola (Gloria Pires) e Júlio (Antonio Calloni) e seus quatro filhos, na primeira fase de ‘Éramos Seis’: Xande Valois (Carlos), Pedro Sol (Alberto), Davi de Oliveira (Julinho) e Maju Lima (Isabel) (Foto: reprodução GShow)

FRACASSOS: 

Renascer (2024)

A novela “Renascer”, lançada em 2024 pela TV Globo, enfrentou uma repercussão positiva em sua primeira fase, mas uma decepção profunda na segunda. Ainda que tenha sido uma das campeãs de ação publicitária, esperava-se que ela repetisse o bom desempenho do remake de “Pantanal”, o que não aconteceu. A trama foi criticada pelo seu desenvolvimento lento, mas que não ofuscou o texto caprichado e a direção cuidadosa.

Apesar de bons desempenhos pontuais, como o de Irandhir Santos, Juan Paiva e Giullia Buscacio, “Renascer” chamou a atenção pelo retorno triunfal de Malu Mader às novelas. E só. Não gerou grande engajamento nas redes, e tem uma audiência média muito próxima a de “Travessia”, novela duramente criticada tanto por público como por crítica. A atual trama das nove esta com 25,5 pontos de média. Bastante próximo dos 24,1 da trama de Glória  Perez.

Malu Mader entrou em “Renascer” e gerou um burburinho que tirou a novela do marasmo (Foto: reprodução/Globo)

“Elas por Elas” (2023)

A novela “Elas por Elas”, exibida em 2023 pela TV Globo, não encontrou apoio em sua exibição. A trama, que buscava retratar a união de seis amigas, foi criticada por seu roteiro fraco, desenvolvimento inconsistente e elenco irregular. Destacaram-se nesta novela os atores Lázaro Ramos como Mário Fofoca, e os novatos Castorine, Rayssa Bratillieri e Filipe Bragança. A novela entrou para a história por ser a primeira a trazer uma atriz trans, Maria Clara Spinelli, como protagonista. A trilha de abertura, assim como a nova vinheta, também encontraram duras criticas. A versão antiga da trama está no Globoplay e encontra lá os seus admiradores. O remake acabou sendo visto como uma das decepções da teledramaturgia brasileira em 2023.

O elenco jovem de Elas por Elas (Foto: Divulgação/Globo)

Meu Pedacinho de Chão (2014)

A novela “Meu Pedacinho de Chão”, exibida em 2014 pela TV Globo, apresentou uma ousada estética de fábula infantil, que remetia à serie “Lazy Town”. era uma versão da obra original de 1971. A direção de Luiz Fernando Carvalho encantou com cenários coloridos e figurinos extravagantes, criando um universo onírico e fantasioso. A protagonista, interpretada por Bruna Linzmeyer, destacou-se com seu cabelo cor-de-rosa, simbolizando a inocência e o espírito vibrante da personagem. Apesar da aparência de conto de fadas, a novela abordou temas políticos e sociais, contrastando a simplicidade bucólica com questões de poder e justiça. Esta dualidade entre a estética encantadora e o discurso crítico, embora elogiada por sua originalidade e profundidade, não conseguiu conquistar a audiência esperada. A má recepção do público refletiu-se nos índices de audiência, tornando “Meu Pedacinho de Chão” um exemplo de inovação que não ressoou amplamente.

Irandhir Santos em “Meu Pedacinho de Chão” (foto: Divulgação/Globo)

Guerra dos Sexos (2012)

O remake da novela “Guerra dos Sexos” em 2012 foi um retumbante fracasso, marcado por discursos anacrônicos e uma trama que não conseguiu conquistar o público. A tentativa de atualizar o clássico de 1983 revelou-se um equívoco, não apenas pela abordagem antiquada das questões de gênero, mas também pela recepção negativa dos telespectadores. Mesmo com a atuação brilhante de Irene Ravache e Tony Ramos, a novela não conseguiu repetir o sucesso da versão original. A interferência da classificação indicativa, que exigiu que a personagem de Guilhermina Guinle parasse de fumar, evidenciou ainda mais as dificuldades de adaptar a obra aos novos tempos. Este remake acabou sendo uma prova de que nem sempre é possível replicar a magia do passado. Outro destaque é a participação de Carlos Alberto Ricelli, fora das novelas há muitos anos e cuja última novela inteira foi, justamente “Vale Tudo“.

Guerra dos Sexos em 2012. Irene Ravache e Tony Ramos foram os protagonistas. Conflito entre machões e feministas pareceu datado em 2012 (Foto: Divulgação/Globo)

Vende-se Um Véu de Noiva (2009)

O remake “Vende-se um Véu de Noiva”, produzido pelo SBT em 2009, revelou-se um fracasso absoluto, tanto em termos de audiência quanto de crítica. A tentativa de revisitar a obra de Janete Clair (1925-1983), adaptando sua novela original “Véu de Noiva” (1969), não conseguiu cativar o público. Com índices de audiência extremamente baixos, a novela passou praticamente despercebida, desestimulando o SBT a realizar outras adaptações das obras de Clair, mesmo possuindo os direitos para tanto. A recepção morna e a falta de engajamento resultaram em um desapontamento tanto para os fãs da autora quanto para a emissora. Os protagonistas eram Day Mesquita e Daniel Alvim e a média foi de 4 pontos.

Nando Rodrigues Thais Pacholek em “Vende-se um Véu de Noiva” (Foto: Divulgação/SBT)